18. Saltos

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- Este homem é seu pai? - perguntei apontando em uma foto que estava Kate, Dakota, Veronika e um homem abraçando as três. Percebi que o mesmo homem aparecia em outras fotos nos porta-retratos da mesma estante.

- Sim.

- Ele não se importa de você trazer um estranho em sua casa?

- Ele sabe que você não é um estranho - Ela sorriu e se sentou tranquilamente no sofá

- Você falou de mim...?

- Ele nos vê sempre... De lá de cima.

Por um segundo tentei entender, e me senti envergonhado por ter entrado nesse assunto. Ela percebeu como me calei.

- Foi infarto fulminante - ela explicou. - Minha mãe o encontrou morto na cama, por isso hoje ela não gosta muito de lembrar...

- Entendo - eu disse me lembrando de Robert.

- Eu tinha nove anos quando aconteceu. Demorei um pouco para me acostumar...

Uma mágoa pairou sobre seus lindos olhos azuis. Eu queria mudar de assunto, mas não sabia como.

- Ainda assim, agradeço a Deus por te me concedido alguns anos com meu pai - ela continuou. - Imagino como você deve ter sentido falta dos dois pais que perdeu de uma só vez...

- Acho que se eu tivesse os conhecido teria sido pior... Sofri muito com a morte de minha avó... Do meu melhor amigo... Da... - me interrompi. Quase deixei escapar sem perceber. Torci para que ela não tivesse percebido; eu não queria entrar em mais esse assunto.

- Da...? - ela perguntou. Tarde demais.

Dakota já sabia de metade da minha vida; exceto sobre eu ser vampiro, é claro. Sabia sobre meus pais biológicos, sobre minha avó, sobre a morte de Garry que foi encontrado morto numa floresta por "ataque animal", sobre minha recente família, é claro que tudo que envolvia vampirismo, eu inventava qualquer mentira que pudesse parecer verdade. Sua curiosidade as vezes me deixava em saia justa.

Ela me olhava fixamente, esperando por uma resposta. Isso eu deixara de contar a ela; pelo simples motivo que ainda me incomodava, talvez até mais do que a morte de Garry.

- Da Leslie... - respondi, afinal, não poderia esconder isso dela por muito tempo.

- Quem é Leslie? - ela perguntou ainda mais curiosa.

- Foi minha namorada. Morávamos juntos, e um dia eu a encontrei morta na cozinha de nossa cabana.

- Que horror! - disse, espantada. - O que aconteceu?

- Ataque de urso...

- Nossa, na sua cidade há tantos animais perigosos assim?

Pensei por um momento; agora que eu era de um mundo diferente, podia achar que a verdadeira morte de Leslie não tinha sido por um urso... Se não tivessem encontrado pêlos e pegadas de urso na cabana. No fundo, eu sentia um certo alívio por isso.

- Parece que todos em minha volta acabam morrendo... - pensei alto.

Ela colocou a mão em meu ombro. Olhei pra ela e percebi que queria me abraçar, mas algo a impedia.

Eu queria encorajá-la... Mas em mim também faltava coragem. Apenas sorri pra ela.

- Vamos parar de falar sobre isso - ela propôs. - Vamos falar de...

- Posso ir ao banheiro? - perguntei subitamente, atropelando as palavras dela.

- Você está bem? - Ela tinha uma expressão preocupada.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora