1. O Início

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Muito cedo, eu descobri que a minha vida não seria a de um garoto normal. Percebi que a vida não quis esperar muito para me dar rasteiras.

A impressão é de que não tive pai e nem mãe, eles morreram num acidente de carro quando eu tinha apenas dois anos; nunca achei que os freios soltos foi um descuido ou qualquer coisa do gênero, sabotagem era a palavra mais adequada para isso.

Morar apenas com a minha avó paterna em Prince George desde que meus pais - que eu só conhecia por fotos - se foram foi muitos bom para mim, é claro que a ausência deles não era uma coisa com a qual me dava prazer ou me acostumasse fácil, mas a minha avó, determinada, guerreira e protetora, me criou de uma maneira certa, me fez crescer e evoluir como um rapaz correto.

Ao completar o meu 18º aniversário, ela faleceu, uma morte tranquila, mas tal qual me deixou muito pra baixo; às vezes vinha em meus pensamentos que ela estava esperando eu me tornar mais responsável, mais dono de mim mesmo para partir, pois eu não tinha quem cuidasse de mim; ela era a única. Se ela partisse antes, eu não saberia para onde ir; eu seria um garoto totalmente desorientado.

Sempre sofri de asma, e a bombinha sempre foi a minha salva-vida. Quando acabava o refil, eu pensava que ia morrer, e todas as vezes que isso acontecia, a morte era a única coisa em que vinha em minha cabeça e que eu queria que chegasse logo. Isso aconteceu poucas vezes, mas quando acontecia parecia que durava uma eternidade.

A última vez que o refil acabou foi na aula de biologia. Estávamos tendo aulas que envolviam serragem. Quando o professor saiu para buscar o que havia faltado para começar a aula, alguém começou uma guerra de serragem; ninguém lembrou que eu tinha asma, e sem pensar, jogaram uma boa quantidade de serragem em meu rosto.

Foi questão de segundos; comecei a passar mal, a asma estava atacando novamente. A primeira coisa que procurei foi a minha mochila - onde estava a bombinha de asma - naquela bagunça eu não encontrava nada, e ninguém percebeu que eu não estava nada bem.

Sai correndo pra fora daquela guerra, e o único que percebeu o meu desaparecimento foi o meu melhor amigo, Garry.

Ele veio atrás de mim com a bombinha; percebera que eu estava tendo um ataque de asma. Garry passou a bombinha para a minha mão, mas o que tinha no refil só deu para borrifar uma vez; tentei outras, mas nada aconteceu.

Corri para a floresta que era do lado da faculdade, lá o ar era melhor, era úmido. Garry veio atrás de mim. Só quando eu estava longe da faculdade, eu parei; não sei como consegui correr tanto. E não sei como Garry conseguiu me acompanhar - devia ter sido a preocupação.

Eu sentei num tronco coberto de musgo, e tentava respirar com todas as minhas forças. Garry me olhava assustado, com medo que eu morresse ali; mas com o tempo a minha respiração foi melhorando, até que aquela agonia parou de vez.

- Está melhor? - ele perguntou com os olhos arregalados.

- Acho que sim - respondi com a cabeça baixa e a voz falhando.

- Você é louco? Como pode andar com uma bombinha vazia? - perguntou indignado.

- Eu não sabia que ela estava vazia - respondi quase sem voz.

- Mesmo assim, James. Você devia verificar sempre.

- Tudo bem, da próxima vez eu verifico. Agora já pode ir para a aula; está perdendo tudo. Quero ficar mais um pouco aqui, vou ficar bem.

- Tem certeza?

Assenti com a cabeça.

Fechei os olhos, abaixei a cabeça e comecei a respirar calmamente, enquanto ouvia os passos dele se distanciando.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora