A barca chega dez minutos depois. Carolina acabou cedendo. Há inúmeros sushis ao meio. Ela está com os olhos brilhantes quando a mulher arrasta o objeto ao meio da mesa. Sei que gemerá em satisfação em breve. Ajeito-me, preparando-me para o show.
- Muito obrigada, moça. - ela agradece.
- De nada, tenham um bom... - a mulher faz uma pausa longa. - ... apetite.
Quando vai embora, Carolina olha de soslaio para mim, as sobrancelhas erguidas e um sorrisinho.
- Acho que ela deu em cima de você, em. - sussurra ela.
Quase lhe olho com desprezo.
- E?
- Ah, só achei que ela pudesse te interessar. - diz.
Achou errado. Tampouco dirigi meu olhar a ela. Nada e nem ninguém me interessa. Bom, exceto os gemidos e sorrisos de Carolina. Que deveria estar soltando. Tenho sonhado acordado com eles e, não seria saudável que eu continuasse. Precisava ouvi-los pessoalmente, outra vez.
- Bom, você não vai comer? Foi você quem pagou. - diz, hesitante. No entanto, quando me vê parado e esperando que coma, desiste.
Ela equilibra os dois palitinhos nos dedos. Os fecha em um sushi e, em seguida, come, esquecendo tudo ao redor.
- Ai... Deus, que delícia. - geme. Minha barriga esquenta. Ela pega o vidro do shoyu, o despeja em um potinho. Mergulha outro sushi e o enfia na boca. Fecha os olhos e balança a cabeça. - Que gostoso. - ela os abre, corando quando me vê a observando. Seus olhos esverdeados me fazem esquentar. - Vai, prova. Você tem que provar. Tá uma delícia e eu me recuso a comer a maior parte disso aqui sendo que você gastou mais de duzentos reais.
Não precisaria. Poderia passar fome, se fosse para vê-la satisfeita desta forma. Olho para os palitos. Os pego na mão, mas olho para a dela. Não deve ser difícil seguir a posição de seus dedos.
- Você não sabe usar? Ah, eu te ensino. - ela se levanta.
Começa a arrastar a cadeira para o meu lado. Quando se senta, seu corpo está perigosamente perto. Seu cheiro começa a se infiltrar no ambiente. Em minha mente, quase dopando-me. As cadeiras estão quase grudadas, e ela roça seu braço ao meu quando se inclina. Sou coberto de calor. No entanto, ela consegue piorar. Sua mão cobre a minha. Dedos delicados. Macios. Sua pele lisa contra a minha tatuada. Suavidade contra asperidade.
Um fio se liga, da ponta de seus dedos até os dedos do meu pé.
- Aqui. Você coloca um palito por baixo desse... e outro por cima desse daqui. - ela move os palitinhos. Sua voz é baixinha, mas como águas cristalinas. Clara, suave. - Pronto, agora é só manusear. - ela faz com o dela. - No começo é meio desajeitado, mas aí você vai pegando jeito e consegue fazer certo. Isso aqui veio de inúmeros yakisobas baratos e de cozimento duvidosos. - ela sorri. Fico desorientado.
Uso os palitos da maneira que ensinou. Recolho um sushi, e o ponho na boca. Percebo-a acompanhando minha mandíbula.
- Gostou?
- Não é tão ruim.
Ela dá risada. O som de perto é mais gostoso ainda.
- Sei. Vocês não devem ser acostumados a comer sushis... Italianos, quero dizer.
- Não comia. Até chegar aqui.
- Bom, do jeito que você diz, a impressão que dá é que vocês só comem macarrão e pizza.
- Não. Não comemos só isso. No entanto, são os pratos mais típicos. - ela fica em silêncio, os olhos voltados para mim. Esperando que eu diga mais. - É como comer hambúrguer aqui. É um dos pratos mais consumidos. Mas há outros que comemos também. Ravioli, lasagna, risotto, bucatini all'amatriciana, arancino, bistecca alla fiorentina, polpettone, cotoletta alla milanese, gellato, struffoli, tiramisú, olive ascolane... se disser a Luci qualquer um destes, ela saberá fazer. Muito melhor que muitos restaurantes daqui, que acham que sabem reproduzir comidas da Itália. - ela ri outra vez, seus olhos ainda atentos a mim.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."