34. Singularidade

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Ficou um pouco tarde, e elas foram embora. Até por que Kate ficou um pouco "alegre demais" para continuar tomando ponche. Foi a primeira vez na noite em que eu ri.
- As coisas estão mudando; realmente está começando um novo ano. Robert não anda mais tão preocupado com tudo. Kate faz muito bem a ele; e pelo o que estou notando, com ela também está sendo assim. O que por um lado me preocupa, mas por outro me deixa feliz... Roy está mais tranquilo, nunca mais quis tocar no assunto, tampouco voltar à árvore que produz tal fruta que quase o levou à morte. E Ben... Bom, finalmente você e Liz começaram a se entender.
Ben sorriu de canto.
- Mas, e você?
- Ah... Estou fazendo o que é o certo, ou pelo menos o que acho ser...
- Sim, eu concordo que mantenha a distancia da filha do caçador; mas o que te faz fazer o mesmo com Dakota?
Pensei um pouco.
- Pra ser sincero também não sei. Eu acho que estou cansado de insistir.
- Cansado? Você tem a vida toda pra cansar, e vai cansar agora?
- Não é tão fácil como parecer ser... Com Liz, você...
Ele riu, me interrompendo.
- Não ouse dizer que foi fácil com a Liz.
- Eu não ia dizer isso... Mas são situações diferentes; com Liz "nada" te impedia, entende? Com Dakota é complicado por que ainda é difícil ficar perto dela; ela está me odiando, e ainda tem o Alex de quebra. E na verdade não foi eu que me afastei... Acho que acaba sendo mais fácil continuar distante, do que tão perto...
- Eu não acredito que você não consegue seguir os melhores conselhos que já me deu.
- É mais fácil falar, não é?
- Sim, isso tenho que admitir. Talvez se você não tivesse duvidado, eu não teria beijado Liz ontem.
- Foi uma aposta e tanto!
- Desculpe, eu ouvi direito? - Liz apareceu no topo da escada. - Quer dizer que me beijar foi parte de um acordo, Ben?! Ou melhor dizendo, uma aposta!
Ben estava de costas pra ela; fixou os olhos em mim, provavelmente com medo de olhar para trás.
- Liz, me deixe explicar... - Ele virou-se subitamente.
- Não precisa. Você já disse tudo que eu precisava saber.
Ben ficou parado no pé da escada, enquanto Liz foi para seu quarto.
- Não vai ir atrás dela? - perguntei.
- Não - ele disse, seco.
- Sorte no jogo, azar no amor. Eu acho que isso não é uma superstição - comentou Roy, encostado na porta da cozinha, enquanto assistia tudo.
- Roy, hora inadequada pra brincar - eu disse.
- Desculpe. É que Ben parece estar bem tranquilo.
- Não estou tranqüilo; como pode pensar que estou tranqüilo? Ela está lá pensando que eu só quis beijá-la por causa de uma aposta, provavelmente pensando também que tudo o que eu disse fazia parte disso, e o pior é que ela está certa, realmente foi o que pareceu. E agora eu nem sei como, mas vou ter que pensar numa maneira de fazer ela acreditar em mim, ou então nunca mais vou ter a confiança dela, e tudo isso por causa de uma palavra insignificante - ele disse num jorro de palavras repentinas.
Ficamos olhando em silencio.
- Agora sim; não está mesmo tranquilo - disse Roy, como quem não podia deixar essa passar.
Ben o fuzilou com os olhos e se jogou no sofá, pensativo.
Olhei para o lado, agora percebendo que não via Robert há um bom tempo.
- Está procurando pelo nosso pai? - perguntou Roy.
- Não o vejo desde às 09:00 am. - Já era quase meio dia.
- Ele começou a sumir assim de repente, só você que não percebeu isso antes.
- E aonde é que ele está?
- E aonde é que você acha? - Ele riu. - Logo ele liga dizendo para irmos pra lá também.
- Pra lá...?
- Kate! Para casa da Kate, James! Sério que você é tão ingênuo assim? - ele riu novamente. Vi Ben quase rir também.
- Então está mesmo ficando sério?
- Já está sério. Não duvido que ele anuncie o noivado nesta tarde de Natal.
Parei pensativo.
- Não se assuste, James. Isso pode ser bom pra você.
- Como pode ser bom pra mim? Só vejo pontos negativos.
- O dia em que acontecer, você vai se lembrar do que estou querendo dizer.
Franzi o cenho.
- Foi melhor ele estar ausente - assinalou Ben.- Não sei se ele acreditaria em mim ou se tudo iria só ficar pior. Pelo menos agora tenho um tempo pra pensar em como agir com a Liz.
- Eu acho melhor agir rápido - disse Roy.
- Por que?
- Falando no diabo. - Roy mostrou a tela do celular; Robert estava ligando. Ele atendeu. - Oi, pai.
"Oi, filho. Avise seus irmãos e venham para a casa da Kate. O almoço já está quase pronto e temos uma surpresa para todos vocês" - Pudemos ouvir as palavras de Robert dentro do aparelho, e a risada de Kate no fundo.
- Tudo bem, pai. Já estamos indo. - Desligou.
- Eles vão noivar! - eu disse, de supetão.
- É o que parece.
- Cara, não sei se eu comemoro ou se choro.
- Eu que diga! - Ben afundou o rosto em suas mãos.
Roy riu.
- Calma! Não é o fim do mundo, parem de choramingar.
- Pra você tá ótimo, né Roy - reclamou Ben.
- Por que se tá se preocupando com isso, Ben?
- Não verdade não estou. A sua tranquilidade que está me incomodando.
- Ui, desculpe ai.
- Cara, o que vou fazer pra fingir que a Liz não está me odiando? Como vou evitar que ela diga algo a ele? Como vou evitar que ele perceba algo nela ou até em mim?
- Abra o jogo ué. Pretende esconder isso até quando?
Ben riu alto.
- Até parece que não conhece, Robert! Não tem como esconder nada dele; não por muito tempo.
- Se Chance estivesse por aqui seria mais fácil... Três palavras e você iria dizer toda a verdade.
Ben não respondeu.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora