40. Entre razão e emoção

110 17 0
                                    

Foi força do hábito. Mas os olhos dela chamavam os meus, como o imã atrai o ferro.
Comecei a entrar em desespero quando percebi que ela queria me beijar. E ainda mais quando percebi que eu também queria! Meu corpo gritava por ela, e meus pensamentos gritavam para que eu desviasse o foco. O que eu estava seguindo? A razão ou a emoção?
É claro, eu devia seguir a razão, por que aquilo não se tratava só de mim. Deveria pensar em sua segurança e não em mim, não no que eu podia estar sentindo por ela naquele instante.
Eu não podia manter o momento, mas agora os seus lábios me chamavam e os seus olhos eram penetrantes; e não conseguia fazer com que ela parasse de me olhar assim.
Mais como um movimento reflexo, puxei sua cintura pra mais perto; senti uma forte emoção correr por todo o meu corpo e me fez tremer. Escutei seu coração bater forte demais; as palpitadas aceleradas me estimularam ainda mais, como se isso ainda fosse preciso.
Meus lábios ansiosos demais encontraram logo os dela. E o amor dela que surgiu em nosso beijo era vivo, quase tangível. Senti uma de suas mãos quentes agarrarem a minha nuca, e subir para agarrar as raízes de meus cabelos; com a outra, ela seguiu o caminho até minhas costas. Eu fechei os braços em sua cintura, e a puxei para mais perto. Era impossível estarmos mais colados.
Meus lábios ansiavam ainda mais pelos dela, me deixando quase louco.
Sua respiração estava tornando-se incontrolavelmente ofegante, o que me preocupou muito, então parei o beijo; porém, não desencostei meus lábios dos dela, entreabri-os para que ela pudesse respirar. Senti seu hálito humanamente quente em minha língua; ela não parava de ofegar.
- Preciso respirar - arfou.
Meu sorriso brincou em seus lábios.
- Desculpe - sussurrei. Lembrei-me de repente, ela era humana.
Afastei-me rapidamente e cuidadosamente por lembrar de que eu acabara de quebrar uma das principais regras de uma boa amizade.
O que eu fiz? Eu acabara de beijar a minha melhor amiga, acabara de iludi-la ainda mais.
Aonde fora parar a decisão de que eu ia seguir a razão e não a emoção? Senti o sangue fugir de meu rosto, o que provavelmente me deixou quase translúcido.
- James? O que foi? - Ela olhava preocupada para mim.
- Me desculpe!
Como eu ia dizer a ela agora? Como eu ia dizer que não era aquilo o que eu realmente queria? Eu não podia magoá-la... Talvez a melhor forma fosse não dizer nada, até por que no fundo ela já havia entendido.
Olhei além da janela e as nuvens estavam baixas demais, formando-se num manto cinza, o que certamente revelava chuva. O dia escurecia mais depressa do que o habitual, tornando-se sombrio.
- Preciso ir...
Ela se afastou de mim, degavar. Segurei seu rosto e beijei sua testa.
Sai antes que eu cometesse outro erro.

- Então quer dizer que você vai namorar a Jenny? - perguntou Roy.
Estávamos sem nada para fazer - como sempre -, sentados no sofá. Roy procurava um canal que chamasse sua atenção na tv.
- Shhh! - sibilei. - Robert pode escutar!
- Qual é. Acha mesmo que ele estaria prestando atenção em nós com Kate ao lado? - sussurrou ele.
- Não vou namorar a Jenny - sussurrei também. - Não sei como reparar esse erro.
- Não repare, ué. Agora que você chegou até ai, continue. Vai que rola algo interessante.
- Não... Jenny é minha amiga. Não quero magoar ela.
- Cara... Você sabe que sempre torci para que você ficasse com a Dakota, mas enquanto Alex estiver no caminho, vai ser difícil.
"Enquanto Alex estiver no caminho...", instantaneamente me vi tirando literalmente Alex do caminho. Sacudi a cabeça com essa ideia absurda. Roy não percebeu.
- Você pode se divertir enquanto isso. - Ele abriu um sorriso malicioso para mim.
- Não viaja, Roy.
- Rá. Era só o que me faltava - disse olhando para a porta.
- O que?
- Visitas. Por mim não serão bem vindos.
Olhei para o mesmo lado; Ben acabara de abri-la e entrava primeiro; Collin, Phil e Jeremy vinham logo atrás. Eu sabia que eram os três pela reação de Roy, mas eu não sabia dizer quem era Collin e quem era Jeremy. Os dois novos garotos eram familiares para mim; o moreno alto ainda mais. O baixinho tinha um aspecto de garoto-mau. Semicerrei os olhos para Phil, não acreditava que ele teria essa coragem, mas procurei não encará-lo, lembrando do que Robert havia me dito sobre as mudanças de um Scarly.
- Mais um dia com os sacanas - acrescentou Roy.
- Fique na sua - murmurei.
- Eles que tem que ficar na deles. Estou em minha casa, se lembra? Phil ajudou Alex a te espancar, lembra disso também?
- Kate está aqui hoje, não vamos causar desagrado.
- Por que Ben os trouxe? Ele sabe o que eu penso.
- Roy, acredite, eu também não os quero aqui, mas...
- Me erra, James - ele me interrompeu. - Não vou fazer nada que não seja pedido.
Revirei os olhos, sacudindo a cabeça. Roy seria louco o bastante hoje?
- Ben, vai fazer piquenique hoje? - perguntou Roy.
Ben o ignorou, - sabia que Roy iria gostar de provocar. - Os quatro sentaram-se na mesa da sala de jantar; Phil segurava na mão, um papel parecido com um mapa.
- Preciso de uma caneta - disse Phil, esticando o papel na mesa.
- Vou procurar uma - disse Ben, levantando-se e caminhando até a escada. Na subida ele trombou-se com Liz; trocaram um beijo, e voltou a subir, enquanto ela voltou a descer.
Liz saltitou para a cozinha, passando pelos três garotos da mesa; eles seguiram-na, em conjunto, com os olhos.
Ela ficou mais rígida quando percebeu; estreitei os olhos para os três e Roy rosnou ao meu lado.
- Ben que tome cuidado - sussurrou o moreno.
Ben descia a escada com os olhos estreitos; ele conseguiu pegar a frase, não sabia ao certo do que se tratava, mas era esperto.
- Está aqui a caneta - disse Ben, passando a caneta para Phil, e depois se sentando na cadeira.
Roy por enquanto estava na dele; mas tudo começou a sair do controle quando o baixinho com cara de encrenqueiro começou a encará-lo. Roy, jamais deixaria isso quieto.
- Qual é? Me acha bonito? - perguntou Roy, irritado.
- Hã? Qual é a sua, Roy? - respondeu o baixinho.
- Está muito esquentadinho, Roy. Está de TPM? - perguntou o moreno.
Roy rosnou. Quando ia levantar, apertei seu braço contra o sofá, para impedi-lo. Ele me fuzilou com os olhos.
- Me solta - grunhiu ele.
Gesticulei com os olhos para a cozinha; onde Kate e Robert estavam.
Ele bufou e afundou-se mais no sofá.
- Vamos ter foco? - perguntou Ben.
- Prestem atenção aqui, seus idiotas - disse Phil.
Phil estava quieto, na dele. Mas ele não enganava Roy, e muito menos a mim. Estava na cara de que havia alguma coisa por trás daquela calma toda.
- O que estão planejando? - sussurrou Roy.
- Não sei - sussurrei também. - Mas vou descobrir.
- Quer apostar quanto que descubro agora?
Olhei desconfiado e curioso para ele.
Roy levantou-se do sofá e caminhou, despreocupado, até a mesa; onde se sentou ao lado de Ben.
Ergui as sobrancelhas, reprimindo um riso.
- E aí, Ben? - Roy passou um braço pelos ombros de Ben. - O que estão fazendo? - Ele se inclinou para olhar o papel.
Phil puxou o papel a súbitas. Enquanto os outros dois, encaram-no surpresos.
- Descarado - murmurei, divertindo-me junto.
- O que está escondendo de mim, Phil? Vindo de vocês, nada me assusta. Só me surpreende um pouco que o meu irmãozinho aqui, - ele bagunçou o cabelo de Ben -, esteja envolvido em suas tramas.
- É trabalho de faculdade, Roy - murmurou Ben.
- Ah, é? Então por que não me deixam ver? - desafiou Roy.
- Por que não é da sua conta - disse Phil.
- Engraçado! - Roy se debruçou tão depressa na mesa, que não sei como o vidro não se espatifou. - Por que eu acho que tudo que está dentro da minha casa, é da minha conta.
Phil apenas o encarou, sem palavras.
Roy se endireitou na cadeira, tornando sua expressão mais leve.
- E então? Não vão me mostrar o que é? - propôs Roy.
- Não - disse Phil, decidido a não voltar o papel no vidro da mesa.
Roy abriu um sorriso sarcástico em seu rosto.
- Então, meus camaradas... eu os convido a se retirar de minha residência - ele disse, com o sorriso intacto.
- Roy! - censurou Ben.
- É um convite - defendeu-se. - Caso não aceitarem, terei que fazer com minhas mãos.
- São minhas visitas - disse Ben.
- Não são bem-vindos. Eles sabem disso; você sabe disso. E não sei se você se lembra, mas Robert nos dá o direito de escolher quem receber em casa, e se um não aceitar a visita, tem o direito de se opor. Eu estou me opondo agora.
Eu estava pasmo com o comportamento de Roy; na verdade, todos nós estávamos. Porém, isso era típico dele.
Phil levantou-se da cadeira e direcionou-se, em silencio, até a porta. Os outros dois seguiram-no.
- Vamos esperar você ali fora, Ben - disse Phil ao sair pela porta.
Roy sorriu, satisfeito.
- Depois vamos ver o que Robert acha disso - murmurou Ben, zangado.
Roy deu de ombros, indiferente.
Ben o ignorou e foi até onde os três patetas estavam.
Um motor de carro que não era um dos nossos, roncou, e cantou pneu na terra molhada. Roy ficou ainda mais presunçoso; - e eu que pensei que seu ego não poderia ficar maior.
- Mandou bem, Roy.
- Eu sei - disse jubiloso. Revirei os olhos, mas satisfeito.
- Garotos, vou levar a Kate para casa. Não vou demorar; será que nesse meio tempo, vocês poderiam se comportar? - Robert olhou para o Roy.
- Claro - eu disse.
- Até mais, meninos - disse ela com um lindo sorriso que me fazia lembrar de Dakota.
- Até - eu e Roy dissemos juntos.
Robert e Kate saíram pela porta da sala. Ela já agia como se fosse minha mãe... Eu só estava ansioso - porém, com receio - para saber como seria depois que eles se casassem. Dakota seria minha nova irmã? Iria morar junto conosco? Eu teria que fingir que nada nos aconteceu, e fingir gostar de Alex? Eu teria que mais tarde assistir o casamento dos dois? Sacudi a cabeça, espantando esses pensamentos ruins.

Horas mais tarde fui para faculdade. Dessa vez sozinho, já que Ben havia saído com os três patetas, Roy não estava afim de trombar com eles e Liz havia ido mais cedo para passar na biblioteca.
Sentei-me no lugar de costume, e Megan já estava lá, sentada em seu lugar de costume também, ao meu lado.
- Hey!
- Oi, Megan.
- E aí, como foi o resto do seu final de semana?
- Tenso.
Ela riu.
- Sua vida deve ser bem emocionante.
- Não diria emocionante...
- O que houve, James?
- Por onde devo começar? - Parei pensativo. - Megan, pode me tirar uma dúvida?
- Claro... Se eu souber responder.
- Como estaria sua cabeça agora, se seu amigo tivesse te beijado.
Ela abriu a boca, surpresa.
- Dakota!?
- Não!
Ela franziu o cenho, confusa.
- Quem me dera... - murmurei comigo mesmo.
- Quem, James? - perguntou, agora curiosa.
- Não vem ao caso. Responda minha pergunta.
Ela fez uma carranca.
- Bom, isso é muito relativo. Se me dissesse quem, eu poderia te dar uma resposta melhor...
Revirei os olhos, na verdade era um jogo só pra eu confessar.
- Jenny.
- A filha do caçador!? - ela quase gritou.
- Shh! Fala baixo!
- Ficou louco?
- Megan, só responda a minha pergunta.
- Bom, pra começo, eu estaria muito confusa! Afinal, ela sabe que você é super afim da Dakota.
- Na verdade, ela não sabe nem quem é a garota... - corrigi.
- Enfim, mas ela sabe que há outra garota, por mais que você não fale mais sobre a D., por mais que ela não saiba nem o nome; cara, ela sabe que você está em outra.
- Isso é muito ruim? - perguntei, agora preocupado.
- Sim! Claro que é! Você gostaria de ser o consolo de alguém? Acho que não né... Por mais que você goste da pessoa, é ruim saber que ela pensa em outra.
- Fiz besteira...
- Pois é, fez mesmo. Você precisa falar com ela, dizer que foi apenas um beijo e tentarem esquecer isso, até por que, não tem como namorar a filha de um caçador. Eu já te disse o que eu penso, está arriscando muito sendo amigo dela.
- Não é tão simples, não posso simplesmente abandoná-la. Ela precisa de mim e eu dela.
- Ninguém precisa de ninguém, James.
Franzi o cenho, agora eu estava oficialmente muito preocupado.


Espero que estejam gostando! :D
Desculpe se eu demoro muito para postar capítulos novos, mas é que quero sempre fazer uma coisa bem feita. Enfim, votem e comentem, isso é muito importante pra eu saber o que estão achando!
Até o próximo capítulo! ;)

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora