56. Novo conceito

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Passamos a manhã inteira lá fora, conversando e nos amando como jamais imaginei, gostaria de poder continuar assim o resto do dia, mas Dakota precisava ir embora e insistiu para que eu não a levasse, garantindo que poderia ir sozinha perfeitamente bem.
Bom, não havia muito o que fazer, já que eu não conseguiria dirigir, muito menos andar "tão longe".
— Já fiz esse caminho mil vezes, James... Até mesmo bêbada —  Ela riu.
Eu estava mesmo me preocupando muito com isso, deixei ela ir e prometi ligar apenas quando já houvesse dado tempo de chegar em sua casa.
Voltei para a minha, Matt estava sentado num banco na varanda, parecia estar nos observando, mas dei de ombros, pensando ser mais uma paranoia minha.
Levei séculos para subir os degraus das escadas, eu ainda sentia as dores.
Robert abriu a porta e fez um sinal para que eu o seguisse, aliás, sinal de que boa coisa não era.
Fui até a cozinha, onde ele estava, e então ele fechou as portas de vidro e me encarou seriamente.
— Eu só estava andando, não fiz nada que impeça a cicatrização, aliás, já melhorou muito desde ontem... — comecei a me explicar, deduzindo que o motivo por estar bravo era o fato de eu estar fora da cama, como ele havia restringido.
— Quando ia me contar sobre a filha do caçador? — me interrompeu, ignorando tudo o que eu falava.
Senti um gelo subir a minha espinha.
— Achei... que já soubesse...
— Não, eu não sabia. Kate não sabe, e pelo visto Dakota também não sabe.
Desviei o olhar, envergonhado.
— Eu estava esperando sua melhora pra poder me contar o que de fato aconteceu, como conseguiu ser atingido por uma estaca, mas agora não preciso mais perguntar, pois já imagino! Aliás, eu já deveria ter imaginado antes!
— Eu... estou tentando consertar isso...
— Está? Pois não é o que me parece!
— Quem foi que te contou?
— Isso não importa. Eu não sei por quanto tempo pretendia levar isso adiante, e esconder de todos, mas você precisa acabar com isso agora.
Assenti, sem respostas.
— Estou indo resolver algumas coisas com Kate, volto à noite, e espero que até lá já tenha resolvido isso.
Robert saiu, passou reto por mim, como sempre fazia quando estava furioso. E eu sabia que não era apenas por estar mentindo pra Dakota e consequentemente fazendo ele omitir para Kate, embora grande parte fosse mesmo sobre isso, mas novamente eu estava no caminho do caçador, eu estava desobedecendo as regras e colocando todos em risco. Era tanta coisa errada em uma só situação, e eu sabia que precisava mesmo colocar um fim nisso. Só não sabia como...
Talvez eu apenas precisasse ser direto e reto com Jenny, obviamente iria machucá-la, com toda certeza doeria muito mais em mim, entretanto, parecia ser a única maneira de colocar tudo em seus eixos, sem volta.
Sai da cozinha e me deparei com o resto da família na sala.
— Quem foi que contou à Robert sobre a Jenny? — perguntei, mesmo sabendo que não obteria respostas tão cedo.
Todos continuaram calados, com cara de que sabiam, mas não iriam dedurar.
Olhei meticulosamente para cada um. Apenas Matt estava com a expressão tranquila.
— Foi você, Matt? — Eu não queria acusar sem saber, mas estava na cara que havia sido ele.
— Oi? O que disse? — seu tom sínico foi irritante.
— Robert sabe sobre Jenny, você contou?
— Ah, sobre isso? Surgiu o assunto, ele perguntou e eu respondi. — Deu de ombros.  
— É sério isso? Você não tentou nem desconversar?  
—Ele iria saber de qualquer jeito.
Bufei, e me segurei pra não avançar nele. Virei-me contra a parede, e estalei os dedos enquanto olhava para o teto, sentindo o ódio me dominando.
— Hey, James. Relaxa — Roy levantou e foi até mim. —   Ele tem razão, Robert ficaria sabendo uma hora ou outra mesmo — disse, tentando amenizar a tensão na sala.
— Não, Roy! Ninguem mais precisaria saber. Estava tudo sob controle, Dakota não pode saber.
— Ela não vai ficar sabendo, relaxa cara, estamos entre família.
— Estávamos entre família! — Corrigi-o. — Como posso confiar depois disso?
— Ele vai ficar na dele! Não vai, Matt?!
Matthew não estava demonstrando importância à discussão, como se ele não fosse o motivo central, o que me irritava ainda mais.
Instintivamente dei um passo à frente, mas Roy me parou com a mão em meu peito. 
— Vai ficar de boa, não vai, Matt?? — Roy insistiu, com o tom da voz um pouco mais firme.
— Ok — Matt respondeu, dando de ombros.
Ele não ia ficar de boa. Percebi que teria sérios problemas com ele, e isso não era tão recente assim.
— Relaxa, cara... Não vale a pena — Roy murmurou pra mim.
— Eu juro que não respondo por mim se Dakota ficar sabendo por ele — avisei.
Subi as escadas, dessa vez um pouco mais rápido. O ódio era tanto, que até anestesiava a dor.

(...)

Algumas horas haviam se passado, a raiva tambem.
Eu estava pronto para conversar com Jenny e colocar um ponto final de uma vez por todas. Eu sofria só de pensar em como Jenny reagiria, mas o medo de perder Dakota era maior do que tudo.
Ao descer as escadas, vi que na sala estava Roy, Chance e Ben. Me senti um pouco aliviado em não precisar olhar para Matt mais uma vez. Percebi que os próximos dias seriam tensos.
— Hey, James... — Chance levantou e caminhou até a mim  — Posso ter uma palavra com você?  
Achei um pouco estranho, já que Chance se dirigia a mim poucas vezes. Não que isso fosse algo ruim, até por que não tínhamos nada um contra o outro.
— Pode falar, Chance...
— Não quero que me leve a mal, se sinta pressionado ou algo do tipo... Sei que sua situação está um pouco complicada e que pretende terminar tudo com a filha do caçador... Mas, ela está com a estaca na casa dela e seria uma ótima arma contra Morgan, eu achei que se você pudesse esperar mais um dia... Dois ou três dias no máximo! — Chance falava de uma maneira constrangida, mas determinada.
— Fala sério, Chance! — reclamou Roy. — Morgan de novo? Esquece essa louca, cara!
— Roy, você não entende. Ela está perto, eu sei que está. Estamos totalmente de mãos atadas, com a estaca estaremos em vantagem!
— Não estou entendendo, Chance... Você quer que eu peça a estaca à Jenny? — perguntei confuso.
— Ou roubar... — ele fez uma careta.
— Não pode estar falando sério.
— James, Chance tem razão — disse Ben. — Com a estaca estaríamos correndo menos risco se de fato Morgan estiver por perto, não só ela como qualquer outra ameaça... Não sabemos se a compulsão de Roy no caçador vai perdurar, mas sabemos que se isso não acontecer, a primeira coisa que ele irá fazer é vim atrás de nós com a própria estaca.
— Morgan não está por perto! — Roy discordou. — Isso é tudo uma paranoia de Chance, mas sobre outras ameaças e principalmente sobre o caçador tenho que concordar, nunca se sabe né...
— Sei que fui o culpado por trazer o caçador em nossas vidas, mas na hipótese de eu tirar a estada dele, com certeza ele iria sentir falta dela. E eu não tenho como fazer isso! Tem noção do que estão me pedindo?
— Sobre isso podemos dar um jeito... Só preciso pegar ele dormindo e apagar essa estaca da memória dele...
— Não, isso é muito perigoso. Não sabemos o que mais ele tem dentro daquela casa. James passou muito perto da morte.
— Tem ideia melhor, Ben?
— A ideia é ir enquanto o caçador estiver fora. Depois a gente pega ele na rua, desprevenido.
— Prefiro pegar ele dormindo, é muito mais fácil pra apagar.
— Enfim, isso podemos resolver depois! — Chance olhou pra mim. —Ok, e se eu te oferecer uma troca? Três dias pra você tentar roubar a estaca, e eu garanto que Matt ficará de bico fechado sobre tudo o que você queira. Se você não conseguir, beleza, vida que segue, mas tem que prometer que vai tentar de verdade, e se conseguir, todos nós sairemos ganhando, o que acha?
— Como vai obrigar Matt a se calar?
— Tenho minhas táticas.
— Dakota não ficará sabendo? 
— De maneira alguma.
— Três dias?
— Contando com hoje.
— Hum... Acho que não é tão mal assim...
Chance abriu um sorriso, satisfeito.
Eu sabia que por mais planejado que fosse, algo iria sair de eixo. Mas o que eu poderia fazer? Não poderia resolver apenas o que estava errado pra mim, eu era o grande responsável por ter trazido o caçador pra mais próximo de todos, era mais do que minha obrigação dar um jeito nisso também, por mais dificultoso que fosse.
Obviamente Robert se oporia à isso, seria algo a mais à sonegar.

(...)

— Você não pode estar falando sério! — Megan me olhava inconformada.
— Não tenho escolhas...
—  É claro que tem, James! Cara, você mal saiu da cova e já está querendo cavar outra?
— Eu não vou roubar... Se eu pedir pra Jenny, tenho certeza que ela irá me ajudar...
— Eu não teria tanta certeza disso. Tudo bem que a Jenny pode ser loucamente apaixonada por você, mas o que ela pode fazer quando descobrir que você só estava a usando? Porque você concorda que está, né? Pretende continuar com ela só por causa da estaca, e assim que a estiver em mãos vai dar um pé na bunda da menina.
— Não é bem assim...
— Numa linguagem bem clara é.
Franzi o cenho, preocupado.
— Se quer mesmo fazer isso, é melhor fazer em off, James.
— Você tem razão... Não quero que ela pense que estou usando-a.
— Mas está.
Revirei os olhos e ela riu.
— Está me parecendo mais animada ultimamente, tem algo a ver com Matt? — insinuei, e ela parou o riso imediatamente.
— Não sei do que está falando, sabe que só estava fazendo um favor de apresentar os pontos legais da cidade pra ele.
— Hmm... Se é assim, menos mal...
— Não entendi.
— Não é nada, esquece.  
Suspirei fundo, olhando para a bolsa de Megan encostada na pedra.
— Trouxe quantas? — perguntei, sem tirar os olhos do zíper.  
— Três, como pediu. Poderia ter trazido mais...
— Três é o suficiente. Não quero alarmar.
Talvez fosse mais uma paranoia minha, mas já estava arriscando demais trazendo bolsas de sangue tão próximo de casa. A bolsa por si só, já amenizava muito o cheiro, mas talvez tantas num mesmo lugar pudesse chamar atenção, principalmente de Roy que sempre teve um bom faro.
Megan abriu a bolsa e me ofereceu. Olhei em nossa volta, averiguando se não haviam curiosos. Estávamos completamente a sós.
Não esperei mais nem um segundo, peguei uma delas em minhas mãos, abri e bebi, assim como fiz com as outras.


Oii, pessoas! :DNão esqueçam de avaliar e comentar!Até o próximo capítulo! ;)
  

  
  
  
  

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