Dakota estava parada no jardim, levei um tempo pra acreditar que era de fato ela me esperando descer.
- Pode descer? - perguntou baixinho, numa voz doce e delicada.
Era alto demais para que qualquer pessoa normal escutasse, a intenção era que eu lesse seus lábios.
Porém, meus olhos estavam vermelhos, e eu não poderia me apresentar assim... Também não poderia deixá-la esperando.
Revirei as gavetas, a procura de minhas lentes de contato; já faziam anos que eu não as usava para sair na rua, com certeza estaria vencida, mas agora era a única alternativa.
Depois de uma boa bagunçada, as encontrei. Coloquei rapidamente e desci.
Robert não estava mais na sala.
- Aonde está Rob? - perguntei a Roy.
- Foi se deitar. - Não podíamos dormir, exceto por Liz, mas podíamos deitar e pensar em como foi nosso dia. - E eu já estou indo também. - Ele piscou pra mim. Revirei os olhos.
Abri a porta e lá estava ela, toda encolhida de frio, com o rosto vermelho e olhos inchados de chorar.
- Dakota?! - A surpresa que saiu em minha voz não era forçada, por mais que eu já tivesse visto que era ela lá embaixo, custava a acreditar. - Entre, você vai congelar.
Ela olhou pra mim, seus olhos subitamente voltaram a se encher de lágrimas. Então ela correu e me abraçou, enrijeci imediatamente, e só depois de alguns segundos consegui comandar meus braços para que a envolvessem também. Ela soluçava.
E eu já não entendia mais nada. Com certeza era Alex; o que ele havia feito dessa vez? Cantado sua melhor amiga? Arrumado uma briga? Ela claramente estava desesperada e não sabia o que fazer.
- Calma, Dakota. - Afaguei seus cabelos, enquanto ela afundava o rosto em meu peito. - Me conte o que aconteceu. - Fechei a porta e a puxei para o sofá.
Ela só sabia chorar, não saía nenhuma palavra inteira entre os soluços. Esperei pacientemente, até que se acalmasse, para então ir até a cozinha buscar um copo de água.
- Beba, vai se sentir melhor. - Entreguei o copo à ela. - E se a água não melhorar, também tem isto. - Coloquei uma barra de chocolate na mesinha ao lado dela.
Ela quase riu, mas estava triste demais pra ceder um sorriso. Ao menos não chorava mais.
- Agora me diga, o que devo a honra da sua visita?
Uma lágrima correu pelo seu rosto e pingou em seu joelho. Ela pegou o copo e bebeu um pouco da água.
- Desculpe... Eu não queria estar chorando na sua frente... Só que não consigo controlar isso.
- Oh! Ela fala! - brinquei. - Não se preocupe com isso. De alguma maneira temos que colocar pra fora o que magoa.
- Não assim... - Ela colocou as duas mãos no rosto.
- Dakota - Com cautela, afastei suas mãos. - Não tem que se envergonhar por isso, - passei o polegar em sua bochecha, limpando o caminho úmido que a última lágrima havia deixado. - Por que você fica linda chorando.
Ela olhou pra baixo, a decepção transparecia em seu rosto.
- Desculpe, James. Eu fui uma idiota! Sei que é tarde, que eu poderia ter ligado ou esperado até amanha, mas eu precisava vir me desculpar. Eu estava em casa, mas minha cabeça estava aqui; isso não podia esperar; eu tinha que fazer pessoalmente, tinha que ser hoje. Por favor, me desculpe.
- Hey, por que está se desculpando?
- Eu devia ter acreditado em você. Não sabe o tamanho do meu arrependimento; não sabe como eu queria voltar atrás... E de pensar que fiquei todo esse tempo sem falar com você, sem olhar pra você, estou me sentindo um lixo!
- Dakota, pare... Não fale assim.
- Eu só preciso que me desculpe, James. Sei que isso não vai mudar nada do que aconteceu, não vai mudar a forma de como estou me sentindo, nem o que pensa de mim, mas essa é a única forma de me redimir com você. Sei o que pensa que eu sou, mas...
- Penso que você é a Dakota. Pare de bobagem, não estou pensando nada. Esquece isso.
- Quer dizer que... consegue me perdoar?
- É claro. Não tem que pedir, isso não precisa de perdão.
Ela deixou escapar um meio sorriso e fixou os olhos em suas mãos que se entrelaçavam.
- Mas... O que te fez chegar a essa conclusão? - perguntei. Ela franziu o cenho.
- Não era pra eu estar em Juneau hoje. Eu iria ficar em Portland até dia 1 de Janeiro, com Alex e sua familia.
- E o que faz aqui, dia 26 de Dezembro?
- Bom... A família materna inteira de Alex mora lá. Eu nem sei se eu seria convidada por Alex, a questão é que a mãe dele insistiu muito que eu fosse, e eu fui... Chegamos dia 23, e na madrugada do dia 24 para o dia 25, na ceia de Natal, eu acabei pegando Alex se agarrando com uma de suas primas no fundo da casa. - Ela fez uma pausa, como se tivesse vendo as imagens em sua cabeça. - Ele estava bêbado; muito bêbado. Veio tentar falar comigo depois que virei as costas para aquela cena, e acabamos discutindo. O meu Natal havia acabado ali, fui para o quarto em que eu estava dormindo me tranquei lá e esperei amanhecer, no dia seguinte ele estava sóbrio, tentou novamente falar comigo, e discutimos mais uma vez. No meio da discussão ele começou falar sobre minha família, sobre os poucos amigos que eu tenho, e falou sobre você. Ele ficou tão enfurecido quando eu disse que pegaria o avião e viria embora, que nem se deu conta ao confessar que aquela noite na balada foi uma farsa. Comprei uma passagem para Juneau, e agora estou aqui; vim embora e ele está lá, provavelmente se agarrando com outra prima.
- Dakota...
- Eu sei, você vai dizer que não é a primeira vez.
- Eu ia dizer... que uma garota como você não merece um cara como ele.
Ela olhou pra mim, e entortou a boca num sorriso tímido, depois olhou pra baixo com a tristeza voltando em seu rosto.
- Não sei o que fazer... Quero dizer, hoje estou com raiva e não quero lembrar que ele existe... mas daqui alguns dias sei que vou ficar mal, que vou sentir saudades, e que vou querer voltar; será quando irei esquecer de todo mal que ele me fez...
- Amor cego...
- Isso nunca vai ter fim, não é?
- Depende... Enquanto você permitir que continue, não.
- Então me diz o que eu faço.
Fica comigo. Eu estava me contendo pra não dizer isso. Mas o que dizer se o que eu queria, era ela?
Eu tentei, juro que tentei não deixar que meu amor por ela influenciasse em meus conselhos... Por um tempo. Eu quis estar lá pra ela, quando precisasse... e estive; até que Alex nos distanciou. Agora eu não podia deixar que isso acontecesse de novo. Amor cego, era isso o que ela sentia. Por mais que ela estivesse chorando me pedindo perdão, uma hora ou outra, ele nos afastaria novamente. E sempre acabaria igual pra mim.
- Se afaste, Dakota. Resista a saudades; não vou dizer que vai ser fácil, mas uma hora a ausência compensa a falta que faz.
- É possível parar de amar uma mesma pessoa que você amou durante anos? Eu o conheço desde os meus 13 anos, e o amo desde então.
- Vou paracer um velho falando, mas... Você aida é jovem Dakota. Podemos amar várias vezes nessa vida; e as outras vezes pode ser tão intenso e incrível como a primeira.
Levei Dakota pra casa depois de um tempo. Pensando que talvez essa fosse a primeira e última vez que ela me procuraria pra conversar. Dei um beijo em sua testa e esperei que entrasse; antes de fechar a porta, ela acenou pra mim com um sorriso doce no rosto, que me desmontou inteiro. E então fui embora angustiado. Talvez eu estivesse errado em ser tão modesto e limitado naquela noite, mas eu não queria tirar vantagem de seu momento de fraqueza.
Eu não sabia quanto tempo duraria sua determinação em se afastar de Alex. Dakota sempre foi instável e imprevisível, só sabia que por mais que eu pudesse negar pra mim mesmo, eu sempre estaria lá pra quando ela quisesse voltar.
Passaram-se dois meses, -Alex havia voltado antes do ano novo, tentando ter o perdão de Dakota. - Ela foi resistente, mas acabou cedendo quando ele prometeu melhorar pela décima vez, mas dessa vez ele foi mais fundo, foi mais convincente; e pra provar foi até sua casa pedir perdão para Kate, por todas as burradas que já havia feito. É claro que ele não enganaria a todos, Kate até amoleceu, mas Veronika revirava os olhos tanto quanto eu.
No entato, Dakota já não era mais a mesma; Alex estava mais receoso, afinal, ele chegou a pensar que não a teria mais.
- Nada vai mudar, James. Eu prometo - dizia ela.
Mas mudou. Ela não me tratava mais com a mesma indiferença de antes, aliás, agora ela tinha zelo; entretanto as coisas foram esfriando e ficando cada vez mais distantes. Tínhamos encontros corriqueiros e rápidos, em sua casa ou na minha, quando nossos pais faziam reuniões.
Ela dizia não ter nada a ver com Alex, porém tinha. Eles estabeleceram regras, limites; Alex pra variar não estava de acordo com a nossa amizade, contudo, éramos quase da mesma família, encontros aconteceriam, Alex querendo ou não.
Pelo menos, agora ela olhava pra mim, conversávamos quando tínhamos a chance, e até tínhamos nossos momentos de divertimento. Sobretudo, eram breves. Eu só não entendia o que ela queria dizer, quando dizia "Quero começar de novo, o que eu nunca comecei".
Dali menos de duas semanas, no sábado, seria o aniversário de Dakota e Veronika. Kate estava organizando uma grande festa, iriam fazer 20 anos.
Já fazia um mês que eu não esbarrava com Dakota em reuniões de família. Ela não me ligava, e eu respeitava seu espaço, também não ligando pra ela.
Ao menos, com Jenny estava indo tudo bem. Ela estava honrando sua palavra de não dizer sobre nós a absolutamente ninguém, e até então estava dando certo.
Já ia fazer uma semana que eu não a via também. -Ela havia viajado com seus pais para Flórida, "à negócios" e não voltaria tão cedo. Harold havia dito para Robert que estava aposentado, todavia, atirar em mim devia ter aflorado seus instintos de caçador. - Mas nossas longas ligações um para o outro, compensava a falta que ela fazia.
Eu não havia dito nada sobre Dakota para Jenny. Andei evitando falar sobre ela, desde que Jen disse estar apaixonada por mim. Uma vez ou outra ela perguntava sobre "a garota" que eu nunca quis revelar o nome, mas eu logo mudava de assunto, pra não correr o risco de feri-la com alguma palavra dita sem pensar; era melhor prevenir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Nossas Diferenças
Vampire"Uma metamorfose. Mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como a borboleta. De certa forma, já passei por uma também." James, um jovem rapaz alto e de longos cabelos loiros, ao se ver numa situação em que sua vida é mudada r...