Capítulo 54.

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[...]

Não sei o estado mental de minha cabeça.

Ouço coisas. No entanto, não tenho forças para me mover.

Ouço sussurros. Movimentações abafadas.

Pequenos pedaços de acontecimentos de horas atrás. Ou minutos. Não tenho certeza. Não obtenho notícias do tempo. Índices de onde estou. É um mundo paralelo. Um buraco estranho do tempo. Não consigo identificar pessoas ao redor. A única voz que ouço é a dela. A única pessoa que sinto é ela. Pequenos momentos em que Carolina fala. Sussurra baixinho.

Me toca. Mantém minha mente sã. Meu corpo quente. Estou sentindo sua mão em meu cabelo agora. O toque produz uma onda de calor por meu corpo. Ela pronuncia algo. Faço esforço para ouvi-la.

-... bem?

Outra voz preenche o espaço. No entanto, desconhecida.

- Está. O tempo do desmaio pode variar significativamente, e depende de vários fatores. Como o caso dele foi uma inalação de fumaça tóxica, essas substâncias geraram no corpo dele uma certa contaminação. Provavelmente o corpo dele ainda está processando o oxigênio, para acordar e decidir que não está mais em perigo. Pode acordar a qualquer momento. Mas... foram outros fatores, também. Ele faz muito esforço físico com frequência? Parece que fez um esforço anormal para o corpo dele.

Ouço a respiração de Carol. Quero que respire perto de mim.

- Bem... ele fez bastante, neste... acidente que aconteceu.

- Deve ter feito, mesmo. - a sala se mantém em silêncio. Até que a voz masculina pronuncia outra vez: - As batidas do coração dele aumentam quando você toca nele. Provavelmente ele deve estar consciente agora. - Carolina continua, afundando os dedos entre meu cabelo. Meus órgãos se aquecem. Quero pedir que chegue mais perto. Quero implorar. Não sei por quanto tempo ela continua a me tocar.

Sei apenas que apago outra vez, no embalo aquecido do calor dela.

Abro os olhos.

Os fecho.

Abro outra vez, piscando para um teto escuro.

Raciocino os últimos acontecimentos de que me lembro. Carolina. Carolina. Tento mover o corpo. Não consigo. Está mais fraco que o normal. Abaixo dele, há algo acolchoado. Uma cama. No entanto, reconheço meu quarto. Sei que não estou dentro dele. Minha consciência ainda está sendo recobrada. Retomo últimas lembranças. Só consigo lembrar em... Carolina. Cheiro de queimado. Carolina. Pânico. Medo.

E então, lembro-me de que apaguei. Lembro-me de que iria tirar Carolina do prédio. Após retirá-la, chacinaria todos os homens de Billie. Incluindo-o também. Lembro-me das vozes que ouvi, enquanto estava desmaiado.

É um hospital.

Desço o olhar. A sala está coberta pela escuridão. A janela, ligeiramente entreaberta. As cortinas balançam. Um vento frio se espalha pelo local. Um sofá à esquerda. Uma cômoda à direita. Um aparelho. Outro sofá, e... ela.

Meu corpo solta a tensão. Respiro fundo. Profundamente. Como se oxigênio retornasse. Carolina está debruçada no sofá. Linda. Seus olhos estão fechados. Os lábios, ligeiramente entreabertos, indicando que está dormindo. Adormecida, como um anjo. Paro, para apreciar a imagem. Há um pequeno curativo em sua bochecha. Seu cabelo está preso em um coque.

- Carolina. - eu a chamo. Minha voz sai rouca. Ela apenas se move, sonolenta. - Mio dolce. - chamo outra vez, pisca levemente. Abre os olhos, um tantinho, embriagados de sono. Pisca de leve. Os coça, até olhar para mim. Ela puxa o ar com força, e quase tropeça ao levantar.

- Crusher?! - se levanta do sofá e corre até mim.

Suas mão envolvem meu rosto, e eu ofego. Derreto-me. Embalo-me no quente da pele dela. E é tudo de que preciso. Suas mãos macias, esquentando meu rosto. Meu corpo treme em alívio. Minhas mãos se erguem, trêmulas. Pousam acima das dela. A pressionam mais contra meu rosto. Beijo a palma de sua mão. Meu corpo treme outra vez. Se contrai, e minha garganta se aperta. Está aqui. Ela está aqui.

- Você tá bem? - sussurra baixinho. - Meu Deus, eu fiquei... - seus lábios tremulam, e ela soluça. Seus olhos transbordam em lágrimas, e ergo minhas mãos. Envolvo-as na bochecha dela, secando a infinidade de lágrimas que deslizam por sua bochecha. - Fiquei tão preocupada, Crusher. Achei que você tinha... achei que tinha morrido. - balanço a cabeça. Ela chora mais. Ergo a coberta, ordenando que se deite comigo, ou caso contrário me matará sem o calor dela. Ela funga, olha para trás e faz menção de se afastar.

Agarro sua mão, em desespero.

- Vou só ir ali pegar sua coberta que eu trouxe de casa.

De casa. Relaxo os dedos. Ela vai até lá e volta.

Se senta, espalha a coberta acima de nossos corpos. Ajeita a outra, e seu corpo se deita ao meu lado. Seu calor me contorna, e eu a puxo para mais perto. Ela pressiona nossos corpos. Os gruda. Peças moldadas para se encaixarem. Peito com peito. Barriga com barriga. Pernas entrelaças. Sinto uma onda de energia me devastar. Pouso minha mão acima de sua bochecha outra vez.

Ela continua a chorar, baixinho. Seus olhos piscam, assustados.

- Não me afasta de você de novo. Nunca mais! Muito menos agora!

- Eu lhe coloquei em perigo, mio dolce...

- Não me importa!

- Importa pra mim. - murmuro, tentando manter a voz firme. Há um nó em minha garganta. Não produzo lágrimas a anos. No entanto, estou prestes a sentir os olhos arderem. - Importou cada segundo que quase morri por achar que você morreria, Carolina. Não é apenas por isto que deve se afastar. Mas é um dos motivos. Lhe colocar em perigo. Eu... - envolvo sua bochecha, colo nossas testas e mergulho em seus olhos lindos. - Não suportaria respirar. Não suportaria andar. Não suportaria existir, se algo houvesse acontecido a você, mio dolce. Disonore. É assim que chamamos "desonra" em Italiano... É uma desonra se sacrificar a algo que não seja sua máfia. - o esverdeado de seus olhos me suga. - Você me tornou desonroso, Carolina Marzin. E um desonroso sem remorso algum.

Ela me beija. Nossos lábios se encontram, e sequer puxo ar.

Mergulho em sua boca, perdido. Seu gosto explode meu interior em ondas de calor, desejo, uma paixão que se funde em meus ossos. O tempo para. Se arrasta com lentidão, e quero manter-me preso a este momento. Ao provar lento de nossos lábios. Ao afogar da minha língua no gosto dela, no gosto que quase morri sem. Quero seu gosto gravado em minha boca.

Meu gemido vibra entre nossos lábios, e fico em êxtase. Perdido. Perdido entre os ruídos da delícia do beijo.

Perdido nela. Perdido no que sinto por ela, algo intenso demais para que eu evite. Cada centímetro meu se derrete. Derrete na lentidão com que nossas línguas se provam. Se deslizam, a textura da dela enlouquecendo-me. Seu ofego contra o meu, nossas respirações quentes se unindo. Suas mãos estão afundadas em meu cabelo. Envolvo as minhas em sua cintura, a prensando mais em meu corpo.

Ela está aqui. Está aqui, e não quero que saia nunca mais. Não quero que se afaste de mim. Não quero afastar-me dela outra vez. Quero-a perto. Quero-a em mim. Quero-a ao meu redor. Dentro de mim. Moldo nossos lábios, uma bagunça quente que estremece meu corpo em calor. Só preciso disso. Dela, só preciso dela. Eu... ah, porra.

Ela é minha destruição. Vai me devastar. Vai devastar cada pedaço de mim. Quero que devaste.

Medicine | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora