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Uma semana se passa. E meus sentimentos por Tom aumentam cada vez mais. Tentei evitar. Tentei ignorar. Mas é impossível. Sonho com ele quase toda noite. Passo dia e noite pensando nele. Por mais que me esforce, não consigo o esquecer. Enquanto arde como fogo em mim, nele não há sentimento algum. Toda vez que vai à minha casa, só pergunta de Astrid. Tento fingir que não dói, mas dói sim. Sempre serei a segunda opção. Não odeio minha irmã por isso, jamais a odiaria. Ela não tem culpa de ser perfeita e eu... eu sou uma zé ninguém.
Eu só queria que ele me amasse de volta. Queria que ele percebesse o quanto eu o quero. Mas, não. Ele realmente não me ama. Eu queria o matar por não me amar. Mas, não. Não adiantaria. Por quê? Eu só queria que ele me amasse de volta.

Nos cadernos de gramática, matemática, geografia, de toda as matérias, lá, na última página, centenas de corações desenhados com caneta vermelha. Nem percebo que estou fazendo isso até a professora me chamar a atenção.

- Amelie! Presta atenção aqui, chega de desenhar no seu caderno - diz a mulher.

- Desculpe professora - digo sem jeito. Tom olha pra trás rindo. Desvio o olhar.

O recreio chega e vou sentar debaixo da arquibancada sozinha. Não que eu não tenha com quem sentar. Astrid tem suas amigas, mas prefiro ficar sozinha do que com aquelas meninas que só sabem falar de garotos. Eu sentava com Tom, Bill e seus amigos. Parei de fazer isso, porque eles só falavam de garotas. Convenhamos que escutar meninos falando de meninas é muito estranho.

Estou comendo meu sanduíche quando escuto passos e risadas de cima da arquibancada. Tento não fazer nenhum barulho ao ver o grupinho dos amigos dos irmãos Kaulitz e eles. Sei que é feio escutar conversas dos outros, então me preparo pra sair. Até escutar meu nome.

- E aquela sua amiguinha Tom? - pergunta um dos amigos dele.

- A Amelie? - pede ele - O que tem ela?

- Você sabe que ela tá afimzaça de você, não é? - o garoto continua. Minhas bochechas coram, está tão na cara assim? - Estranho você não perceber.

- Ela não é tão bonita quanto a irmã, mas é gatinha - uma voz que reconheço ser a de Georg diz.

- Na verdade - Tom começa - eu sei que ela gosta de mim.

Paralizo. Meu coração começa a bater mais rápido que o normal. Ele sabia e nunca disse nada?

- Isso é bem cruel de sua parte irmão - Bill o repreende.

- Mas porque você não fala nada pra ela? Vai deixar ela sofrer assim? - Gustav fica curioso.

- Ela sofreria mais se soubesse que não é recíproco - o Kaulitz mais velho ri - Ela não faz meu tipo.

Eu já sabia. Sabia que ele não gostava de mim da mesma forma. Mas ouvi-lo dizer, é ainda pior. E ainda ri como se não fosse nada.

- Deixa eu adivinhar, Astrid é seu tipo perfeito - Bill sugere.

- Exatamente. Amelie é totalmente diferente - Tom diz - Sem graça, irritadinha, orgulhosa, não é loira, roupas fora de moda... Mas é minha amiga. Apenas amiga.

Lágrimas de frustração descem pelo meu rosto. Saio daquele lugar e vou até o banheiro. Pego meu celular e ligo para meu pai vir me buscar. Só quero sair daqui. Só quero estar longe de Tom. Juro odiá-lo. Odiá-lo para todo o sempre. Mesmo que meu coração diz o contrário.

A chuva começa assim que entro no carro. Fico a maior parte do tempo olhando os pingos caírem pela janela. O clima está combinando com o que estou sentindo.

- Ah... Você... vai me dizer se aconteceu algo? - pergunta papai olhando para mim.

- Não é nada demais - respondo.

- Se não é nada demais, então por que parece tão mal? Esse algo deve ter te machucado, ou esse alguém.

Olho rapidamente para meu pai. É claro que ele sabia. Sorrio apesar de tudo estar doendo dentro de mim. Não sei porque escondi isso dele. Papai me conhece mais do que ninguém.

- Tom não gosta de mim - digo suspirando - ele disse aos amigos. Escutei sem querer.

- Sabe, dizer uma coisa para os outros é diferente do que dizer para você mesma - papai continua - ele pode ter mentido.

- E por que ele faria isso? - franzo a testa.

- Isso você deveria pedir a ele - ri meu pai - talvez ele queira que você diga que o ama para dizer o mesmo. Sei que ele disse que não era recíproco, mas será mesmo?

- Acho que você está viajando pai - gargalho - só você pra me fazer rir.

Papai olha para mim e algo em seus olhos me causa medo. Ele para o carro e sai rapidamente. Faço o mesmo assim que ele cai na rua. Papai começa a tossir. Pego sua sacola e tento achar os benditos remédios. Ofereço minha garrafinha para ele tomar água.
Apesar de que tentar negar esse fato, papai está doente. Vejo isso em seu rosto. Eu seus olhos. Ele disse a mim e para Astrid que era passageiro, mas nessa semana só piorou.

Começo a tremer assim que ele tosse sangue, grito para alguém chamar a ambulância. A chuva se mistura com as minhas lágrimas. Papai segura minha mão e sorri. Sorrio também. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. Repito. Digo isso até seus olhos perderem o brilho e se fecharem.

Não há dor maior do que ter de dizer adeus a quem amamos. Papai partiu desse mundo. A ambulância chegou a tempo para que ele ficasse um pouco mais. Para que todos nós pudéssemos nos despedir. Para que eu imploramos para ele ficar. Deus achou melhor assim. Papai estava sofrendo muito, em estágio avançado do câncer de estômago. Então ele se foi. Me deixou aqui, com minha dor.
Mamãe sabia que papai estava doente, e que ele preferiu não nos contar. Para não ficarmos preocupadas. Porque até ele mesmo, se negava estar no fim da linha.

Com esse acontecimento, sem dinheiro, sem felicidade, vamos nos mudar. Iremos morar com a família de minha mãe por um tempo, na Argentina. Por incrível que pareça, mamãe não está pegando mais no meu pé. Seus olhos estão tão vazios, tão tristes. Iguais aos meus. Passei os últimos dias sem ir para escola. Sem comer direito. Sem falar com Tom, mesmo ele batendo em minha porta todos esses dias. Sem sorrir. Sem jogar vídeo game. Sem fazer nada. Apenas chorar e chorar. Papai era meu melhor amigo. Ele sabia o que estava acontecendo comigo mesmo sem eu lhe contar.

Arrumo minhas coisas e jogo no caminhão de mudanças. Ninguém fala nada em todo o processo. Saio da casa com mais algumas coisas em mãos até dar de cara com o menino de dreads.

- Oi - ele diz tristemente - você não vai nem me dizer um adeus?

- Como se você se importasse - respondo seca.

- É claro que eu me importo, você é minha amiga - justifica - você não falou comigo faz quase uma semana.

- Talvez porque meu pai tenha morrido - lágrimas descem pelo meu rosto.

- Eu sei, e eu sinto muito por isso. Eu queria estar ao seu lado nesse momento difícil mas você se recusou - ele me olha.

- Pensei que você não gostaria de ficar com alguém sem graça, irritadinha, orgulhosa, que não é loira e que veste roupas fora da moda - o olho com raiva.

- O que? Quem te contou isso? - ele fica confuso.

- Não importa. Eu vou embora mesmo - passo por ele indo em direção ao carro. Até uma mão me puxar para um abraço.

Fico sem reação a princípio. Tom nunca tinha feito isso. Nunca tinha me abraçado. Por mais que eu tente segurar, as lágrimas descem em enorme quantidade. Soluço e retribuo o abraço. Sentirei falta de Tom, de Bill de Georg, Gustav... todos que me fizeram rir. E sentirei falta, principalmente, de meu pai.
Me afasto de Tom vendo seu rosto molhado também. Ficamos nos olhando por alguns instantes. Sinto uma enorme vontade de dizer o que sinto, que o amo. Vejo que ele ansia por algo. Será que papai estava certo? Desisto assim que escuto Astrid chamando meu nome. Bill aparece e me abraça forte. Dizendo que sentirá falta de mim. Em nenhum momento tiro os olhos do menino de dreads. Lhe dou um último adeus sentindo uma dor maior em meu coração. Entro no carro acenando para eles. Olho para trás os vendo ainda acenando. De repente, Tom começa a correr atrás do carro. Ele diz algo que não entendo. Estamos longe demais. Se eu não estivesse doida por ele, diria que teria falado que me ama.






Kiss Me - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora