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As pessoas ao meu redor gritam, me seguro para não fazer o mesmo. O líquido verde escorre pelos meus cabelos, pelas minhas roupas, pela minha cara.

- O porra, sinto muito Amelie, sinto muito!!! - Karina pega um guardanapo, tentando me limpar.

Cerro os punhos para não estourar. Sei que não foi culpa dela, mas sinto raiva mesmo assim. Vejo Anthony bater a mão na cara, olhando para trás. Sigo seu olhar, dando de cara com dois policiais nos encarando. Merda.

- Ora, ora. Se não são o trio que mais queríamos ver hoje - a policial ri do meu estado - Acho que tem uma coisinha no seu cabelo.

Me seguro para não pular no pescoço dela. Arrancar seus cabelos e fazê-la engolir. Se eu fizesse isso, estaria em uma encrenca maior.

Somos levados até a delegacia, onde me dão outra roupa. Apesar de eu ter esfregando o vômito de minha pele, ainda sinto o cheiro. Ninguém diz nada, Karina não diz nada, deve estar se sentindo culpada. Dou um cutucão e forço um sorriso.

- Não foi sua culpa - sussurro.

- Foi sim, sua cara também dizia isso - ela massageia as têmporas.

- Eu estava com raiva por você ter estragado minha roupa e meu cabelo, não porque o que aconteceu depois foi culpa sua. Você não pode controlar suas necessidades fisiológicas - digo. A vejo sorrir levemente.

- Amelie Zimmer, venha, por favor - um policial me chama. Olho para Ka que me lança um olhar de boa sorte. Anthony ainda está fitando seus tênis, sem dizer uma única palavra. Alguma coisa aconteceu.

Sou levada até a sala do delegado, que por algum motivo, me parece conhecido.

- Então... a senhorita se envolveu em algo ilegal pela primeira vez. Ele folheia minha fixa. Bem vinda a vida - ele ri com seu bigode bem modelado, espera... - Para seu bem, peço que me passe a lista de todos os integrantes dessa "festa".

- Desculpe, senhor - o encaro, com desprezo - Mas eu não sei nenhum nome além dos nomes dos meus amigos.

- Imaginei que diria isso - se sorriso se alarga - Primeira vez nessa festinha, creio eu. Não sei porque meu filho ainda continua indo.

- Seu... seu filho? - o analiso. O nariz e os olhos são igualsinhos dos do... Anthony - Você é pai dele.

- Sim, sou pai dele. Um pai completamente decepcionado. Eu já disse milhões de vezes para ele parar de ir, mas ele continua e ainda leva gente inocente - o policial suspira - Você está liberada, pode ir. Só que se te pegarem de novo, é multa.

Continuo onde estou. Pensando. Eu não sabia que o pai de Anthony ainda está por essas bandas, muito menos que ele é policial. Achei que por Anthony morar sozinho, seus pais estavam em outra cidade.
Ele parecia com medo, quando o vi fitando os tênis.

- Obrigada - me levanto lentamente.

Quando saio da sala, Anthony continua na mesa posição. Seus pés balançam de nervosismo. Medo do pai. Anthony parece ser bom ou medroso demais para tentar enfrentá-lo, como fiz com minha mãe. Então, farei isso para ele. Dou meia volta fechando a porta com tanta força, que até acho que ela vai cair. O pai do Anthony me olha surpreso.

- Escuta aqui, seu velho bigodudo - me aproximo de sua mesa - Se você não é capaz de reconhecer e dar valor para o filho que você tem, que vergonha. Anthony é uma das pessoas mais legais que conheço, ele me ensinou o que é diversão. Na festa, eu achei que ele era um baita covarde, porque ele não queria ir ajudar a Ka. Me enganei. Ele nos ajudou, apesar de que não adiantou de nada, já que logo depois fomos pegos novamente - me controlo para não pronunciar nenhuma palavra ofensiva - Eu realmente acho, que você deveria repensar seus conceitos em relação de como ser pai!

Um silêncio se apossa do ambiente. O pai de Anthony me encara inexpressivo.

- Gostei de você - ele quebra o silêncio, me deixando confusa - Você está desempregada, não?

- E-estou... Como o senhor sabe disso?

- Está na sua ficha. E se... - há um sorriso malicioso em sua cara - eu te oferessese um trabalho em que seria bem paga?

Do que ele está falando?

Chego em casa com a cabeça cheia de informações. Eu não acredito na proposta que o pai de Anthony me fez. Embora a grana que ele me ofereceu seja tentadora. Mas há algumas coisas que seriam difíceis para mim, caso eu aceitasse. Não poderia contar para ninguém, nem para minha irmã, nem para Tom, nem para o meu cachorro. E eu nem tenho cachorro. Ocuparia grande parte do meu dia e eu teria que mudar de turno na faculdade. Eu teria que aprender como atirar e lutar, caso fosse necessário. Me infiltrar em uma bando de adolescentes drogados seria perigoso.

O pai de Anthony me informou, que o motivo pelo qual os policiais nos perseguiram sem desistir, foi porque havia um vendedor de drogas muito famosos entre as pessoas da festa. O sr McBride, pai de Anthony, me disse para descobrir o nome e onde é a sede do vendedor. Da pada acreditar? Eu, Amelie Zimmer uma zé ninguém, sendo uma espiã secreta? Sai fora. Eu recusei, mas o sr McBride me deu algum tempo para pensar. Não preciso pensar demais para responder isso. Eu não quero e não vou. Me arriscar desse jeito? Nem fodendo.

Entro em casa, dando de cara com Astrid chorando horrores. Mamãe está ao seu lado, tentando a acalmar.

- Mãe, o que aconteceu? - pergunto, para a mais velha.

- Ela foi... - mamãe começa.

- Demitida! - Astrid termina a frase - Fui demitida por nenhum motivo. Eu não fiz nada de errado! Minha faculadade é cara pra cacete e agora você e eu estamos desempregadas. Mas que droga.

Ela volta a chorar. Só podem estar brincando comigo. Sinto um dedo do senhor McBride nisso. Filho da put...

- E o dinheiro da pensão por morte, mamãe? - pergunto, esperançosa - não é o suficiente?

- Só para pagar a faculdade de Astrid, nem isso talvez. Mas... - mamãe suspira - ainda teríamos que pagar as contas da casa, comida, roupas, as parcelas de alguns móveis... teríamos que viver só de migalhas.

Merda. Ele não me deu escolha, está praticamente me obrigando a aceitar.

Kiss Me - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora