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Sua mão em minha cintura nos aproxima. Sim. Eu quero beijar Tom. Mas... essa sensação. Que sensação é essa? De todos os sentimentos possíveis, por que estou com... medo? Por que quero tanto me aproximar, mas também me afastar?

- Tom... - sussurro - Eu não posso - me afasto dele, sentindo meu coração a mil.

- Amelie - o Kaulitz me olha com atenção - Por que?

- Eu não sei... não sei - lágrimas repentinas descem pelos meus olhos.

- Eu juro - ele suspira - que tentei te entender, mas parece que é impossível.

- Por que você age como se só eu estivesse errada? - rebato - Você está namorando Avril e está aqui, comigo.

- Eu estou aqui, com você, porque não aguento mais guardar esse sentimentos só para mim. Mas você está foda-se para eles - responde ele, passando as mãos pelos dreads.

- Tom...

- Não. Não. Escuta - o Kaulitz se aproxima novamente - Eu sei que o que estou fazendo com Avril é errado. É errado porque estou usando ela para ofuscar meus sentimentos por você. Eu nunca acreditei nessa droga de amor verdadeiro, por isso passei minha adolescência inteira, pulando de mulher em mulher. O único indício de amor havia ido embora, você havia ido embora. Então te encontro novamente e o sentimento volta, contra a minha vontade - seus olhos me analisam - Falarei com Avril sobre isso. Peço que ponhe um fim em meu sofrimento e me responda, juro que nunca mais te atormentarei. Você aceita ser minha?

Um silêncio se apossa do ambiente. Tom assente sabendo a resposta. Ele anda até a porta esperando que eu saia.

- Adeus Amelie - ele diz sem olhar para mim.

-Adeus Tom.

A porta se fecha atrás de mim. Uma vontade enorme de chorar me atinge. Vou até a sala e encontro Astrid com os meninos. Minha irmã vem em minha direção. Eles escutaram tudinho.

- Amelie... - Astrid começa.

- Espero que tenham gostado do show - a interompo, pegando minhas coisas e indo embora. Ignorando todos que tentam falar comigo.

Dou partida no meu carro e vou até a minha casa. Tento não pensar no que aconteceu, mas é impossível. Por que algo sempre me atormenta? A raiva e agora, o medo? Papai me entenderia. Sei que entenderia. Mas ele não está aqui. E isso dói tanto, como um tiro no peito. Então eu entendo... O medo que sinto, é o medo de sofrer por amor novamente. O medo de perder alguém que amo, assim como aconteceu com meu pai. Foi a pior dor que já senti em minha vida e não quero senti-la novamente. Talvez seja melhor assim. Evitar o sofrimento me fará feliz, não é?

Chego em casa e ao abrir a porta, meu queixo cai. A casa inteira está bagunçada, almofadas e livros por todo lado. Vou até a cozinha e vejo os balcões abertos. Merda. Eu e Astrid decidimos esconder as bebidas da mamãe. Mas ela as encontrou. Percorro a casa à procura da mulher. A encontro deitada no chão de seu quarto, ao lado de fotos do papai.

- Meu Deus mãe - a ajudo levantar.
Mamãe me olha, e começa a chorar de convilsionar. Ela segura minhas mãos. Não sei o que fazer. Nunca a vi desse jeito.

- Você - a mulher diz entre soluços - me lembra muito ele.

Papai. Ela também sentiu a mesma dor de um amor perdido. Talvez até maior. Ela quase nunca diz algo sobre papai. Sinto que preciso falar com ela, mesmo ela me tratando como lixo. Sento ao seu lado no chão. Seus olhos estão distantes, estão tristes.

- Mãe, posso saber como você conheceu o papai? - pergunto, a mesma me olha surpresa.

- É uma longa história - ela balança a cabeça sorrindo - Nós éramos completamente diferentes. Seu pai gentil e atencioso, e eu uma adolescente completamente rebelde. O que me chamou atenção nele, é que mesmo eu o rejeitando e sendo mal educada, ele ainda persistia. Ainda dizia que me amava. Eu não me arrependo de ter o conhecido em um café, onde joguei uma xícara no seu pai por me zoar. Tínhamos 23 anos na época. Ele me dizia como eu era linda, e como queria casar comigo. Pensei que era só um blefe, mas acabei cedendo. Acabei sentindo o que nunca imaginei sentir pelo seu pai. O mais puro amor verdadeiro... - ela me olha e seus olhos se enchem de lágrimas - Sabe, você me lembra ele, seus olhos azuis, seu nariz. Na aparência você é igualzinha a ele, mas me atrevo a dizer que em personalidade, infelizmente, você puxou a minha.

- Concordo - sorrio.

- Sei que sempre peguei no seu pé, e que não fui uma boa mãe. Acho que o motivo disso, é que você lembra minha eu do passado, e a do presente também. Quero que você não acabe como eu, bebendo e sendo uma velha chata - mamãe me lança um olhar alegre - Eu te amo.

Lágrimas se formam em meus olhos. Ela nunca me disse isso, desde que papai morreu. A abraço. Sentindo falta daquilo. Sentindo falta de seu carinho. Do amor materno.

- Também te amo mãe - digo entre as lágrimas.

Vou até o mercado comprar algumas coisas para hoje a noite. No caminho, acabo me deparando com Avril em seu carro. Seus olhos pousam em mim.

- Você parece estar se sentindo bem - ela diz pela janela de seu automóvel.

- Estou - sorrio.

- Espero que não seja por ter roubado meu namorado - Avril arqueia as sobrancelhas.

- O que? Não, não é por isso - noto os olhos da garota inchados, saquei o que rolou - ele terminou com você.

- Sim, por sua causa - ela suspira - Espero que sejam felizes juntos.

- Creio que não será possível - respondo sem jeito.

- Como assim?

- Eu não o amo - digo olhando para a rua.

- Claro que o ama - Avril murmura - Você se preocupa muito com Tom. Então o ama sim. Você levou a culpa do dia do restaurante por ele. Você não jogou pratos por causa de ciúmes, mas por que ele falou sobre seu pai.

- Eu sei...

- Então por que se recusa a aceitar? A aceitar seus sentimentos? E mente para si mesma? - ela me questiona.

- Porque... porque tenho medo. Medo de sofrer por causa do amor - digo por fim

- Então você está evitando o sofrimento? - Avril me olha com atenção. Assinto - Então saiba que também está evitando, a felicidade.

Kiss Me - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora