48. Fim de Festa

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Já era fim de tarde, muitos convidados haviam ido embora. A festa estava no fim.
Havia algo de errado comigo; desde a metade  da festa, eu havia sentindo algumas dores estranhas na região do abdômen. De início ignorei, pensando ser algo da minha cabeça por ter abusado na caça na manhã do mesmo dia, afinal, já fazia mais de uma semana que eu estava sem me alimentar, não podia fazer errado no dia da festa de casamento de Robert, e me apresentar aos convidados com os olhos escarlates.
Ao perceber que não, não era coisa da minha cabeça, eu me ausentei dos convidados. Fui até um pequeno gazebo mais reservado, longe do centro da clareira. De lá, sentado, eu podia ver os convidados, e meus irmãos podiam me ver, afinal, sentiriam minha falta e eu não queria alarmar. Vez ou outra algum deles olhava para mim e eu acenava com a mão como um "estou aqui, não fugi" e fingia estar mexendo no celular, então eles se tranquilizavam e voltavam a diversão.
Mas a dor estava cada vez mais forte. Eu só estava torcendo para que a festa acabasse logo e eu poderia voltar pra casa. Robert já devia estar bem longe com Kate.
Eu estava comprimindo meu abdômen com os dois braços, quando percebi Dakota se aproximando. Fingi que estava tudo bem e voltei à postura de uma pessoa normal.
— Hey — abri um sorriso forçado.
— Por que está aqui isolado? — Ela se sentou ao meu lado naquele banco de madeira.
— Estou... só pensando... — tentei enrolar.
— Posso ficar aqui com você? — Ela me olhou com aquele olhar que me desmontava. — Sabe... Pensando também.
Sorri pra ela, agora espontâneo.
— Claro — respondi ainda sorrindo.
Tentei não pensar muito na dor; fingir não estar sentindo nada era a pior parte. Havia aumentado, mas ainda era suportável pra eu continuar ali conversando com ela. Tentei apenas dispersar.
— Como está indo na faculdade? — puxei assunto.
— Estou gostando... Eu consegui uma bolsa em Harvard...
— Sério? — Fiquei surpreso e feliz, mas com uma pontada de medo do que ela poderia dizer em seguida.
— Sim. É uma longa história... Estou pensando em ir pra lá... Logo começa o segundo semestre, tenho pouco tempo pra decidir.
Franzi o cenho.
— Por que... deixaria de entrar numa das universidades mais conceituadas do mundo?
— Eu sei, é estranho... Mas tenho um motivo bem específico.
Fiquei esperando ela continuar, mas ela não parecia querer falar muito sobre isso. Eu não queria fazer a pergunta, mas essa poderia ser a única oportunidade que eu teria. Relutei, naquela de falo ou não falo? Aquela dúvida estava me matando! Mesmo se fosse verdade, e se ela queria me contar mas não se sentisse tão à vontade pra começar a dizer? Talvez estivesse esperando que eu perguntasse. Talvez quisesse conversar sobre isso. Talvez fosse tudo mentira. Meu Deus, eu precisava saber!
— Tem a ver sobre os boatos? — falei, quase descarregando as palavras sobre ela.
Ela olhou torto pra mim.
— Quais boatos?
— Hum... Eu ouvi dizer... sobre... um bebê à caminho.
Ela continuou a me olhar torto. Mas só depois de alguns segundos, quando entendeu o que eu estava dizendo, ela caiu na gargalhada. Me senti enganado.
— Um bebê à caminho? Um bebê meu à caminho? — perguntava aos risos.  
— Pelo jeito é mentira — eu disse começando a rir também, sendo contagiado pelo riso dela.
— Sim, é claro que é! Seria impossível!
— Que susto... — pensei alto, aliviado.
Ela ergueu uma sobrancelha, mas ignorou meu comentário. Ainda bem.
— Fiquei um pouco preocupado mais cedo, antes da dança... Percebi uma mudança de humor em você e achei que fosse algo relacionado a isso... — admiti.  
Ela parou de rir e me olhou sorrindo.
— O que te faz se importar tanto comigo?
Ergui as sobrancelhas, não estava preparado pra esse tipo de pergunta. Pensei por alguns segundos, pra não estragar tudo.
— É importante para mim te ver feliz. — Tentei responder com o máximo de sinceridade.
Sua boca entortou novamente num leve sorriso e olhou de canto.
— Estraguei a nossa dança, não foi?
— Não... Não estragou não.
— Ah, estraguei sim... — Ela parou, meio pensativa. — Vem! Quero consertar isso! — Ela me puxou pela mão e me fez levantar.
— O que? Como assim? — recuei.  
— Vamos dançar!
— Agora? Sem música?
— E pra quê música se podemos cantar?
— Não, isso vai parecer um filme musical!
Ela riu, divertindo-se.
— Dakota! — Veronika gritou da clareira. — Estamos indo daqui 10 minutos!
— Ok! Eu já vou! — D. gritou devolta. — Deixa de ser chato! Sem música e sem cantar então, de qualquer maneira, daqui ainda podemos ouvir a música na clareira. — Ela me puxou novamente e me levou quase no centro do gazebo.
Estávamos muito, muito próximos! Gelei.
— Não... Não vamos fazer isso... — falei baixinho.
— Por que? — ela perguntou no mesmo tom de voz, serena. Olhava fixamente em meus olhos, parecia saber o quanto aquilo me deixava sem chão. E eu não conseguia, de maneira alguma, desviar daqueles olhos que me olhavam; eu a fitava descaradamente; e ela não desviou o olhar, como sempre costumava fazer quando eu a encarava.
Ficamos por alguns segundos nos olhando... Perto demais.
Eu queria usar aquele momento para beijá-la, mas tinha medo de qual seria sua reação.
Dakota sempre foi muito imprevisível; eu nunca sabia o que ela iria fazer no momento seguinte. Às vezes eu gostaria de saber o que ela pensava, mas ler seus pensamentos estava cada vez mais difícil.
Eu podia ouvir seu coração batendo rápido, sua respiração fora de ritmo próxima aos meus lábios; o que me fazia ansiar ainda mais por sua boca, então como um ato que eu não esperava, seus lábios vieram de encontro aos meus.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora