Era noite, eu andava pra lá e pra cá, feito um leão enjaulado.
Precisava ir até a casa de Jenny, conforme o combinado; e embora parecesse errado em todos os sentidos, na realidade, eu não podia estar fazendo mais certo.
Pegar a estaca, me resolver com Jenny, e seguir a vida com Dakota. Falando, parecia fácil.
Respirei fundo, e antes de seguir até a casa do caçador, respondi a mensagem de Dakota."Me desculpe, D., hoje não poderei ir até sua casa...
Vou ao hospital, talvez eu possa tirar os pontos amanhã mesmo!
Parece que houve uma cicatrização acelerada, embora façam
apenas cinco dias. Não é que as sessões de Laserterapia que Liz
insistia que eu fizesse, deram certo mesmo?!
Amanhã eu vou, prometo!"Antes mesmo que eu pudesse guardar o celular no bolso, já havia recebido outra mensagem.
"Tudo bem, sem problemas...
Que ótimo que vai poder tirar os pontos, Liz é ótima!
Te espero amanhã, então! ♥"Era algo estupidamente bobo como aquele símbolo de coração me causava uma sensação gostosa. Dakota tinha o dom de me trazer sensações e sentimentos de formas inimagináveis; e quando eu menos esperava, ela era responsável por me trazer novamente um sorriso bobo no rosto. Embora, aquela enorme angústia de pensar em perdê-la, me perseguia.
"Amo você, não esquece disso! ♥"
A necessidade de lembrá-la que a amo, era constante. Eu não queria que isso parecesse piegas demais ou até mesmo pretensioso; talvez esse medo de ficar sem ela já estivesse começando a ficar visível, não era bom.
Guardei meu celular no bolso, e segui meu caminho.
Robert ainda não havia chegado, aproveitaria esse momento.
No caminho todo, não consegui centralizar meus pensamentos. A tensão era tanta, que não fazia a mínima ideia de como pegaria a estaca, eu estava apenas indo.
Parei próximo à casa, entre as árvores e me concentrei pra absorver os cheiros. Obviamente a casa cheirava a Harold, afinal, ele morava lá, entretanto, o cheiro não estava tão intenso como costumava ser quando Harold estava presente. Assim como de Jenny, que por sua vez estava bem intenso.
Por um momento, pensei em voltar; mas Chance consideraria isso como se eu não estivesse me esforçando o suficiente, e o combinado não era esse.
Talvez se eu entrasse discretamente, eu pudesse fazer o serviço sujo sem precisar envolver Jenny.
Procurei um ponto cego das câmeras instaladas nas árvores, mas Harold havia pensado meticulosamente sobre os locais de instalações, não haviam pontos cegos. Mas havia um erro. Apenas uma câmera filmava a janela do quarto de Jenny... Se, fortuitamente uma folha caísse sobre a lente da mesma, esta se tornaria um ponto cego.Cheguei próximo da janela de seu quarto, ela estava concentrada passando roupas.
Passando roupas no quarto? Talvez lá ela se sentisse segura; afinal, de repente ela descobre que monstros realmente existem, e não é pra ter medo de ficar sozinha?
Foi tão tranquilizante ver sua espontaneidade fazendo uma coisa tão simples e normal; escutar seus passos pra lá e pra cá, o roçar de suas unhas no pano enquanto manuseava as roupas, e a sua respiração calma e leve.
Olhei pra trás, checando se a folha ainda continuava sobre a lente da câmera. E sim, a folha continuava intacta, voltei a observar Jenny com seu ar sublime.
Quando ela se virou para guardar as roupas passadas e dobradas, se deparou comigo e levou um baita susto, derrubando todas ao chão.
— Desculpe, eu não quis te assustar — murmurei, ajudando ela a recolher as roupas no chão.
— Há quanto tempo está aí?
— Não sei. Bastante...
— Você me assustou!
— Como se eu fosse o Drácula — brinquei.
— Como entrou? Eu tranquei as portas.
— Mas não trancou as janelas. — Sorri.
— Muito obrigada; depois dessa não vou mais esquecer.
Eu ri.
