Capítulo 13.

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Dois dias depois.

- Ainda está brigado com ela, cara? - Mob dá risada, a boca cheia de macarrão. - Se eu fosse você, aproveitava a deixa e começava a viver uma vida sexualmente ativa com diferentes tipos de boce... - Victor lhe desfere um tapa. Ele quase engasga, pedaços do macarrão saindo para fora da boca. Me pergunto se sua família não lhe ensinou modos.

- Não se atreva a terminar essa frase. Se você não ama ninguém, o problema é seu.

- Bom, pelo menos eu não morro de medo de que matem o amor da minha vida por minha causa. - ele resmunga, voltando a enfiar macarrão na boca.

Victor não lhe desfere outra agressão. Ficou quieto, de repente. Está olhando para Mob, seus olhos envoltos em um ódio profundo. Tudo o que faz é arrastar o prato, levantar e bater a cadeira de volta à mesa. Fica claro que o que Mob disse não o agradou. Ele se deu conta de que, a culpa por algo acontecer a Bárbara, pode ser dele, se isso um dia acontecer. Não posso discordar. De quem mais seria? A responsabilidade por se compromissar à ela, fora dele.

Mas é claro que, após tantos anos serenos e sem ameaças, talvez tenha se esquecido deste medo. Do medo de não voltar vivo. De não deixá-la viva, o que pode matá-lo também. Continuo mastigando.

- Pegou pesado, cara. - GS sussurra. Mob não liga. Ergue e abaixa os ombros, demonstrando pouca importância.

- Ele quis crescer para cima de mim, então lhe disse a verdade. Ninguém aqui pode discordar; se alguma coisa acontecer com a namoradinha dele, vai ser culpa dele. Se alguma coisa acontecer com as bocetas diferentes que como todo o dia, a culpa pode até ser minha, mas não vou me sentir culpado. Não criei nenhuma afetividade por elas. São apenas corpos, como os que morrem sem querer todos os dias em conflitos de máfias por aí. - paro de comer por um momento. Mob está americanizado demais. Está promíscuo, como a maioria dos norte-americanos.

- Certo, já entendi que você não se relacionaria seriamente com alguém por causa dos riscos.

- E você se relacionaria?

- Cara, você é o chefe do departamento de armas da Italian Blood. Victor cuida dos negócios e eu, dos jogos. Se não soubermos defender a pessoa que amamos então realmente somos fracos. Como acha que nascemos? Fomos frutos de um amor intenso o suficiente para que nossos pais não deixassem nada acontecer com as nossas velhas. Nossas mães morreram de velhice, nunca por um tiro. - diz GS.

É um bom argumento. Mas a cabeça da minha foi retirada, pelo meu pai. Ele matou seu corpo, embora sua alma já estivesse morta por causa dele.

Meu pai ia contra todos os princípios das máfias Italianas. Não priorizava la famiglia, do contrário dos pais de Mob e GS. Também vieram da Itália, mas de famílias amigas da minha e, certamente, diferentes. Provavelmente, os dois faziam todas as refeições com a família; meu pai repudiava tal ato.

Fechavam os olhos, rezavam antes de comer e após, porque a fé com nossos santos catolicistas era priorizada. Iam à igreja, faziam preces a São Francisco, foram ensinados a fazer caças, a típica tradição com membros masculinos da família.

Sei disso porque meus avós me levavam. Na igreja, à caça, nos jantarem de uma família onde todos já se foram. Transformei o colar que me deram em uma pulseira, a única cruz em um pingente.

Meu pai não acreditava em religião alguma. Odiava familiares distantes, tradições ou quaisquer destas coisas.

- Tá, mas se isso um dia acontecer, espero estar bem velho e ter comido muitas b...

- O que sua avó acharia se estivesse despejando este termo na mesa de jantar, em? - GS o ameaça, e Mob interrompe sua outra garfada, atarantado.

- Não ouse. A velha está meio surda, mas certamente ouviria o termo a mil quilômetros de distância dela. - ele ri, de repente. - Cara, até que estou com saudade daquela ranzinza. Não morre por nada, finalmente a Rainha Elizabeth tem uma adversária à altura mesmo estando debaixo da terra. - os dois dão risada. - E ela diria que estou sendo um depravado, pulando de cama em cama mas nunca encontrando uma fiel para estar comigo até o fim. Agora fiquei me sentindo meio culpado. Acho que preciso da cama de alguém para aliviar essa pressão. - ele gargalha, e GS balança a cabeça.

- Acho que você deveria pedir suas humildes desculpas a Victor. Talvez você tenha desencadeado um término.

Mob ajeita os ombros, o semblante se tornando severo.

- Ei, espera aí. Eu disse aquilo para justificar minha não-relação com as mulheres, mas não no intuito de fazê-lo terminar com a baixinha. Aquela coisa é a vida dele, não sei o que ele se tornaria sem ela. - ele pensa. GS o deixa em silêncio, apenas para que sinta o peso da culpa. Então Mob se levanta, andando rápido. O som de seus passos percorre as escadas, indicando que vai ao quarto dele. GS dá um leve riso.

- Ele é mole no fundo, viu? - toma um gole de suco. Me observa, sem desviar os olhos. Volto minha atenção ao prato. Não é à toa que comanda nossos negócios em jogos de azar. Ele é um especialista. Esconde e revela emoções quando necessário. É sorrateiro. Se esconde por baixo da capa de simpatia. Por vezes sabe, mas não revela. Eu o venero por ter a mesma tática que eu. - E você, nenhuma mulher ainda? - questiona. Sou seu parque de diversões. Sua interação. O X da equação que tenta solucionar a anos. Pareço ser seu passatempo.

- Nunca. - sussurro.

- Nã, nunca diga nunca. Sempre há algo ou alguém que nos deixa mole. Infelizmente, o mundo é cheio de fraquezas e você sabe disso. Só pensa que não se renderá a nenhuma delas. - ele se recosta na cadeira. - Até eu sei que um dia pode ser que aconteça. Não posso fazer nada a respeito para impedir, porque é algo... que vem. De repente, está lá. - ele relaxa, refletindo. Fios loiros piscam em minha visão, mas eu os afasto. - Em fim. - se levanta, terminando o copo. - Agradeça Luci, o macarrão estava uma delícia. - e some pelo corredor.

Mantenho-me parado, a fome se desfazendo.

A mesa fica em silêncio, sem gemidos de satisfação. Sem dedos cheio de molho de tomate sendo chupados, ou doces pedidos de repetição irrecusáveis. Sem olhos esverdeados, curiosos, sábios. Sem cheiro exótico ou uma proximidade perigosa. Sem corpo esculpido nenhum debruçado em meu sofá. Sem bela adormecida e seu ronco baixinho. Sem o calor de abraços, o molhadinho de beijos.

E de repente... está lá.

Levanto-me da mesa. Vou até a entrada e ordeno a um dos homens que me tragam Jonas. Ele se projeta em menos de um minuto. Observo por cima do ombro, para ver se Victor não está nas proximidades. Não lhe interessa o que farei, de qualquer maneira. Viro-me outra vez para Jonas.

- Se lembra de onde levou a loira, não lembra?

Mesmo que não possa, seu semblante hesita por um instante.

- Sei, sim, senhor.

Ajeito as mangas da camisa, distraidamente.

- Ótimo.

Medicine | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora