50. Real identidade

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Era segunda-feira, Dakota não havia aparecido e eu não conseguia tirar da cabeça que eu precisava falar com Jenny.
— Preciso falar com ela! — falei, como se as palavras saltassem de minha boca, me levantando de supetão.
— Quem? — Roy perguntou confuso, desviando a atenção do Gameboy.
Mas eu ainda estava com o pensamento bem longe, quase não o ouvi perguntar, eu olhava fixamente em um ponto aleatório, imaginando como começar.
— Cara, eu não leio pensamentos. — Ele se inclinou pra tentar decifrar minha expressão.
— Jenny.
— Ah, achei que estivesse falando de Dakota.
— Também! — olhei pra ele agora.
— Me diga que já está tudo certo com Jenny.
— Parece certo pra você? — Mostrei meu celular, na tela aparecia 8 chamadas perdidas de Jen.
— Cara, está evitando ela? Sinto dizer, mas se é essa maneira que decidiu terminar um namoro, está fazendo isso muito errado.
— Roy, eu não sei se consigo olhar pra ela! Não sei o que dizer!
— O que acha de começar com a verdade? Aliás, comece atendendo as ligações dela.
— Isso está me matando... — Guardei o celular no bolso e comecei a andar de um lado para o outro.
— Hey! Para com isso. Você é um homem ou um rato? Vai lá e resolva essa bagunça!
Roy falava com tanta convicção, que até parecia ter maturidade. Engraçado como há algumas semanas atrás era eu quem falava assim com ele.
Suspirei e decidi. Eu iria falar com Jenny.
— Vai à faculdade hoje?
— Sairemos daqui 10 minutos. — Roy confirmou olhando em seu relógio de pulso.
— Me diga, se ver Dakota por lá... Estou indo falar com a Jenny. — Peguei minha carteira e me dirigi até a porta.  
— Dakota não vai à faculdade hoje, achei que soubesse que ela está com fortes dores de cabeça.
Virei-me pra encarar Roy.
— Não estava sabendo...
Ele ergueu as sobrancelhas, um pouco surpreso por saber mais do que eu.
— Foi o que Veronika disse.
Assenti uma vez com a cabeça; se era esse o motivo por ela não ter aparecido, nem me ligado, eu ficaria mais aliviado. Talvez fosse uma virose, ou uma gripe, de qualquer maneira, essa noite eu gostaria de cuidar dela sem culpa.
Sai e segui até a casa de Jen, torcendo para que Harold não estivesse em casa, e demorasse à chegar.
Eu estava indo sem nada em mente, apenas indo. Talvez chegando lá, eu soubesse o que dizer. Nunca havia feito isso, nem passado por situação parecida, foram sempre as garotas que terminaram comigo, nunca eu com elas, tão menos por motivo deveras desprezível.
É claro que fui a pé. Meu carro chamaria muita atenção. Parei em frente, ao lado de uma árvore, e tentei escutar qualquer som que viesse de dentro da casa.
Estava muito silencio. Havia uma respiração e um batimento cardíaco, talvez fosse de Jen, mas eu precisava me aproximar mais pra ter certeza. Também havia uma música calma, mas eu não sabia ao certo de onde vinha, talvez um fone de ouvido?
Cheguei próximo à janela da cozinha e realmente era Jenny que estava lá, talvez lendo algum livro no andar de cima.
Peguei meu celular para dar um toque pra ela descer; eu não queria assustá-la com a famosa frase "precisamos conversar". Logo em seguida ouvi um barulho de motor e uma luz forte se aproximando, era o jipe de Harold. Droga.
Me encostei ligeiramente na parede; eu não podia correr, não agora, pois ele com seu eficiente radar interno de caçador, iria me ver.
Eu precisava sair dali, e iria, mas não antes que ele entrasse na casa.
Harold desceu do jipe, estava sozinho. Andou pesadamente até a porta da sala e entrou. Esperei três segundos pra sair dali.
Me inclinei pra me certificar de que ele havia mesmo entrado, e quando tive certeza eu corri.
Não levou muito tempo pra eu cair de joelhos ao chão. Algo havia acertado a parte de trás de uma de minhas panturrilhas. Tal tiro certeiro só poderia ter vindo de uma pessoa.
— Como ousa aparecer aqui de novo? Deveria saber que tenho câmeras nas árvores.
Virei-me para encará-lo, ele caminhava até mim com o maldito rifle na mão, e em sua outra mão segurava uma pistola de dardo cativo, a qual jogou na grama, afinal, já havia me paralisado.
Minha perna não estava amortecida. Estava latejando tanto que me impedia de movimentá-la. Arranquei o dardo que estava preso à ela, o qual devia ter sido embebedado em mercúrio, por fazer tal efeito.
Harold tinha uma expressão ensandecida. Parou em minha frente e apontou o rifle em minha testa. Ele respirava pesadamente, e me olhava com ira. Podia apertar o gatilho a qualquer momento, mesmo sabendo que na cabeça não me mataria. Olhei pra ele, e pude ver que talvez aquela raiva toda não era apenas sobre mim.
— Eu não costumo dar segundas chances, rapaz. Pra ser bem sincero, eu não dou chances. Estou cansado de vampiros em minha vida e na vida da minha família. Eu só vou fazer uma pergunta. — Harold respirou fundo e continuou. — Há quanto tempo está seguindo a minha filha?
— Eu não estou... Não estou seguindo sua fi...
Não pude terminar a frase, quando recebi uma pancada no nariz com o cano do rifle. Minha visão ficou turva e eu cai automaticamente pra trás.
— A verdade! — Ele gritou.
Coloquei a mão em meu nariz que sangrava, a vontade que tive foi de me levantar e arrancar a cabeça daquele velho. Mas ao recuperar minha visão, voltei a olhá-lo, lembrando-me de quem ele era. Não apenas um caçador, mas o pai de quem eu me importava muito.
— Eu nunca parei! Ok? É isso o que quer ouvir? Estou todos esses meses me encontrando com ela todas as vezes que você sai! Quer me matar? Me mate! Mas conviva com a culpa de saber que matou quem sua filha ama!
Seus olhos pareciam querer arder em chamas, ele me olhava com ódio e por um momento achei que de fato iria me matar.
Harold me segurou pela mandíbula e me ergueu. Eu mal podia encostar a perna que latejava, ao chão. Estou certo que ele grunhiu quase como um vampiro faz, ao me jogar novamente ao solo, só que desta vez, em direção à casa.
— Eu quero ver! Quero ver se o que está falando é verdade! Entra na casa! — gritou.
Eu estava de joelhos, com as duas mãos no chão e quase não sentia minha perna, como ele podia querer que eu andasse? Não era o suficiente pra ele, quando me chutou e me bateu novamente com o rifle, só que desta vez nas costas.
— Entra! Se não eu estouro os seus miolos aqui mesmo, rapaz!
Ouvi passos apressados de dentro da casa, Jenny havia descido às escadas desesperada. Quando abriu a porta e se deparou com aquela cena, sua expressão revelou ainda mais seu desespero.
— James? Pai, o que está fazendo? — sua voz assustada e confusa, quase nem saia.
Harold me pegou pelo braço e me arrastou pra dentro da casa, me obrigando a caminhar em tropeços. E me jogou ao chão da sala.
— Meu Deus, o que está acontecendo aqui? — Jenny olhava assustada com a atitude de Harold. —   James, você está sangrando? — Ela correu até mim, e me obrigou à olhá-la, segurando meu queixo. Pude ver seus olhos enchendo de lágrimas.
— Saia de perto desse antropófago!
Harold conservava essa aparência bruta, porém Jenny gostava de dizer o quanto ele era doce, que nunca usara a força contra ela... até o momento. Pude ver as marcas de seus dedos em um dos braços de Jenny quando ele a soltou longe de mim. Estava prestes a revelar minha identidade. Comecei a sentir falta de ar, e não sabia se era devido a situação ou era o mercúrio do dardo se espalhando no organismo.
— Pai, o que está fazendo?! O que você fez com ele?! — Ela gritava, encarando-o com os olhos transbordando em lágrimas.
— Você estava saindo com esse rapaz? Você sabe quem ele é?
— Por que está fazendo isso, pai? O que ele fez de errado? — Ela chorava e ao mesmo tempo tentava se soltar das mãos de seu pai, que a segurava novamente.
— Estar aqui é o que ele fez de errado! Existir é o que ele fez de errado! Você mentiu pra mim, filha!
— Não! Ele não é como o senhor pensa!
— Ele é exatamente como eu penso! E eu posso te provar isso.
Eu olhava para o chão, incapaz de levantar o rosto. Tentava puxar algum ar para dentro dos pulmões.
Chegava a ser cômico essa minha incapacidade numa crise de asma. Eu era fraco, independente das circunstancias. Em todos os momentos em que eu precisasse usar minha força, isso me fragilizaria, me tornaria inútil. Eu era uma das criaturas mais temida, se não a maior; e tudo que eu mais precisava agora para sobreviver, era respirar. Algo tão simples como puxar e soltar o ar, era tudo o que mais me impedia de fazer qualquer coisa.
Com o canto dos olhos, vi Harold pegar um punhal ao lado do sofá.
— Meu Deus! O que está fazendo?! — Jenny arquejou. Foi a última coisa que pude assimilar, antes de sentir o cheiro de sangue e um desejo quase incontrolável passear dentro de mim. Prendi a respiração e fechei os olhos, me concentrando em me conter.
Harold falava alguma coisa, Jenny apenas chorava e negava algo. Eu não compreendia o que diziam. Até que voltei em minha consciência quando Harold repentinamente levantou minha cabeça, puxando meus cabelos com uma das mãos, atrás de mim.
— Mostre sua verdadeira identidade! O filho da carne, bastardo do sangue, e neto da perdição; não é humano, não é racional!
O cheiro estava cem vezes mais forte. Enquanto ele segurava meus cabelos com força, o sangue escorria por minha testa. Abri os olhos involuntariamente.
Eu não sabia como exatamente Jenny via meu rosto naquele momento, mas pelo espanto em seu rosto, tinha certeza, meus olhos estavam vermelhos.
Jenny tampava a boca com as duas mãos e seus olhos me encaravam arregalados. Eu ainda não respirava, mas uma fração do cheiro, eu podia sentir.
Percebi que não aguentaria mais, eu precisava respirar, e sabia que isso seria automático quando o tempo se esgotasse.
A pior parte era que eu não me conhecia o suficiente pra saber o que aconteceria depois. Eu já não era o mesmo há tempos, no entanto, após provar o sangue humano, talvez tudo tenha sido amplificado.
Harold segurava uma estaca de madeira na mesma mão que sangrava, a mesma que segurava meus cabelos. Eu não sabia qual estaca era aquela, pouco ouvi sobre elas, o que sabia era que as que realmente nos causava algum mal eram raras. Talvez essa fosse diferente, e se não fosse... Bem, eu estava disposto a correr esse risco.
Eu não tinha muita alternativa, precisava agir rápido.
Peguei-a da mão de Harold e cravei na região do abdômen. Só pude ver Jenny correr até mim antes de cair ao chão e golfar sangue pela boca. Rapidamente minha visão escureceu.

Volteeeeeii!! Yeeeey! hahahah
Desculpem pela demora! 
Eu já falei que os comentários que leio aqui me motivam muito a escrever?
Na verdade eu ainda nao ia postar pq nem tinha capitulo pronto ainda, mas acabei de ler alguns comentários feitos nesta semana me inspiraram! E aqui está um capitulo novo para vocês!
Espero que gostem, e não esqueçam de comentar o que acharam ein! :** 

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora