Ela tem razão. Já fiz demais por ela. O que me assusta, é que eu faria mais. Muito mais. Assinto com a cabeça. Ela pode visitá-lo, quando quiser.
O carro vai parando, assim que a pista se transforma em uma estrada de terra. Paramos em frente a dois homens, com armas longas. Um deles vai até a janela.
- Posso saber quem são?
- Somos da IB. Viemos checar como estão as coisas. - Victor responde.
- Ele os mandou para cá? - o homem questiona. - Da Italian Blood, só podemos aceitar os que ele nos comunicou que viriam.
Meu corpo enrijece.
- Ele quem? - pergunto.
O questionamento é ignorado. Os dois se entreolham, e é quando as coisas desabam outra vez. Um aponta a arma em nossa direção, o outro saca um rádio comunicador. Eu e Augusto nos entreolhamos.
Ajo rápido, abrindo a porta e chutando os joelhos do que estava prestes a comunicar alguém. Antes que grite, afundo um soco em seu rosto, o fazendo apagar no chão.
- Porta-malas, Mob. - ele sai da vã, abrindo a parte de trás. Arrasto o corpo até lá. Victor arrasta o outro. Fecha a porta, e então me encara. - Ajam como se estivéssemos sabendo de tudo.
- Estou quase vomitando por entrar neste lugar, mas tudo bem. - Victor murmura.
- Vamos precisar atirar? - Mob pergunta.
- Não. Evite confusões e tiros. Não saia de perto do carro e, se alguém perguntar, diga que está comigo.
- Tá. - ele responde.
O carro volta a entrar no local. O céu começa a amanhecer, anunciando passar das quatro da manhã. No entanto, não existe hora no Galpão.
Mesmo neste horário, o fluxo de caminhões e vans é cheio. O espaço aberto é uma bagunça de gritos. Homens descem de transportes, abrem portas, tiram garotas seminuas à força. Batem nas que relutam, esbravejam com as que insistem em gritar. Vejo um apontando uma arma para uma delas.
Tampo os olhos de Carolina, no momento em que ele atira. O corpo cai no chão, coberto de sangue.
A maioria mal consegue andar, mas, para eles não importa. Nada que um chute ou um tapa nas costas não resolva. Uma agonia rasga meu peito. É bizarro. Algo horrível e bizarro. Temos que parar inúmeras vezes, para permitir a passagem de filas de mulheres.
São marcadas com números no pescoço, ou papéis colados nas costas. Carolina começa a tremer, tampar a boca e apertar meu pulso. Ela afunda o rosto em meu braço, e sinto um peso ruim no peito. Não devia ter a levado.
Aperto sua outra mão de volta.
Victor respira fundo, o rosto coberto por aflição.
- Feche os olhos, Babi.
Quando o carro para ao lado do Galpão, enorme em sua extensão, me viro para Carolina.
- Fique aqui.
Ela faz que sim.
Victor sai do carro, e espero os outros dois saírem da van. Eles saem, relutantes. Mob para ao meu lado com uma careta.
- Porra. É pior do que minha avó me falava.
- Pior do que qualquer coisa é acharem que fazemos parte desse tipo de coisa. Que assinamos e concordamos com essa desgraça que chamam de "negócio". - GS murmura. - Vamos ver logo quem é o fodido que fez isso.
Dez minutos depois, atravessamos o galpão inteiro. Subo três lances das escadas ao final dele. Há uma porta no segundo andar. Lembro-me de ser da gestão. Vim aqui apenas uma única vez, para tirar o nome da Italian Blood de dentro do Galpão. Mas ao que parece, ou não entenderam, ou então há alguém assinando por mim.
Um homem me para em frente a porta.
- Posso perguntar quem são?
Estou perdendo a paciência. O que não é bom. Nunca foi.
- Crusher. Italian Blood.
Ele fica rígido. Seus olhos se tornam preocupação. Fica claro que sabem de algo que não sei. Que eu não deveria estar aqui. Que permitiram minha passagem, embora não pudessem. Observo sua mão agarrado o rádio comunicador. Não tenho tempo de pensar.
Prenso seu pescoço na parede com um dos braços, dando-lhe minha pior expressão. Meu pior lado. O lado em que acredito ser o mais próximo a ele.
Meus olhos deixam de ser intimidantes e se tornam psicopatios. Ele percebe a mudança. Fica amedrontado.
- Ou me deixa passar, ou depois de explodir sua cabeça explodo este lugar a tiros. Já explodi um a menos de uma hora atrás e embora esteja exausto, posso muito bem acabar com este com o maior prazer do mundo. - ele está de olhos arregalados.
Seu corpo treme, e ele faz que sim. Sem hesitar ou questionar, abre a porta do local. Saio andando a passos largos, meu interior paciente se desmoronando. Paro quando entro em uma sala, um cara barbudo rodeado por papéis. Não lembro seu nome. Não é de minha importância. Não quero saber.
Agarro sua roupa e o puxo contra a mesa. Os papéis caem, e a mesa se move com o estrondo. Ele fica confuso.
- Quem?
- Q-quem... quem o quê?! Quem são voc...
- Italian Blood. Quem?
Ele arregala os olhos. Cinco segundos se passam. Ele não pronuncia nada e, então, tenta sacar uma arma. A agarro em sua cintura. Bato sua cabeça contra a mesa, o baque quase a quebrando no meio. Enfio o cano da arma em sua boca. Luto contra a raiva.
- Vou te matar se não me disser quem está usando o nome da minha máfia, para continuar lucrando com este lugar, sendo que vim aqui à anos e deixei claro que não me envolveria mais com o Galpão. - ele tenta respirar. - Onde está o documento? - ele não responde.
Retiro a arma de sua boca. Atiro na mesa, o barulho da madeira ao lado da cabeça dele o fazendo gritar. Ranjo os dentes.
- Onde? - ele ergue uma mão, trêmula, para um gaveteiro de metal. Ergo o queixo, e Victor vai até lá abri-lo. Mexe nos arquivos, até levantar um com o símbolo da máfia.
Ele o coloca na mesa. O abre, e cada um dos papéis contém a assinatura. Em cada mês do ano. Em cada um do ano passado. Do retrasado, e de anos atrás.
- Quero que interrompa agora qualquer coisa que estejam fazendo, seja lá de quem tenha sido a ordem. Entendeu? - ele tenta falar. Retiro o cano de sua boca outra vez. Ele tosse, tentando respirar.
- Eles já foram. - sua voz sai engasgada.
Processo em três segundos o que diz. Solto a arma e seu corpo, olhando pela janela e o caminhão que acaba de sair em velocidade rápida.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."