58. Sexo ou nada mais

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Era 15 horas e eu ainda esperava por uma mensagem de Dakota.
Já havia mandado umas dez mensagens de madrugada e de manhã, e me convencia que ela não tinha visto por que ainda não havia acordado, ou estava ocupada demais pra mexer no celular.
A verdade é que ela estava mesmo magoada e não queria falar comigo.
Tentei ligar pela terceira vez, e esperei até cair na caixa postal.
 
"D., me liga quando quiser conversar.
Ou pelo menos responde as minhas mensagens...
Me desculpe por ontem.
"
 
— Roy, poderíamos conversar um momento?
Roy levantou-se e sentou na cama, deixando o game-play de lado.
— Claro, cara, fala ai.
— Eu não quero ser invasivo, mas não sei como chegar ao ponto de outra forma.
Ele assentiu e esperou.
— Você e Veronika já... — Não terminei a frase, afim que entendesse. 
Ele riu.
— Está perguntando se eu e Veronika já transamos?
— É - dei de ombros. Ele riu.
— Bom... Não é muito frequente, mas sim, algumas vezes.
— Algumas vezes?! — Não pude segurar a surpresa. Pra mim, uma única vez parecia impossível.
— Sim, mas como disse, não é muito frequente... Eu tento ficar sempre perto de todos, na sala e tal, evitar que fiquemos sozinhos... Enfim, evitar momentos propícios.
— Não entendo... Se já fez "algumas vezes", por que evita?
— Porque ainda tenho medo de machucá-la. Você sabe, Veronika é a primeira garota que me relacionei há décadas, e embora não seja algo tão absurdo quanto parece, é mais difícil quando você se importa...
— Por que diz isso?
— Bom, eu conversei com Ben e Chance sobre isso, antes de acontecer... Sobre fazer com mulheres humanas, eles já fizeram muitas vezes com garotas diferentes, mas não amava nenhuma delas. Na linguagem bem clara, se você machucar a garota no ato, é "de boa", vida que segue né? —Ele riu, sarcástico   — Mas e quando a garota é importante pra você?
— Então há sempre um risco? 
— Eu acho que depende muito... Não é impossível, por mais que pareça ser. Mas sim, envolve sempre um risco, o que varia é a dimensão dele.
Assenti, pensativo.
— Está pensando com Dakota?
— Na verdade, ontem quase aconteceu... Mas eu parei antes.
— E ela não percebeu?
— Bom... Sabe que não sou bom em disfarces... Eu parei o beijo e tirei-a de cima de mim, não consegui dar uma explicação. E agora ela está brava, ou magoada, não sei... Não me atende e nem responde minhas mensagens. Estou com medo do que ela pode estar pensando.
Ele riu.
— Foi mal... Mas você realmente é péssimo, e se toda vez deixar assim na cara, ela vai pensar que você não gosta de meninas ou pior, que não gosta do corpo dela.
— Eu acho que já deve estar pensando algo parecido... Ela acha que fez algo que não gostei.
— Cara, eu não sei como você vai sair dessa, mas se sair... — ele riu, sarcástico de novo. — E tiver uma próxima vez, tenta. Você sabe... Isso faz parte. É claro que você não vai continuar, se ver que está no seu limite e não consegue ir mais afundo, mas é melhor ela pensar que você brochou espontaneamente do que deixar que ela pense que está fazendo errado ou que não gosta dela, sei la... Digo isso, porque Veronika chegou a pensar que eu não gosto do corpo dela, e foi bem difícil de convencer o contrário.

(...)

— E ai, cara, como andam as coisas? —  Chance se aproximava.
— Estou marcando um encontro com Jenny — disse, enquanto enviava a mensagem pelo celular.
— Não quero estar apressando as coisas. Se precisar de mais tempo...
— Eu prefiro revolver logo isso, é melhor para todas as partes.
— Tem razão... James, queria que soubesse que eu não estaria te pedindo pra fazer isso se não fosse pra nos proteger.
— Eu sei, Chance. Amanhã será o terceiro dia, e se eu não conseguir, continuarei tentando. Já coloquei nossa família em risco muitas vezes; tudo que eu puder fazer para nos proteger, irei fazer. Relaxa, não me sinto pressionado, é um acordo nosso.
Ele sorriu.
— Quer ajuda hoje? Enquanto você distrai ela, entramos na casa e procuramos a estaca.
— Não... Quanto menos pessoas envolvidas nisso, melhor. Jen é fácil de enrolar, e eu pretendo ser rápido. Enquanto ela me espera no café, eu procuro a estaca, tenho uma noção de onde possa estar.
— Boa sorte, em todo caso se precisar de ajuda, estarei pronto.
— Valeu, cara.
Jenny me respondeu de imediato, como se já esperasse por uma mensagem minha.
Respirei fundo, desejando que isso acabasse logo.
Me deparei com Matt sentado na escada do hall de entrada; passei por ele como se não estivesse ali.
— Vai encontrar qual agora? — ele perguntou, com um tom de desinteresse.
Parei, ainda de costas para ele. Um sorriso proveniente de ódio se formou em meu rosto. Não pude evitar em me virar para lhe responder.
— E o que isso muda pra você? - ergui uma sobrancelha, encarando-o.
— Bom, pra mim não muda muita coisa. Já para Dakota...
— Você está louco pra contar pra ela, não é?
Ele suspirou, divertindo-se.
— Tenho que dizer, é tentador.
— Então vai em frente. Conte, Matt. Esta esperando o que?
— Estou me divertindo.
— Ah, qual é!? Não é por isso que você não conta a ela. Existe algo por trás disso.
— Não, James. Engano seu. É puro divertimento mesmo; vai ser mais legal ver você se afundando sozinho. Quanto mais demora, melhor fica. - Ele abriu um sorriso de deboche.
Franzi o cenho. Havia ódio nas palavras dele, eu não entendia por quê.
— O que eu fiz a você?  Por que se importa tanto?
Ele riu, se levantou e entrou para dentro, me deixando sem respostas.
Louco. Ele só podia ser louco.
Continuei meu caminho. Jenny me encontraria no Café da cidade. Enquanto ela me esperava, segui para sua casa.
A constante ausência de Harold por um lado me ajudava muito, mas por outro me preocupava. Ele não tinha o hábito de se ausentar por muito tempo, no mínimo isso era algo relacionado a caça. Quem sabe, pensando mais afundo, a estaca poderia estar com ele esse tempo todo.
O porão era o lugar mais evidente que poderia estar.
Caminhei até a parte de trás da casa, encontrei a porta coberta de neve, com apenas a maçaneta exposta. Sinal de que havia um tempo que ninguém entrava ali.
Ao adentrar o porão, senti um cheiro peculiar. O cheiro de enxofre era marcante naquele lugar; haviam vários frascos em cima da estante que não ousei abrir, mas com certeza eram substâncias particularmente perigosas para vampiros.
Continuei andando, observando e evitando tocar nas coisas. A estaca tinha um tamanho notável, se estivesse ali, com certeza em algum momento eu esbarraria nela, afinal, o lugar não era assim tão grande.
Mas para o meu desprazer, ela não estava mesmo ali. Minha intuição já dizia, Harold não deixaria um objeto raro assim com tão fácil acesso. O que me restava agora, era apenas seu quarto.

Fechei a porta do porão e joguei neve por cima, tentando esconder meus rastros.
Jenny sempre deixava sua janela destrancada, então foi fácil ter acesso à casa.
Mas não tão fácil assim ter acesso ao quarto de Harold, que estava trancado. E por mais que eu soubesse alguns truques para abrir fechaduras, aquela era bem diferente das quais eu estava acostumado a abrir.
Pra não perder o tempo de estar ali, averiguei outras lugares da casa, como a sala de estar e de jantar, os banheiros, a cozinha e até o quarto de Jenny. Infelizmente o quarto de Harold era o único lugar mais apropriado que não pude entrar.
Ao caminhar pelo quarto de Jenny, percebi uma foto nossa em cima de sua cômoda.
Estávamos sorrindo; me lembrei que essa foi a primeira vez que sorri genuinamente, mesmo estando em pedaços por outra pessoa. Jenny me salvou; mesmo sem saber, me impediu de ser alguém que eu não me orgulharia mais tarde, pois isso era só questão de tempo, se Jenny não aparecesse e ficasse em minha vida.
Olhei para a tela do meu celular e Dakota ainda não havia me respondido e nem retornado minhas ligações.
Escutei o motor de um carro se aproximando; eu conhecia muito bem aquele som. Gelei.
Em questão de pouco tempo, os passos se aproximaram e ouvi o som da chave na fechadura.
— Jen? Está em casa? — Os passos pesados de Harold subiam as escadas, em direção do quarto de Jenny, e eu continuava imóvel, como um cãozinho que já apanhou muito.
Sem pensar mais uma vez, eu pulei a janela e corri para a floresta sem olhar pra trás, torcendo que ele não tivesse notado minha presença.
Chegando em casa, eu ainda não respirava.
— O que houve? Viu uma assombração na floresta? — Roy brincou.
— Pior — arfei.
— O caçador? —  Roy de repente ficou sério.
— Por pouco ele me pega dentro de sua casa.
— Cara, precisa ter mais cuidado — Chance disse, se aproximando.
— Ele chegou do nada! Faz dias que estava viajando, eu não imaginava que voltaria hoje.
— Nada da estaca?
— Nem sinal! Procurei em todos os lugares. Não está lá. A menos que...
— A menos...? — perguntou ansioso.
— Talvez esteja em seu quarto, mas estava trancado. E provavelmente fique assim todas as vezes em que ele sai de casa. Não sei como entrar lá sem pedir pra Jenny.
Chance parou pensativo.
— Acho melhor desistir dessa ideia, Chance... —  propôs Roy.
— Não. Desistir não... Estamos tão perto. Eu tenho uma ideia, mas não sei se James aceitaria, passa um pouco dos limites... — ele me olhou, esperançoso que eu aceitasse o que quer que fosse.
— Que tipo de limite? — perguntei.
— Bom, envolve Jenny pra variar... Você só precisaria dormir com ela... no quarto dele.
Eu ri, sem acreditar no que ele dizia.
— É sério. Isso é um plano perfeito. Você sabe, a cama dela é pequena, desconfortável. Olha o seu tamanho, você não caberia nela. A única cama que restaria, é a cama dos pais dela.
— Você não pode estar falando sério.
— James, querendo ou não, o sexo faz parte. Jenny dormiria e sobraria todo o tempo para você procurar a estaca. E é claro que ela iria fazer de tudo pra despistar os pais dela durante todo esse tempo.
— Você tem noção de quantas formas diferentes isso é errado? Eu não transei nem com Dakota! E agora quer que eu faça isso com Jenny?
Uma gargalhada ecoou do topo da escada.
 — Que namoros chatos ein, James. Vocês pega duas, mas na verdade não pega nenhuma? — Matt debochava.
— Cale a boca, Matt! — Chance o repreendeu.
— Escutando conversas alheias; está entediado, Matt?
— Não. Eu transei hoje — ele sorriu sarcasticamente.
— Não que eu quisesse saber disso, mas que bom pra você. — Sorri de volta, tentando passar por cima das provocações. — Talvez assim esqueça um pouco de mim.
— Gosto de mulheres. — Ele fechou a cara.
— Olha só, mas não é o que parece! Talvez essa seja a resposta do porquê vive me importunando.
Ele não respondeu, mas continuou a me encarar com ódio.
— Parece que o jogo virou, não é mesmo? — Roy gargalhou.
— Me deixa pensar, Chance... — falei. — Talvez ainda exista alguma outra maneira.
Ele assentiu.

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2019 ⏰

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