- Hmmmm, o cheiro tá tão bom... - ela move uma das mãos sob a panela. - Posso experimentar um pouquinho? Por favor?
- Não.
- Por que não?!
- Porque só vai experimentar quando estiver pronto. - ela grunhe.
- Ah, mas é só eu lamber a colher quando você não estiver vendo.
- Lambe pra ver o que acontece.
- Isso foi uma ameaça? - ela sorri, boquiaberta.
- Foi. Desliga e venha aqui. - ela obedece. - Sabe montar uma lasanha?
- Só sei comer uma lasanha, Crusher. Você ainda não entendeu isso?
Balanço a cabeça, reprovando.
- Molho, massa, presunto e queijo. É esta a ordem.
- Tá. - ela pega panela, usando uma colcha para derramar o molho na forma primeiro. Suspira, meio trêmula. - Bom, mas com você nas minhas costas é meio difícil não ficar nervosa fazendo isso, né? - troco de lugar, colocando-me em sua frente no balcão. Dou a volta e sento-me em um dos bancos.
Observo suas mãos, pegando agora o presunto e o queijo. Sua pele do pescoço, da clavícula... os seios pequenos marcando o tecido e o shortinho minúsculo. O que eu faria... engulo a quentura que desce fervendo em meu peito. O que eu faria com essa garota contra o balcão... Ela olha em meus olhos, alternando entre eles e a lasanha. Respira fundo, e então começa a rir.
- Você também me deixa nervosa na sua frente. - apoio o rosto na mão antes de murmurar:
- Te deixo nervosa de todas as formas? - a resposta sai na colcha, que ela deixa derrubar dentro da forma. O molho espirra um pouquinho em sua roupa, mas ela parece não se importar. Sorri e volta, agora colocando a massa.
- Bom, caso você não saiba, é um homem de cerca de um e oitenta de altura e com olhos intimidantes. É inevitável. - quase lhe pergunto se minha vontade de beijá-la também é inevitável. Poderia ser evitável.
As coisas seriam menos torturantes. Não estaria querendo pegar a boca dela para a minha agora mesmo. Sentir seu corpo coladinho no meu. Quente, macio, pedindo para que eu o mordisque inteiro. Não estaria querendo passar a língua pela gotinha de molho em seu pescoço.
Ela suspira outra vez, olhando para mim. Será que sente? A tensão no ar? A necessidade pesada de desfazer a distância? A crepitação do meu corpo desejando o dela? Levanto-me do banco.
Dou a volta outra vez. Paro ao lado dela. Seu calor cobre minha pele, com lentidão. Quando nossos braços se colam, ela ofega. Recebo a resposta. O que me deixa mais aflito. Aflito por suprir o desejo dela. Ainda que não saiba se é de fato. A ajudo a montar a lasanha.
A cada roçar dos nossos braços, meu corpo pede mais. Quando acabamos, recolho a forma.
A coloco no fundo do forno. Quando levanto, dou de cara com Carolina com a panela inclinada. Uma mão segura a borda e a outra inclina um dedo. E ela olha para mim, provocando, passando a ponta do indicador lá dentro, saindo com o molho no dedo e o chupando. Me desobedecendo.
Os lábios o envolvem e soltam. Meu interior fervilha com o barulhinho.
- E aí? Quero ver o que você vai fazer agor... ah! - avanço para cima dela, afundando os dedos em sua barriga e a fazendo se contorcer, desesperada. Ela solta a panela na bancada e começa a surtar. - Não! Não, não, não! Socorrooooo... - dá risada, e quando tenta escapar dos meus dedos eu a puxo.
Mas se desvencilha com os braços, começando a correr. Consigo agarrar seu pescoço e a trazer para mim. Seu corpo tromba com o meu. A jogo no sofá e subo, a fazendo começar a gritar. Faço mais cosquinha. Os gritos se transformam em gargalhadas. Ela ri tanto que, em determinado momento, nem solta som. Tenta se virar e agarrar o braço do sofá, ofegante.
- Não, por favooor!
Começa a se remexer. Finjo que fico fraco. Ela sai do sofá às pressas. Sai correndo, e quando olha para trás corre mais rápido ainda. Quando quase a alcanço de novo, ela entra em um quarto e fecha a porta, dando risada.
- Crusher, me desculpa! Por favor! - fico em silêncio. - Vai, promete que quando eu sair daqui não vai me fazer mais cosquinha. - continuo sem dizer nada. - Que idiota, até parece que somos duas crianças. Vai, quando eu sair você não vai mais me fazer cosquinha. Ouviu? Crusher? - ela fica em silêncio. Espera um minuto passar, até começar a abrir a porta. Aproveito a brecha para empurrá-la, e Carolina grita de susto. - Merda, eu sabia. - a empurro na cama, e ela começa a gargalhar outra vez. - Não! Por favooooooor... minha barriga está doendo! - tiro os dedos dela.
Ela tenta recuperar o fôlego, ainda rindo.
- Seu chato.
Sinto algo subindo por meu estômago. Algo engraçado. Gracioso. A intensidade é tanta que contrai minha barriga. De maneira súbita. Sorrio. Solto um som. Uma risada. Dou risada, e o som enche o quarto, da mesma forma que enche minha consciência.
De que eu não dou risada. Carolina desfaz o sorriso dela. Volta a sorrir e, logo, a risada dela cobre a minha. Se transforma em uma gargalhada... e a minha também. Minha barriga chega a doer.
Quando paro, a consequência cobre meu corpo. Meu sorriso some. Me afasto dela, lentamente.
- Eu...
- Com licença, voc...? Oh! - Luci se esconde. - Me perdoe se atrapalhei algo, é que... escutei uns gritos do andar de cima. - ela pergunta, na porta.
- Ah, não foi nada, Luci! Só eu e minha risada escandalosa.
- Ah, sim. Só para saber mesmo... - ela volta a aparecer, segurando um sorriso. Olha de mim para Carolina, com algum brilho diferente ao olhar. - Eu... eu preciso tirar a lasanha do forno, Sr. Ramos?
- Não. Vou lembrar de tirar. Grazie.
- Certo. Boas... risadas a vocês. - ela solta o sorriso e sai andando. Ficamos em silêncio. Até cada um falar algo:
- Você quer...
- Bom, eu vou... - ela para de falar. - Eu quero...?
- Não, pode ir para onde ia.
- Mas eu quero!
- Quer o quê?
- Sei lá, seja lá o que você fosse falar eu ia querer. Quer dizer, geralmente eu ia.
Seguro um sorriso.
- Ia falar para passearmos com o Turmalina no jardim.
- Claro! Só vou colocar uma blusa.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."