O cassino está cheio. Não é preciso entrar para saber. O carro para ao meio da rua, inúmeros outros ao redor do restaurante de comida japonesa. Saio primeiro, deixando a porta aberta para Carolina. Estendo uma mão, para que não caia nos saltos. Nos saltos que mal suporto olhar. Não sem imaginá-los em meu ombro. Em minhas mãos desafivelando-os e beijando sua panturrilha.
Ela levanta, sorrindo de leve para mim.
- É quase engraçado o fato de que a rua está lotada e o restaurante quase vazio. - ela ri. - Nem um pouco suspeito. - todos saem do carro, deixando-me ir na frente. Algumas pessoas entram ao local, olhando para mim. Não se preocupam em disfarçar o interesse. A surpresa em misto de medo. Respiro fundo. Sinto o peito pesado. Não suporto atenção. Não em excesso. Temo a atenção que receberei quando entrar. Sinto dedos quentes apertarem os meus. Olho para ela, percebendo a sutil tentativa de me distrair. - Por que não me levou nesse restaurante aqui? - olho ao redor.
- Acha confiável, mio dolce?
- Acho barato.
- Nem todo o barato é confiável.
Ela ri. Contenho o derretimento na barriga. Sua risada me faz chegar mais perto. Querer ouvir o som melhor. Ver seu sorriso de mais perto. Eu o sentiria com a boca, se pudesse.
- Você, Ramos, é um pobrefóbico.
- Não. - murmuro. - Caso contrário, você não estaria aqui agora.
- Olha que... - ela fica boquiaberta. - Você acabou de me chamar de pobre?
Vou lhe responder, quando sinto um ruído no ouvido direito.
- Testando, testando. Tá me ouvindo? - ouço a voz de Mob.
- Sí.
- Beleza. A partir de agora vamos trabalhar com gestos, porque, se você der alguma dica de que está utilizando microfone como se estivesse em uma operação, e realmente está, a casa vai cair completamente. Posso começar a descrição? Alguns dos soldados já entraram disfarçados e, chefe, você tem uma boa concorrência aí... - acabamos de descer as escadas estreitas. - Você vai acabar de entrar no paredão dos tubarões... aí tem pelo menos uns quatro inimigos do seu pai disfarçados de bons cidadãos... não que nós criminosos sejamos bons cidadãos, claro. A notícia boa é que nenhum deles aparenta estar armado ou ter ajuda infiltrada.
O corredor que dá para o cassino está lotado. Inúmeros homens de terno. Tatuados, fumando, dando gargalhadas. Gargalhadas que somem ao me ver. Olhos se voltam para mim. Um silêncio predomina o espaço. Ombros relaxados. Talvez sua natureza não seja como a das pessoas, mas não tem nenhum problema nisso. Você não está forçando nada agora.
Não adianta. Preciso do calor dela. Meu braço se ergue, como em vida própria. E assim que ela encaixa o dela no meu, as coisas neutralizam. O quentinho de seu braço se torna o quentinho do meu corpo.
- Esse que você acaba de passar? Seu pai meio que arrancou a mão dele fora, é por isso que vive usando luvas; para disfarçar que uma das mãos simplesmente é mecânica. Fico me perguntando se ele tem algum comando para se masturbar com ela... imagine só ter alguma opção de vibração máxima?
Olho para a mão. No entanto, não para ele.
- À esquerda, nada mais nada menos que Kayle, que por algum motivo moveu sua bunda dos Estados Unidos para a Itália e conflitou com seu pai, creio que num surto existencial de ter a necessidade de ser melhor e provar que poderia vencer... só não foi morto porque fugiu, porque o resto da gangue dele... coitado. Coitado deles, na realidade. Seu pai poderia ser fotógrafo, ele faz umas fotos detalhistas demais.
Nem me fale.
Olho apenas de relance para Kayle.
No entanto, seu olhar para o quadril de Carolina me faz voltar a olhá-lo.
- Posso ser bom em fotos. Eccellente. - murmuro.
Carolina olha para mim, curiosa. Não sabe se estou falando com Mob ou ela.
- Em fim. Você agora vai entrar no verdadeiro mar de tubarões, chefe. Porque estou vendo armas, e muitas. A maioria delas vem de máfias que fizeram acordos de irmandade com o pai de Billie, portanto... talvez dê alguma merda. Não sei se por ostentação ou uma leve ameaça lhe dizendo "hoje você só sai daqui morto", mas boa sorte. É mais provável Justin Bieber se assumir hétero do que nos matar. Ou seja, nenhuma. - Mob ri. É um verdadeiro amante de encrencas. - Estamos daqui enxergando tudinho. Fiz a lição de casa direitinho e de quebra decorei o nome de alguns otários. Coringa me mandou dizer para relaxar e ser simpático, então relaxe... e seja simpático. - olho para trás, para Victor. Ele sorri e pisca.
Não acho graça. A princípio porque, se não fosse por ele, talvez não estivéssemos aqui. Paramos em frente a uma porta sofisticada. Dois homens agarram cada lado da maçaneta. E então, abrem, revelando o cassino. Mais lotado do que jamais vi. No entanto, só vi uma vez. As conversas quase sobrepõem a música alta. No entanto, é só a música que resta quando me veem.
Não sei quem fora o otário a colocar uma escadaria alta. Como se eu fosse alguma exposição.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."