Liz se tornou a minha melhor amiga. Eu contava tudo a ela, mas toda vez que eu falava sobre a garota dos olhos claros, ela não parecia feliz. Parecia que eu dizia algo que a magoasse; ela abaixava a cabeça e ficava quieta, e só no dia seguinte ela voltava a ser a Liz de sempre.
Pensei em convidar Liz para uma conversa para ela me explicar o que estava acontecendo. Não era necessário, mas eu odiava ver o meu anjo de candura triste. Ela era sempre meiga e gentil comigo, e eu tentava o máximo não magoá-la. Eu queria vê-la sempre feliz, e me machucava se eu a deixasse triste.
Liz estava sentada na poltrona da sala, lendo "As mil e uma noites".
- Liz... posso conversar com você? - perguntei.
Ela tirou os olhos vidrados do livro e olhou para mim.
- Claro - respondeu.
Tirei cuidadosamente o livro de sua mão e coloquei na mesinha de canto. Peguei a mão dela e puxei-a com delicadeza. Fomos para fora da casa e enquanto caminhávamos comecei a falar.
- Liz...
- Diga - ela olhava atenciosamente em meus olhos, esperando.
- Bom... Eu não sei se é coisa da minha cabeça, mas eu percebi que toda vez que eu falo sobre a menina dos olhos claros... você muda comigo.
Ela desviou o olhar.
- Então... Isso é coisa da minha cabeça? - perguntei.
- Não - disse, sua postura revelava sinceridade.
- Mas por que isso, Liz? Eu não gosto de te ver assim.
- Não é nada, James. Você é meu irmão e está apaixonado por ela... Sei que vai se machucar; só isso. - Liz estava com a cabeça baixa.
Parei e segurei a sua mão esquerda. Com a minha mão direita coloquei em seu queixo e com brandura puxei para cima, obrigando-a olhar para mim.
- Não faça isso comigo, Liz - pedi.
Ficamos olhando fixamente nos olhos, ela parecia um tanto nervosa, eu estava quase ouvindo seus pensamentos. Por algum tempo a pausa permaneceu, e enfim o silêncio foi rompido por ela. Antes não tivesse.
- Eu te amo, James - disse, num jorro de palavras. E eu fiquei sem as mesmas.
Eu já havia imaginado antes, mas sempre achei que fosse apenas a minha imaginação. Isso mudava tudo.
- Liz... - Não consegui terminar.
- Não diga nada. Eu sei... Você não me ama - ela disse com melancolia.
- E agora, como vai ser?
- Vai ser do mesmo jeito. Eu não devia ter dito isso. Faz de conta que eu nunca te disse nada disso, tudo bem? Vamos continuar amigos. - Ela sorriu sem vontade.
Senti um aperto no peito.
- É claro...
- Eu não quero que você mude comigo por causa disso. Seja como antes, e não deixe de contar tudo pra mim.
- Vou continuar o mesmo, prometo. - Sorri.
Coloquei o meu braço sobre os ombros dela e continuamos a andar, ficamos um bom tempo conversando coisas inúteis. Ela tentou, mas não conseguiu disfarçar a aflição em cada palavra sua.
- Liz, você nunca me contou sobre seu passado - eu disse na esperança que ela começasse a contar sem que eu precisasse pedir diretamente.
- James, posso pedir uma coisa? - Os olhos dela brilhavam. Parecia que havia esquecido tudo o que acabara de acontecer.
- É claro.
- Mas promete que você vai fazer?
- Depende...
- Não é isso, seu bobo - disse rindo.
- Eu nem disse nada. - Sorri pra ela.
- Mas eu sei que você pensou.
- Pode pedir, Liz.
- Então você promete que vai fazer?
- Eu não prometo nada... Mas fale, estou curioso. Quem sabe eu faça...
- Ontem eu sonhei que nós dois fizemos um piquenique em frente ao lado Peyto.
- Ah não, Liz. Isso é coisa de meninas.
- Por favor, James!
- Por que você não chama uma amiga que seja menina de preferência?
- Por que foi com você que eu sonhei!
- A gente pode ir até o lago Peyto... Mas não para fazer piquenique.
- Ah, mas assim não teria graça.
- Teria sim! A gente pode ficar jogando pedrinhas no lago, olhar elas saltarem sobre a água.
- Pare de brincar, James. É sério...
- Se eu for fazer piquenique com você em frente ao lago Peyto e alguém nos ver ou ficar sabendo vai pegar mal pra mim. Algumas pessoas sabem que somos irmãos.
- Ah, pare de ser machista, James. Vamos lá, foi tão legal em meu sonho.
- Mas se vamos fazer piquenique... O que vamos comer? - perguntei confuso, afinal, seria bizarro levar sangue.
- Bom... Não pensei nisso... Mas nós não precisamos comer.
- Então pra quê fazer piquenique? - Eu ainda estava confuso.
- Ah, James, sem mais perguntas. Vamos! Por favor, por favor, por favor! - Ela implorava, até parecia uma criança.
- Como você é insistente...
- Isso é um sim?
- Tudo bem, eu vou. Mas ninguém precisa saber, ok?
Ela abriu um sorriso de orelha a orelha.
- Então 19:30 esteja em casa - ela disse sorrindo.
- Piquenique à noite?
- Sim! - Ela piscou e saiu correndo de volta pra casa. Isso me deu a impressão de que estava escondendo algo.
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Entre Nossas Diferenças
Vampiro"Uma metamorfose. Mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como a borboleta. De certa forma, já passei por uma também." James, um jovem rapaz alto e de longos cabelos loiros, ao se ver numa situação em que sua vida é mudada r...