Ela ficou me encarando, com a expressão ainda séria; fiquei um pouco sem jeito, mas logo ela abriu um largo sorriso e me abraçou.
— Desculpe, eu havia esquecido como é bom te ter aqui.
Passei a mão em seus cabelos cacheados e volumosos.
— Mas perigoso... — ela tornou a me olhar, preocupada.
— Bela observação.
— Meu pai não está, mas pode chegar a qualquer momento.
— Só estou mesmo de passagem... Vim te mostrar como estou bem, e... Matar a saudade. — Tentei ser convincente. Eu realmente sentia saudades, mas... Não foi exatamente este o motivo...
Ela sorriu novamente.
— Jen...— pigarreei, sem jeito. —Queria te pedir uma coisa...
— Claro... — Ela tentou disfarçar a surpresa e a curiosidade.
— Depois do incidente, não tivemos muito tempo pra conversar sobre tudo o que aconteceu... A verdade é que a estaca deu seu pai, é um objeto raro que realmente pode tirar a vida de qualquer vampiro... Você conheceu o filho de Robert, Chance... Bom, é uma longa história, mas ele me pediu que pegasse a estaca... Eu não quero roubá-la, então...
— O que Chance iria querer fazer com a estaca? Logo um objeto que pode levá-lo a morte.
— É uma história realmente longa. Ele precisa para fazer um trabalho sujo... Bem, na realidade ele estará fazendo certo... Sei que um trabalho sujo nunca seria certo, mas esse é... Quero dizer, você não deve estar entendendo nada, não é?
— Na verdade não.
— Desculpe, não sou bom com explicações.
— Parece estar mentindo.
— Não! É verdade. Morgan, a mulher que me transformou e matou a mãe de Chance, esteve longe por muito tempo, mas ao que tudo indica, está por perto agora. Não temos como nos defender, nem revidar. Eu não devo ter te contado essa parte da história, mas é como eu disse, uma longa história...
— O que me parece é que está querendo tirar de nós a única arma contra você.
— Não! Não é nada disso! Jen, eu jamais faria algo a você.
— Eu não sei. Não te conheço de verdade. Achei que estava aqui por mim, mas me enganei. Você apenas quer a estaca e achou que conseguiria persuadir a garotinha apaixonada.
— Por favor, Jen... Não diga isso. Eu só achei que pedindo seria mais fácil.
— Fácil. Essa é a palavra. Se equivocou completamente. Não vou te dar a estaca, e se ousar tentar pegá-la será pior. Saia.
— Jen... — Tentei me aproximar, mas ela me impediu com a palma da mão em meu peito.
— Mais um passo e eu grito. Meu pai acabou de chegar, saia enquanto há tempo.
— Por favor, Jen, me escuta, acredita em mim... — Peguei sua mão pousada em meu peito, e ela gritou.
Arregalei os olhos, num suspiro profundo.
Jen franziu o cenho, me encarando confusa.
— O que foi, James?
Dei um passo pra trás, receoso e respirando pesadamente.
— Aonde seu pai está?
— Saiu faz algum tempo, não me disse aonde iria, porquê? Parece que viu um fantasma.
Cocei a cabeça, tentando me recompor. Não sabia exatamente em que parte comecei a delirar. Embora sabia que estava ficando louco com essa situação; foi real o suficiente pra me fazer desistir da ideia. Jen não precisava mesmo saber, seria um empréstimo.
— Você esta bem?
— Estou... É que... De vez em quando sinto algumas dores... Mas já passou, não se preocupe.
—Tem certeza? — ela me analisou.
— Tenho. Jen... Acho que é melhor eu ir...
— Ei, espera... Nem nos falamos direito.
— Desculpe, é melhor nos encontrarmos em outro lugar. Eu te ligo, tudo bem? Te dou um toque e você me retorna.
Ela assentiu, chateada.
— Desculpe. — Beijei sua testa e sai.
Eu era um covarde.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Nossas Diferenças
Vampire"Uma metamorfose. Mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como a borboleta. De certa forma, já passei por uma também." James, um jovem rapaz alto e de longos cabelos loiros, ao se ver numa situação em que sua vida é mudada r...