14. Brechas

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Logo que Roy saiu, Liz veio me dar um beijo de boa noite. Por sorte não foi na boca, ela não estava forçando nada. Deu-me o tempo para pensar sem ficar perguntando o que eu iria resolver. Liz sempre foi uma pessoa que nunca colocou pressão em nada, ela sempre deu tempo ao tempo.

Ficar deitado na cama sem fazer nada durante horas era uma chatice. Eu não tinha nem a dor mais para me distrair. Eu tinha que arrumar algo para fazer, então passei mais ou menos 4 horas fazendo aviõezinhos de papel e tentando fazer com que eles levantassem vôo; até acabar com o caderno que estava na mesinha de cabeceira. Minha cabeça só pensava em uma pessoa; Veronika. Passei uma boa parte do tempo lembrando em como ela era linda, e a outra parte do tempo, em como seria ser amigo dela.

Eu não tinha mais o que fazer, então comecei a ler um livro do Paulo Coelho. Veronika decide morrer, era o nome do livro. Na verdade eu o comprei quando li Veronika nele, o resto eu nem prestei atenção.

Começou a amanhecer então tentei levantar e caminhar um pouco, já que isso era o que eu menos fazia nos últimos dias. Eu me alimentava uma vez por mês, mas a minha perca de sangue me deixou faminto. Robert não iria me deixar sair para caçar, ele iria querer que eu esperasse mais um pouco, pois meu ferimento não tinha cicatrizado totalmente; mas eu não podia esperar nem mais um segundo, meus olhos já estavam quase vermelhos. Consegui me levantar quase sem esforço. Sai pela porta dos fundos, sem deixar alguém perceber. Eu iria voltar logo, e a única que poderia notar o meu sumiço seria a Liz, contudo ela não iria me dedar, ela sabia que eu estava com muita fome.

Fui para o lado norte da floresta, raras vezes andei por lá, pois lá não há muitos animais para se caçar. Mas quando entrei na floresta escutei alguns barulhos de algo se movendo rápido por ela. Eu não consegui decifrar o que era, mas o cheiro era melhor do que de um animal. O cheiro não era igual o de um humano, era um pouco melhor. Tentei não me concentrar nisso, mas a tentativa foi inútil. Eu queria encontrar o possuidor deste cheiro, mas eu estava inseguro, pois não sabia o que era. Corri para o lado sul da floresta para não causar outro incômodo ao meu pai, eu sabia que aquele cheiro não era coisa boa.

Corri e percebi que havia algo correndo atrás de mim também, só que por meio das samambaias tentando se esconder. Não era apenas um, eram vários e eu não consegui enxergar o que eram, pois as samambaias estavam enormes e tinham muitas para eu conseguir ver o que era afinal. Eu corri como se eu estivesse fugindo, mas eu só não queria machucar ninguém ou entrar em outra confusão. A perseguição não durou muito tempo, as coisas com o cheiro bom tinham desistido ou não podiam ultrapassar a área norte, como se fosse uma fronteira. Parei quando dei de cara com um Lince, era o meu alimento favorito. Depois que se vira vampiro, na hora da alimentação não pode sentir pena. Não pode pensar que é um animal e que ele também sente dor, ele só é um alimento; somos programados para pensar assim. Mas temos uma técnica de matar sem dor. Cravamos nossos dentes em uma das artérias do pescoço do animal, introduzindo nosso veneno e o anestesiando por completo; por isso não consegue ao menos tentar fugir, simplesmente ficam imóveis.

Depois que saciei minha fome, caminhei um pouco pela floresta para sentir um pouco de ar fresco, não percebi que o tempo passou depressa, fiquei tempo demais lá e antes que Robert percebesse meu desaparecimento, corri para casa. Não comentei com ninguém sobre algo com o cheiro bom me perseguindo. Sentei-me no sofá fingindo não estar preocupado com nada; Roy sentou ao meu lado como quem não quer nada.

- Sabe que se Robert te pegar dando suas voltinhas, você vai ficar mais tempo sem sair de casa, né?

- Só fui me alimentar.

- Sem permissão...

- Qual é? Não levou meia hora.

- Sorte que ele ainda não chegou; se não, notaria seu sumiço, como eu notei.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora