O ônibus de festa está lotado. Não sei para aonde estamos indo, mas há mais gente que semana passada. Meus olhos estão atentos, procurando cada sinal suspeito. O cheiro de cigarro me deixa enjoada. Preciso chegar em terra firme logo, se não quiser que toda minha janta saia pelo lado contrário do que deveria. Ainda não vi Karina por aqui, nem o Anthony. Eu jurava que viriam.
O automóvel finalmente estaciona. Estamos na frente de uma boate. Todos entram correndo como se fossem loucos. Noto algumas pessoas com mochilas. Quem leva mochila para uma festa? Sento em lugar nos fundos, para que ninguém me perceba. Observo os caras de mochila. Estão em uma rodinha, conversando entre si. Uma pessoa com capuz e máscara aparece, com outra mochila em mãos, entregando-a para um dos caras. Maços de dinheiro são dados em troca do objeto. Suspeito. Muito suspeito. A pessoa de capuz se retira. Então, de relance vejo, baras de maconha dentro da mochila.
- Senhor McBride, se estiver me escutando, acho que achei o vendedor - susurro para a escuta dentro do meu sutiã. Era para colocar em lugar não visível, então coloquei.
Me levanto fingindo normalidade, seguindo a pessoa de capuz. Ela some de vista após sair da boate, apresso o passo para acompanhá-la. De repente, ela olha para trás. Rapidamente me abaixo atrás dos lixeiros. Espio pela fresta. Sumiu. Ela sumiu. Merda. Olho para os lados. O suspeito não seria tão rápido de correr essa rua toda, deve ter entrado no beco...
Me levanto indo em direção à ele. Há uma porta no final. Deve ser lá que ele está. Me aproximo do objeto de madeira em passos leves. Tento abrir, mas está trancada. Desvio a tempo de escutar algo vindo em minha direção. Olho para trás, vendo a pessoa de capuz com um taco de basebol na mão. Eu quase fui atingida, atacar pelas costas é sacanagem. O objeto vem ao meu encontro novamente, desvio. Não sei quem está por trás da máscara, mas não tem tanta habilidade de mira. Pelas características corporais, é uma mulher. Ela balança o taco para todos os lados, tentando me acertar. Bloqueio, pegando o objeto e jogando para longe.
Vamos ver se agora, ela tem habilidades em combate físico.
Ataco primeiro, lhe dando um soco leve na barriga. A escuto arfar e cambalear para trás. Ela xinga, conheço essa voz de algum lugar... a garota me pega desprevenida, correndo em minha direção, agarrando minha cintura e me jogando no chão. Minha cabeça gira ao sentir a pancada. Ela está em cima de mim, uma de suas mãos apertando meu pescoço, a outra pegando uma faca do bolso. A garota pressiona a lâmina em meu pescoço, está tremendo. Posso ver seus olhos cor de mel... está chorando. Um pequeno cacho cai para frente. Não pode ser.
Karina.
Ela deixa a faca cair e sua mão afrouxa meu pescoço, aproveito e a jogo para o lado, invertendo as posições. Tiro seu capuz e sua máscara. Ela não se move, mesmo eu não estando com as mãos em seu pescoço.
- Desculpa... - ela susurra, entre lágrimas - Você tem que sair daqui, agora. É uma armadilha.
- Karina... eu não entendo. Por que você? - pergunto, sem saber o que fazer.
- O Anthony, Amelie, ele me mandou pra cá - a cacheada me olha séria - Você tem que sair antes que ele venha.
- O Anthony? Tá legal, se você ficar, vai sobrar para o seu lado - levanto, estendendo a mão para ela - Vem, não vou te deixar aqui.
- Obrigada - ela sorri, aceitando minha mão - Desculpa por tentar te acertar com um taco de basebol.
- Quase conseguiu - ironizo.
- Ata, era mais fácil eu... - então, antes que ela possa terminar de falar, Karina me abraça. Um barulho de tiro ecoa pelo beco. Arregalo os olhos, vendo Anthony com uma arma apontada para mim.
Sangue pinga no chão, mas não é o meu. A cacheada perde o equilíbrio, a seguro antes de cair. Ela entrou na minha frente. Me salvou. O ar é arrancado de meus pulmões. Lágrimas descem agressivamente pelos meus olhos. Seguro firme a garota de cachos, sem tirar os olhos de Anthony.
Desgraçado.
Deito com cuidado Karina no chão, que está me olhando fixamente. Sangue escorre pela sua boca. Pego uma de suas mãos, pressionando contra o sangramento.
Anthony não atira, apenas me observa com um sorriso no rosto. Até parece que aprecia meu sofrimento.- Pensei que você era meu amigo - cuspo as palavras com ódio, me levantando - Mas eu devia ter acreditado em Tom, não devia ter confiado em você.
- Realmente - seus sorriso se alarga, com a arma apontada para minha cabeça - Foi muito fácil fingir ser bonzinho perto de você, porque você é tão burra que até dá dó. Tem certeza que não lembra de mim na escola?
- Tenho - respondo secamente.
- Então... vamos refrescar sua mente - ele se aproxima. Me seguro para não sair do lugar - Henry McBride, esse nome te faz lembrar de algo?
Henry McBride? Essa nome não me é estranho... Meu amigo, era meu único amigo quando me mudei para Argentina... Ele se chamava Henry, mas não lembrava seu sobrenome. McBride. Filho do delegado? Espera...
- Sim... a gente se conheceu nos últimos anos do fundamenta II - digo, cerrando os punhos. Olho para Karina, seus olhos ainda estão fixados em mim. Preciso terminar isso logo, preciso de uma ambulância antes que ela perca muito sangue. Volto a atenção para Anthony, tirando minhas próprias conclusões - Você é ele.
- Exatamente, que bom te reencontrar, velha amiga - o garoto me fita - Anthony Henry McBride. Que bom que lembrou. Ah, e você lembra como me tratava?
- Como assim? Nós éramos melhores amigos - franzo o cenho.
- Acho que você está enganada - seu sorriso se desfaz - Amelie Zimmer, uma rebelde, coitadinha e sem pai. Todos na escola tentavam se aproximar de você, mas você os afastava. Aposto que queriam ser seus amigos por causa de sua irmã, porém, eu não. Eu entendia como era não ter um pai, mesmo o meu estando vivo, mas com outra mulher. Tentei ser seu amigo, tentei e tentei. Contudo, você só me humilhava. Nariz de rola, esse foi o apelido que você me deu. Todos na escola começaram a me chamar assim. Foi por sua causa, que parei de ir a escola por dois anos - seu dedo se firma no gatilho - Você tem noção, de como foi difícil para mim, continuar vivendo? Fiz rinoplastia com 15 anos, pintei o cabelo e tirei Henry de meu nome. Dois anos se passaram, e todos na escola esqueceram de Henry nariz de rola. Mas eu não. Jurei odiar com todas as forças, a garota que inventou esse apelido. Fingi gostar de você e ser seu amigo, para ganhar sua confiança e te fazer pagar. Minha primeira jogada, foi persuadir o chefe do restaurante para te demitir. A segunda, foi mandar um de meus capangas atrás de você, aquele dia na praia. Mas seu namoradinho idiota, os entregou para a polícia. A terceira, foi pedir para minha meia irmã te provocar no parque, com Tom, fazendo as amigas dela postarem o vídeo...
- Meia irmã? - interrompo seu discurso.
- Sim, Jenna McBride, entiada de meu pai e irmã de Josh e Karl.

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Kiss Me - Tom Kaulitz
RomanceEles eram vizinhos antes de Tom ficar famoso. Eram amigos. Melhores amigos. Amelie tinha uma paixão secreta por ele, mas o garoto nunca sequer se importou com os sentimentos dela. Ele era profundamente apaixonado pela irmã de Amelie, Astrid, que era...