O caminho de volta é silencioso, mas a cada vez que checo o retrovisor, está sorrindo. Não para de sorrir para a janela. Tira uma soneca no caminho, mas assim que o carro estaciona, ela acorda. A acompanho até seu apartamento outra vez.
Quando chegamos a porta, ela está sorrindo. Observando-me de maneira intensa demais.
Desta vez, estou preparado. Anseio por isso. Quero isso, embora não deva. Meu corpo esquenta em antecipação. E então, ela desfaz a distância entre nossos corpos. Me abraça outra vez. Mas desta vez, meus braços moldam seu quadril e a trazem mais perto. Fazem ondas de calor atingirem meus órgãos. Minhas articulações, minhas células. Todos dentro do forno que são as curvas dela, grudadas em meu corpo. Cada pedaço dela me endoidando. Ela afasta o rosto de leve.
- Muito obrigada, Crusher. Eu nem sei como te agradecer por isso... é bobo eu ficar feliz com um passeio no parque com sorvete, mas eu fiquei. Acho que eu não saio muito de casa. - ela ri. Seu sorriso permanece no rosto. Bellissimo. Una bella cosa. A coisa linda que proporcionei. Não consigo pronunciar palavra sequer. - Por mais que tenha aparecido na porta da minha casa do nada, e provavelmente usado meu endereço contra a minha vontade... - ela ri outra vez. -... ainda bem que fez isso. Eu ia ficar trancafiada no quarto e ia acabar chorando por um milhão de coisas. - diz.
Continuo em silêncio. No entanto, cometo o erro de me deixar cair os olhos em seus lábios. E tudo começa a desandar. Pane no sistema, milhões de alarmes dentro de mim soando. Minhas células se agitam, meu batimento cardíaco luta para se manter constante. Tudo o que consigo ver é ela. Carolina e seus olhos esverdeados. Agora escuros, intensos. Carolina e seus lábios. Cheinhos. Comestíveis. Pedindo mordidas e lambidas. Implorando que eu os prove. Cheque seu gosto, seu ritmo, seus sons. Meu peito se abre de algo intenso.
Algo crescente, um desejo que abre meu peito. Meu corpo parece em combustão. Minha visão borra, tudo ao redor tornando-se turvo, exceto ela. Seus lábios se aproximando, meus lábios formigando... seus olhos se fecham. Quero pressioná-la na parede e devorá-la. Suprir seu gosto até não restar nada. Apertar suas curvas macias.
Mas... de repente, é a cabeça dela. Minha mão segurando seus cabelos. Seus olhos opacos... mortos. Não é mais meu pai quem segura a cabeça de minha mãe. Sou eu... quem seguro a dela.
Desvencilho-me de seu corpo. Talvez brutalmente demais.
- Não.
Meu corpo se reprime. Minhas mãos passam a tremer. Sinto nojo.
Não dela. Sinto nojo de mim.
- Ah, eu... - ela engole seco. O embaraço em seus olhos me faz querer estapear meu rosto. - Desculpa. Desculpa, você não... quer?
- Não.
- Ai, perdão. - ela fecha os olhos. Com força. Meu peito se aperta, na mesma intensidade. Não, maior. Agora me sufoca. Um chumbo se instala dentro dele. - Claro que não ia querer, eu... - ela começa a ficar agonizada. Sinto que estraguei algo belo. Sinto que a estraguei. Que a magoei. Que a fiz se sentir desconfortável. As coisas estão desmoronando. Estou vendo cada pedaço se desfacelando no chão. - Nossa, desculpa, Crusher. Eu não devia... agora vai achar que eu achei que você só fez tudo isso porque queria alguma coisa, mas por favor, não pense assim, eu também não pensei, é só que... me desculpa. Eu não vou mais fazer isso, me perdoa. Eu tenho essa mania de estragar as coisas de uma hora pra outra... - começo a balançar a cabeça. Preciso sair daqui. Ficar longe dela, do perigo que represente.
- Vou embora.
- Tá. - ela sussurra, mas está claro que não está bem. Seus olhos me evitam, e ela aperta as duas mãos com força. Pisca rapidamente, e quero rasgar-me com um canivete. Mas saio antes que fraqueje. E percebo que bater em sua porta, em um ato de descontrole, fora um erro.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."