53. Mera consequência

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Enquanto Megan dirigia meu carro, eu tentava me manter imóvel no banco do passageiro. Com os olhos fechados, precisava me concentrar pra não gemer de dor.
Vez ou outra, Megan dava uma olhadela, talvez se certificando se eu ainda respirava. A viagem até a minha casa, parecia cinco vezes mais longa, embora Megan estivesse além da velocidade permitida.
Quando chegamos, mais uma vez, eu não conseguiria descer do carro. É óbvio que Megan não precisaria me carregar dessa vez, sendo assim, chamara Roy e o resto da família.
Percebi o olhar de desaprovação de Liz na soleira da porta, enquanto Roy, ao colocar meu braço em seu ombro, e ao me carregar para dentro, murmurava algo como "eu avisei".
Roy me conduziu até o sofá, e eu podia sentir todos os olhares pesados em mim, sem dizer uma palavra sequer, talvez estivessem imaginando como é que eu conseguira sair de lá sem que ninguém notasse.
— Você está todo ensanguentado, James. O que você fez? — Liz indagava; mas estava mais preocupada do que brava.
Eu não conseguia responder, minha cabeça estava girando e algumas coisas pareciam não fazer muito sentido.
Estava ciente do que estava acontecendo, mas a dor havia expandido por todo meu corpo, e proferir até mesmo uma frase parecia ser demais pra mim.
Meu corpo estremeceu, quando Liz levantou minha camiseta; uma boa parte do sangue nela já havia secado, fazendo com que o pano se prendesse contra a ferida; sendo assim, repuxando a pele ao expor.
— Nossa! — ouvi Chance dizer. Certamente a ferida havia piorado, se é que era possível.

(...)

Eu perdi a consciência por um vão momento. Ela voltou como um choque.
Aquilo era perturbador. Parecia ter passado muito tempo, horas. Mas na realidade, devia ter passado poucos minutos, talvez segundos. Tanto que ninguém havia saído do lugar, nem sequer percebido meu esvaecimento.
De lá de fora, um som de motor de carro se aproximou. Passos firmes alcançou a porta da sala, e então foi aberta. 
Senti minha respiração se tornar pesada; eu não tinha forças o suficiente pra abrir os olhos, mas sabia que Robert olhava pra mim e por isso, um nervosismo incontrolável tomou meu corpo.
A medida que ele se aproximava de maneira lenta, tentando entender o que estava acontecendo, a inquietude se instalava cada vez mais, embora eu tentasse me manter imóvel.
Robert se abaixou ao meu lado, me observando atentamente, ele sabia qual era o meu estado de espírito naquele momento. Ele sentia o que eu estava sentindo.
Então tocou meu braço com sua mão pesada. Imediatamente, senti todo aquele nervosismo ir embora. Minha respiração tornou-se rítmica novamente.
Robert se levantou devagar e se distanciou. Pelo tom da voz, parecia estar na cozinha.
— Liz, por favor, venha cá um momento — Rob chamou.
Enquanto Liz ia até Robert, percebi alguém se aproximar e se abaixar diante de mim.
— No que foi que você se meteu, James... — A voz de Kate era doce e ao mesmo tempo pesarosa. Ela passava a mão em meus cabelos, num afago imaculado.
— Pai, eu não sei mais o que fazer — Liz dizia, aflita, na cozinha.  
— Não precisa fazer mais nada, querida. Vamos dar um jeito nisso. Só preciso saber cada detalhe do que aconteceu.
— Senhor... Desculpe interromper. — Megan dizia, com uma voz acanhada. — Mas eu acho que vocês precisam agir rápido, James não deve ter muito tempo.
— O que quer dizer, Megan? — Robert mudou o tom de voz, estava intrigado agora.
— James me contou mais ou menos o que aconteceu, ele foi ferido por uma estaca, e pela descrição que me passou, eu tenho certeza que é uma que tem no meu livro. Veja...
Megan havia trazido seu livro na mochila, na intenção realmente de mostrar à Robert, embora eu acreditasse que muito provavelmente ele já conhecesse a tal estaca e seus efeitos.
— Este não é um livro qualquer. — Podia presumir Robert vincando a testa, num cenho preocupante. — É um grimório. Aonde o encontrou, Megan?
— Encontrei nas coisas do meu pai, há algum tempo atrás.
— Seu pai? O que ele fazia com um grimório?
— Não sei. Ele era um vampiro, talvez o tinha pra tentar se defender.
Robert colocou o livro na mesa e começou a folheá-lo.
— É um dos grimórios mais completos que já vi... Se não for o mais — comentou, enquanto continuava percorrer as folhas, até parar numa página que provavelmente devia ser aquela que mencionava a Estaca de Cedro.
— É essa estaca! — disse Megan.
Houve um longo silêncio na cozinha. Na sala, todos também pareciam prestar atenção na conversa, estavam quietos demais.
Eu não sabia se eles tinham consciência de que eu estava ouvindo, mas de qualquer maneira não pareciam se importar muito.
— Cedo ou tarde morrerás... — Liz recitou o último trecho numa voz rouca e trêmula. — Pai... A profecia!
Robert permaneceu calado, mas logo quebrou o silêncio. Deu alguns passos até a sala.
— Meninos, com muito cuidado, levem James para o quarto. Kate podemos conversar a sós um momento?
Não entendi porquê ele precisava conversar com Kate em particular, torci para que não fosse nada relacionado à Dakota. Eu não deveria estar me preocupando tanto com isso, visto que estava morrendo literalmente, mas me preocupava. Muito.
Roy e Chance me pegaram. Com meus braços sobre os ombros de cada um, me conduziram escada à cima.

(...)

Não sei quanto tempo se passou. Não sabia se havia perdido a consciência alguma vez ou se delirava. No quarto, tudo ficou muito mais confuso. Não sabia se era devido ao silêncio e a escuridão, ou se eram as circunstâncias piorando.
Liz havia vindo limpar a ferida, fazer um novo curativo, como se isso, de alguma maneira, fosse melhorar as coisas. Depois, ela simplesmente sumiu. Não a vi sair.
Megan também, mas eu não entendia o que ela dizia. Parecia falar outro idioma e eu podia jurar que ela colocou a mão sobre a ferida quando ainda estava exposta.
Depois, ninguém mais veio. Ou se veio, eu não vi. Sentia como se estivesse ali durante uma semana inteira. Mas pelo pôr do sol, presumi que havia passado pouco tempo.
Eu sabia, no fundo de meu consciente, que eu estava delirando, mas certas coisas pareciam reais demais. Como a dor, que só piorava, e estava longe de ser algo que eu imaginava poder sentir. Era surreal.
Em um certo momento Robert apareceu no quarto, ele se sentara numa cadeira ao meu lado e eu sentia sua tensão, ficou a me observar por alguns instantes, antes de começar a falar.
— Eu sabia que você era diferente, James... Bem diferente dos seus irmãos. Roy é meio louco, mas ele nunca sabe o que está fazendo... Já você, sempre soube; e mesmo assim continuou a se meter em confusões. — Ele fez uma longa pausa, daquelas quando a pessoa quer continuar falando, mas sabe que se dizer mais uma palavra, desabaria em lágrimas. Então respirou fundo, antes de continuar. — Eu vou ser sincero... Eu não sei como te tirar dessa, não dessa vez. Queria ter percebido antes, e te dado uns belos puxões de orelha; queria não estar tão ocupado e distraído pensando em mim mesmo; queria não ter feito planos longe de vocês, porque no fundo eu sabia que enquanto eu estivesse fora, mesmo por alguns dias, haviam grandes chances de algo acontecer. Me perdoe, James, se eu falhar... Mas prometo que tentarei de tudo.


Robert se levantou, beijou minha cabeça e saiu.
Eu senti como se aquilo fosse uma despedida.
Robert atribuía a culpa à si mesmo. Eu queria poder dizer para que não fizesse isso, mas mesmo se pudesse, seria inútil. Ele se sentia responsável por todos nós, assim como por cada passo nosso.
Então era isso. Esse seria o meu fim. 
Por um lado eu estava assustado, com medo... Por outro, só queria que isso acabasse logo.



Oláa, meus amores! :D
Eu demoro, mas eu sempre volto, não é mesmo? hahaah
Vamos lá, vou colocar uma meta então...
Se esse capitulo bater 10 comentários e 10 avaliações, eu posto outro capítulo ainda esta semana!
Agora é com vocês! :D


Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora