24. Efeito Adverso

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Ao chegar no meu quarto senti uma pontada em meu peito. Franzi o cenho, aquela dor não era estranha para mim.
A dor voltou novamente e a ausência de oxigênio me afligiu. Corri até a minha cômoda onde a bombinha costumava ficar, mas ela não estava lá. Cai no chão tentando respirar o máximo de oxigênio, mas de qualquer modo ele não entrava em meus pulmões.
Não havia ninguém para me socorrer naquele momento. Todos estavam na sala e eu não conseguia alertá-los. Eu estava desesperado. Tudo o que eu conseguia lembrar era de Dakota, mas a imagem que vinha em minha mente não era a real, e sim a surreal que eu vira na floresta. Talvez aquela fruta ainda estivesse fazendo efeito em mim.
Lutei para respirar, não conseguia chamar. Todas as vezes que me faltava ar, minhas forças desapareciam subitamente. Me concentrei em puxar o pé da cômoda, até que ela caiu em cima de mim e houve um estrondo. Logo após pude escutar passos subindo rapidamente a escada.
— James! Ouvi um... — Liz não terminou a frase, ao me ver num ataque asmático. Roy e Ben entraram logo em seguida. Eu não conseguia dizer nada, era risível um vampiro lutando por algo tão básico.
Foram juntos tirar a cômoda de cima de mim, mas só foi preciso um para tirar. 
Liz não estava mais lá, mas não demorou muito a voltar, com minha bombinha em mãos.
— Desculpa James. Foi erro meu não ter colocado de volta na cômoda. — ela disse se sentindo culpada, enquanto colocava de imediato a bombinha em minha boca e borrifou várias vezes. Após, a sensação de alívio foi imensa.
— Obrigado — eu disse com a voz rouca.
— Aquela vez que você e Ben brigaram, você teve um ataque de asma, eu busquei a bombinha para você e me esqueci de devolvê-la para a cômoda... Me perdoe, James. — Ela disse num disparo de palavras, com a cabeça baixa.
— Não tem que se explicar, Liz... Acontece...
Roy e Ben olhavam para mim penalizados. Mas Ben sentia uma pontada de ciúmes, logo deixou isso passar.
Me levaram para a cama, e de lá não sai até amanhecer, eu estava exausto.

De manhã desci a escada tentando não dar a notar que eu estava saindo de casa, como desobedecendo à ordem de Robert, quando soube que eu não estava nada bem, não pediu, mas ordenou que eu descansasse.
 Eu ainda nao estava 100%, mas já estava bem melhor.
 Esperei Dakota passar pela floresta para eu poder terminar o assunto inacabado para mim. Mas como eu já podia prever, ela não passou. Assim eu levei dinheiro, para caso isso acontecesse, eu teria que ir mais fundo.
 Fiz o mesmo caminho que eu sempre fazia ao lado dela, parei em frente a Oboé Track e entrei.
Havia uma atendente no balcão. Parei em frente a ela e ela nem percebeu; estava entretida fazendo um teste numa revista de adolescente.
— Achei que mulheres gostassem mais de chocolates do que de flores — comentei, olhando na alternativa que ela marcara x.
Ela se assustou com a minha voz. Fechou a revista, estabanada.
— Posso ajudar? — ela perguntou olhando ainda assustada para mim.
— Na verdade pode. — Dei um sorriso leve para ela. — Eu gostaria de saber a onde posso fazer a minha matricula.
— Aqui mesmo, senhor.
— Preciso preencher algum formulário?
Ela me passou um papel, e eu preenchi tudo em um instante, coloquei o papel sobre o balcão, e sobre ele um pacote de dinheiro.
— Vou pagar o curso todo adiantado — eu disse.
Ela olhou para o pacote de dinheiro, pegou metade da quantia e o papel.
— Isso já paga o curso. — ela disse contando as notas.
— Se me deixar começar agora e me colocar na classe da Dakota Ferriani, pode ficar com o resto. — eu disse num sorriso malicioso e empurrei até ela o que havia sobrado em cima do balcão.
— Não aceitamos subornos, senhor — ela disse com a expressão séria.
— Talvez se a quantia dobrasse você pudesse mudar de idéia. — Eu disse arrancando mais um pacote de dinheiros do bolso e colocando no balcão.
Ela arregalou os olhos. Pensou por um instante e puxou a notas do balcão.
— Muito bem — eu disse num sorriso torto. — A onde é que começo?
Ela olhou no monitor do computador e escreveu algo que não pude ver.
— É a primeira sala à direita neste corredor — disse apontando para o corredor e dando uma folha na minha mão. — Dê esta folha para o professor.
 Eu não me importei em ver o que estava escrito na folha. Apenas segui para onde a atendente disse. Bati na porta e depois abri.
— Com licença — disse, a procura da Dakota.
Percorri a sala toda com os olhos, até que a encontrei num canto da sala, sentada em frente a uma mesa distante do professor. Ela estava bastante pensativa e um pouco depressiva, parecia não dar a mínima para o professor e para o resto da classe. E eu pude perceber que o próprio oboé ainda estava em sua bolsa. Ela nem percebeu que eu estava na porta. Dei o papel para o professor e entrei na sala.
— Pode se sentar em algum lugar. — disse o professor — Está um pouco atrasado.
Entrei ignorando o que ele disse. Fui em direção a Dakota e ela continuava a não perceber que eu estava tão perto dela. Como sempre ela estava avoada.
— Se Maomé não vai às montanhas...— eu disse baixinho, me sentando ao lado dela.
Ela olhou assustada para mim. Com a mesma expressão que a atendente tinha feito.
— O que esta fazendo aqui? – ela disse baixinho também, para que o professor não notasse.
— Agora sou seu colega de classe.
— Não posso acreditar.
Sorri. E ela me metralhava com os olhos.
— Quero aprender a tocar também — dei de ombros.
— Aonde está seu oboé??
Não respondi.
— Será que vou precisar parar com o meu curso também?
— Dakota, eu só quero que você acredite em mim.
— Que tipo de pessoa você é? Isso é perseguição!
— Desculpe, mas você não está me deixando muitas alternativas.
— Como conseguiu entrar na minha turma? Não vai me dizer que subornou a secretária.
— Não, pff — menti. 
— Você prometeu nunca mais me incomodar.
— Antes daquela garota me beijar. Dakota, acredite em mim, foi ela quem me beijou, eu não sou assim! Foi uma cilada, Alex armou isso pra você acreditar que sou um moleque.
— James, por favor! Não tem que me dar explicações.
— Eu quero dar. Eu jamais faria nada parecido com você; desculpe, mas se eu quisesse te fazer algum mal eu ja teria feito.
— Às vezes você me assusta, James.
Abaixei a cabeça, desarmônico. Eu estava fazendo tudo errado...
— Só me deixa em paz, ok? — ela disse, levantou-se da cadeira e saiu da classe.
— Dakota, onde a senhorita está indo? — o professor perguntou. E ela o ignorou.

Fui a semana toda para o curso de oboé e ela não apareceu nenhuma vez por lá. Com certeza ela parou de ir por minha causa. Eu não tinha motivos para continuar indo se ela também não ia.
— Pai! — Liz gritou do sofá correndo para abraçá-lo.
— Ficou bem, meu amor? — perguntou Rob ao entrar na sala.
— Fiquei sim. — ela respondeu com um sorriso de felicidade.
— E os meninos? — perguntou ele olhando para nós que estávamos no mesmo sofá. – Obedeceram as minhas ordens?
Liz olhou para mim sabendo que não obedeci, o contrário de Ben e Roy.
— Obedeceram. — ela respondeu, me acobertando.
— E você, James? Como está?
— Estou bem, pai. — respondi num sorriso leve.
Ele olhava desconfiado para mim. Parecia que lia em meus olhos tudo o que eu escondia, mas não dizia nada.
Fazia uma semana que eu não via Dakota, e isso já estava me deixando louco. Eu ficava o tempo todo pensando sobre o que ela poderia estar pensando de mim.
Queimaram o meu filme e ela começou a acreditar que eu era a pessoa errada. Eu pensava se iria ser sempre assim. E as respostas sempre me faltavam.
O olhar que ela me lançou pela ultima vez quase me matou. Um olhar de discórdia que me afrontou.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora