- Nunca vai superar a morte dele? - pronuncio. - Seu pai morreu à anos atrás, Billie. - murmuro, solenemente. - Já era hora de enxugar as lágrimas e agir feito adulto. Em vez disso, parece agir feito uma criança. Queixando-se de sua morte quando é mais conveniente aceitá-la. Aceitar que meu pai o matou. Aceitar que não tenho nada a ver com o conflito dos dois, de dez anos atrás. - murmuro. - Já era hora de fazer o mínimo de esforço para retomar sua máfia. Não precisar se espelhar, como uma sombra, em máfias maiores que a sua. Não se concentrar no que continuei conquistando, e passar a se importar com o que você conquista.
Ele vai pronunciar algo, mas o interrompo:
- Mas... entendo. Americanos são assim. Birrentos. Quando não conseguem o que querem, choram. Esperneiam.
Ouço o barulho da arma sendo carregada, segundos antes de desviar do tiro de Billie.
A bala é a abertura para o descontrole.
Billie perde a paciência. Saca a arma outra vez. Tenta atirar. No entanto, agarro-a e levanto sua mão, mirando para cima. A bala atinge o ar. Atinjo seu queixo com o cotovelo e agarro sua cabeça. A amasso contra a parede, e Billie geme. Olho para trás, dando o sinal a Augusto, que estava aguardando pacientemente o caos se instalar.
Ele entende. Várias outras balas passam a estalar ao redor. Volto a dar atenção à Billie. Deixo os sentimentos transbordarem outra vez. Bato sua cabeça contra a parede, e ele geme mais. Bato outra vez. Quero lhe causar um traumatismo craniano.
- Onde. Ela. Está. - intensifico o aperto, tentado a ouvir seu crânio se quebrar. Ele tenta sacar a arma outra vez, mas imobilizo seu braço. Torço-o e agarro a arma. Estou prestes a matá-lo, mas paro. Afrouxo o aperto. Não posso deixar que o ódio me consuma. Não mais do que já consumiu. Eu o solto. Não pretendo matá-lo. Não ainda. Entro pela porta do prédio pequeno.
Começo a subir as escadas, quando sinto um puxão no pé.
Meu corpo cai dentre os degraus, e Billie tenta atirar, mas desvio da bala outra vez. Movo a cabeça para o lado. Chuto seu calcanhar. Não para derrubá-lo, mas para desestabilizá-lo. Com o outro pé, chuto seu joelho e ele cai no chão. Ergo-me outra vez. Tento subir as escadas. Sinto uma mão agarrar meu pé. Minha paciência se esvai outra vez.
Dou um chute tão forte em seu rosto que o sangue jorra, quase que imediatamente. Billie geme, e estou indo para o segundo lance de escadas, quando ele grita. Dois de seus homens barram os degraus. Desvio da bala de um deles. Agarro a arma nas mãos e bato o cano contra a cabeça de um. Uso-a para atirar no outro. Continuo subindo.
Olho para trás, vendo cerca de cinco homens subindo as escadas. Posiciono a arma e começo a atirar. Ouço um ruído no ouvido direito, e aperto o dispositivo com o indicador. Minha mão treme.
- Encontrou ela? - diz que sim.
Atiro na última cabeça que não atingi.
- Sim, mas será difícil para você chegar até ela, chefe. - Mob murmura. - Tem muitos homens aí. E ela está no topo do prédio, na cobertura, com três dos capangas de Billie.
Viro-me para continuar a subir.
Três outros homens aparecem, e tento atirar. No entanto, a bala acaba. Largo-a no chão. Agarro a cabeça de um e a bato contra a parede. Sinto mãos agarrarem meus ombros, braços cercarem meu pescoço, mas impulsiono-me para a frente. Bato as costas do homem no chão. Uso o corrimão para fazer impulso. Chuto o rosto do último, fazendo-o se desequilibrar.
O corpo cai por trás do corrimão, e o homem voa até o chão do térreo. Quando coloco outro pé ao degrau, sinto outro puxão. Desta vez, minha cabeça vai para trás e levo um soco. Não apenas um. Outro é desferido em meu estômago. Duas mãos envolvem meu pescoço. Com força. Deixo de respirar.
- Vou tirar tudo de importante em sua vida, Ramos. - Billie murmura, o rosto coberto os sangue. Os mesmos olhos de seu pai. Os mesmos olhos da cabeça que meu pai um dia arrancou. - Vou matar sua loirinha, e depois acabar com sua máfia. E eu o quero vivo, quero saborear cada expressão sua quando eu tomar sua máfia para mim. - afundo o joelho entre suas pernas. Com força.
Billie geme, e o momento me permite empurrá-lo. Suas mãos soltam meu pescoço. Ele se desequilibra, caindo pelas escadas, o corpo rolando. Continuo subindo. Três degraus por vez. O último lance. O último lance, e ela... grita. Ela grita. Ouço o grito de Carolina, e minhas passadas aumentam. O pânico cresce; um tumor de terror consumindo-me por dentro.
Minha visão borra. Minhas pernas queimam.
Quando finalmente chego ao último andar, eu a vejo.
Um pedaço de mim destenciona. Ela está tentando se desvencilhar dos braços de homens. Quando vira o rosto, no entanto, perco a respiração. O controle. Perco a cabeça. Perco a noção. Perco a porra do raciocínio. Está machucada. Seu rosto há vários cortes, manchados de sangue, e a pele ao redor de seus braços está roxa. Fico cego.
Incontáveis sensações me corroem por dentro. Começo a correr. Por alguma razão, Carolina balança a cabeça, desesperada.
- Não! Não, Crusher, não! Não vem aqui!
Ouço um bipe. Baixinho, mas reconhecível. Não consigo afastar-me o suficiente até que a bomba exploda. Tudo ocorre em câmera lenta. O som detona meus ouvidos. Ondas de choque estraçalham janelas. Chamas explodem e expandem. Algo queima minha pele. Arde. Minha respiração passa a arder. Pedaços do piso se fragmentam, são jogados para todo o lado, e um vidro se finca em meu braço. Uma armadilha.
Demoro a recuperar a visão. Os sentidos. Cada pedaço de pele meu queima.
Uma névoa embaça qualquer coisa que eu queira ver. Carolina. Aperto os olhos. Meu corpo lateja ao tentar levantar. Mas levanto-me. Levanto-me por ela, apenas por ela, porque não sei o que farei... não sei o que farei se ela... perco o ar. Não. Não, não, não...
Minhas mãos tremem. Meu interior treme. Treme em pânico. Treme no mais puro horror de tentar, mas não conseguir vê-la. A constatação me atinge como um chumbo no peito. Dói. Sou perfurado por mil agulhas internas. Nunca. Nunca senti tanta dor, e a sensação desconhecida me destrói.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."