Ficamos conversando por horas. Agora o tempo passava tão depressa que eu nem via. Era tranquilizante tê-la por perto; eu podia facilmente desfazer todos os meus planos pra vida e ficar ali, pelo resto dela.
Eu sentia que grande parte de D. estar ali era saudades, eu não queria que ela fosse embora, mas o fato dela ter criado tantos assuntos aleatórios, só comprovava a teoria de que ela também estava enrolando.
Ainda era novo pra mim ter Dakota tão próxima, tão minha. Parecia que a qualquer momento eu iria acordar e perceber que tudo não se passava de um sonho.
Ela havia se rendido totalmente, não se importava em demonstrar tanto afeto, que eu imaginava nunca existir.
Dava medo.
Medo de tudo isso acabar. Estava tudo tão perfeito entre nós, que parecia ser tão frágil; parecia estar prestes a ter um fim a qualquer momento.
Eu esperava que isso fosse apenas paranoia minha. Precisava ser.
Algum tempo depois, por volta de uma e meia da madrugada, Dakota começou a ficar sonolenta. Ela repetia algumas vezes que precisava ir embora, mas nem sequer ameaçou levantar da cama, e eu não levava a sério, mudava de assunto, queria mesmo é que ela ficasse, mas estava com medo de pedir e ser interpretado de maneira errada.
— Agora é oficial, eu preciso ir...
— Sozinha? Já é quase duas horas da manhã, é perigoso...
Ela riu.
— Juneau perigoso? Não conheço cidade mais tranquila, e você sabe o caminho que eu faço, não existem monstros lá fora.
Franzi o cenho, tudo bem que parecia uma desculpa esfarrapada, mas eu estava falando sério. Quando ela citou "monstros", gelei. Era tão contraditória essa minha preocupação com ela, sendo que os "monstros" realmente não estavam lá foram, estavam aqui dentro.
Eu não sabia se meu desejo de estar com ela havia se mascarado de pressentimento ruim, de qualquer maneira eu não conseguiria deixa-la ir.
— Fica comigo esta noite... — arrisquei pedir.
Ela não conseguiu disfarçar a surpresa, e eu o nervosismo.
Me respondeu com um sorriso bobo.
— Ok... Esta noite.
Ela deitou ao meu lado e se envolveu em meu abraço.
Era engraçado como o sono a deixava bêbada. Eu ria quando ela dizia algumas coisas sem sentido, e ela ficava brava por eu estar rindo dela, mas depois acabava rindo também.
Não demorou muito pra ela pegar no sono.
Aconcheguei-a melhor em meus braços e tentei não me mover muito para não acordá-la. Observá-la dormindo era incrivelmente agradável, um dos meus momentos preferidos, só perdia para vê-la rindo.
(...)
Abri os olhos, num susto. De maneira alguma eu estava sonhando, mas foi parecido como aquelas vezes em que você está caindo num sonho e então acorda assustado.
Olhei para baixo, Dakota ainda estava na mesma posição de antes. O dia já havia amanhecido.
Eu não sabia se isso fazia parte do processo, mas eu havia perdido a consciência mais uma vez.
— Que vergonha... É a segunda vez que faço isso... — Dakota disse baixinho.
— Dormir comigo?
Ela assentiu, constrangida.
— Por favor, faça isso mais vezes...
Ela riu.
— Desculpe, eu te acordei?
— Não... Eu já estava acordada, só não quis te acordar.
Franzi o cenho. Deixaria que pensasse que eu estava dormindo, embora isso me preocupasse um pouco.
Ela se levantou e ficou de frente comigo.
— Como está se sentindo hoje?
Deste angulo, eu conseguia vê-la perfeitamente. Ela sorria pra mim, esperando por uma resposta, sem perceber que eu mais nada fazia, além de apenas contemplar seus traços perfeitos. Os raios de luzes, entravam pela janela e refletiam em sua pele impecavelmente lisa e levemente rosada. Ainda era difícil de acreditar que ela estava ali.
— Não poderia estar melhor! — respondi, ainda vidrado.
Ela enrubesceu instantaneamente, e eu ri. Vermelha, ficava ainda mais linda.
— Vejamos... Acho que já consigo levantar...
— É sério? Não sei se você já pode levantar, James.
— Se eu não sentir meu corte abrir, por que não?
— Não parece ser uma boa ideia... — disse, receosa.
Agarrei o colchão, ao sentir algumas fisgadas. Dakota estreitou os olhos, percebendo que não estava certo. Então tratei de me levantar rapidamente, antes que ela tentasse me impedir.
Já em pé, abri os braços e sorri pra ela, embora a dor estivesse presente.
— Está tudo bem, está vendo?
— De verdade?
— Absolutamente.
Ela deu um meio sorriso. Eu ainda sentia sua tensão.
Abracei-a e beijei sua testa.
— Relaxa, estou bem...
Peguei sua mão e caminhamos para fora do quarto, quando senti meu curativo umedecer.
— Vai na frente... Esqueci que preciso trocar o curativo.
— Eu te ajudo.
— Não! — disse, inopinadamente. O que foi suspeito, já que transpareci receio. — Quero dizer, não precisa... Prefiro fazer isso sozinho, é menos... desconfortável. — tentei consertar.
Dakota odiava ser inconveniente, portanto não insistiria já que imaginaria que sua presença seria desconfortante pra mim.
Ela assentiu.
— Qualquer coisa, é só chamar. — Ela sorriu e caminhou até a escada.
Entrei depressa em meu quarto, olhei pra baixo e em minha camiseta já começavam a surgir manchas vermelhas de sangue.
Me despi e retirei o curativo. A abertura estava consideravelmente menor, sinal de que havia melhorado, embora ainda sangrasse. Porém nada que me mataria.
(...)— Está um dia lindo! — Dakota olhava para o céu, encantada.
De fato, há muito tempo Juneau não tinha um céu tão azul, sem nuvens, sem neblina, com um ar tão agradável. Parecia até ser combinado.
O vento era gentil conosco, enquanto eu caminhava lentamente, devido ao medo da abertura começar a sangrar novamente, ela andava de costas, para permanecer frente à frente comigo. Com um lindo sorriso estampado em seu rosto, ela contava coisas que eu não sabia sobre sua infância com seu pai. Sobre um dia perfeito como aquele, há doze anos atrás, Dakota e Veronika ganharam dois anéis, um para cada uma, que curiosamente não serviam à elas naquela idade; ele dizia que quando fosse a hora, iria servir.
— O mais engraçado é que nunca serviu... — Ela riu. — Houve um tempo em que era grande demais, e agora é pequeno demais, eu não sei se me distrai em alguma época que era pra servir, mas eu sempre tentei colocá-lo e nunca consegui. E é tão lindo... Gostaria de poder usá-lo nem que fosse por um dia...
— Veronika já usou o dela?
— Ah, você sabe como é Veronika... Ela não gosta de usar essas coisas, ela consegue ser mais básica do que eu. Embora, o guarde como tesouro. Talvez essa seja a lembrança mais íntima que temos com nosso pai... Ele disse que um dia não estaria mais aqui para nos proteger, mas esse anel seria nossa melhor forma de conexão. No fim, ele tinha razão...
— Quem sabe, o dia em que irá servir ainda não chegou.
Ela sorriu pra mim, me olhava de uma forma completamente diferente. Como se antes existissem barreiras, e agora não houvesse nenhum tipo de impedimento.
— Não acredito que te repudiei por tanto tempo...
Franzi o cenho, sem entender direito.
— O fato de estar com Alex me fez fechar os olhos para o seu melhor lado. E eu o odeio profundamente, mas... Não posso culpá-lo, quando fui eu mesma quem fez isso.
Ela parou, pois não havia mais para onde ir. Estávamos na pedra mais alta.
Aos poucos me aproximei dela, e segurei sua cintura.
— Dakota... Esquece isso...
— Te evitei de todas as formas possíveis... Evitei encontrar você, falar de você e até pensar em você. Tentei várias vezes te excluir do meu mundo, da minha vida, mas você sempre continuava lá. E quando eu achei que já estava tudo perdido... Que havia deixado escapar o único e melhor homem que já amei de verdade... Eu percebi que estava fazendo isso com a pessoa errada...
Uma onda de calor e arrepio correu pelo meu corpo. Amar? Era isso mesmo que eu havia escutado? Eu sabia que Dakota estava diferente e que tinha sentimentos por mim, mas... Amar? Era demais pra raciocinar.
Senti suas mãos soadas em minhas costas, o nervosismo tomava conta de nós dois.
Ela ainda me olhava nos olhos, esperando que eu dissesse algo, mas por alguns instantes, eu me perdi de mim mesmo.
— Desculpe... Não esperava por isso...
Ela riu, e constrangida abaixou o rosto.
Com as pontas dos dedos, peguei seu queixo e puxei pra cima, coagindo-a a olhar pra mim.
— Foi aqui, onde te vi pela primeira vez... Desde então eu nunca mais consegui te tirar da minha cabeça. Me desculpe, se algumas vezes eu te assustei quando tentei me aproximar, juro que só queria te manter por perto. — Nós rimos. —E agora, nem posso acreditar que te tenho tão perto... Eu te amo desde o primeiro dia, desde o primeiro segundo.
Ela me olhava de maneira profunda, num sorriso bobo.
— Dakota, namora comigo. Eu prometo te fazer feliz, como homem algum no mundo poderá fazer.
Ela abriu um sorriso lindo, e então uma lágrima escorreu sobre sua maçã do rosto.
— Com toda certeza! — disse, radiante, ao envolver meu pescoço com seus braços, me puxando num beijo duradouro.
Avaliem, comentem!! :D
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Entre Nossas Diferenças
Vampire"Uma metamorfose. Mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como a borboleta. De certa forma, já passei por uma também." James, um jovem rapaz alto e de longos cabelos loiros, ao se ver numa situação em que sua vida é mudada r...