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- Demitida?! Você foi demitida?! - ouço a voz de Tom do outro lado. Sinto sua raiva - Aquela mulher desgraçada, ela ao menos deixou você falar o seu lado da história?

- Não - respondo, bocejando.

Tom me ligou assim que acordou. Eu estava dormindo, ganhei um susto. Ligações feitas pela madrugada, costumam não ser muito agradáveis. Apesar dessa ser.

- Porra, você tem que se pronunciar logo. Se não eu mesmo faço isso - ele bufa - Essa bando de wichser, penner, schweinemist. Ninguém tem o direto de falar mal da minha mulher.

- "Minha mulher" - repito sorrindo - Como é Genebra?

- É muito linda, queria que você estivesse aqui para ver. Tem muitas... Sim, é a Amelie. Não... para seu filho da put... - ouço barulhos estranhos vindos do outro lado.

- Oi Amelie - escuto s voz de Georg - como vai as frigideiras?

- Bem, quer uma na sua cara também? - brinco.

- Ah não, muito obrigada - ele ri, escuto Tom pedindo para Georg devolver seu celular - Espera sua anta. Amelie, queria saber o que você fez com Tom, para ele se recusar a ir à festa que terá aqui de noite. Ele nunca recusa.

- Coloquei um cinto de castidade, pode ser por isso - zombo, levantando da cama.

- Deve ser por isso mesmo - Georg Gargalha - quando fui pegar na bunda dele essa noite, estava dura.

Solto uma gargalhada ao ouvir os xingamentos do outro lado. Tom aparece depois de alguns segundos.

- Tom, você quer que eu te chame de alguma coisa? Tipo... amor, vida, anjo... - falo todos com uma careta.

- Não faz muito seu tipo - sinto um sorriso em sua fala - mas se quiser, pode me chamar de "Amor da minha vida, você é tão lindo quanto uma geladeira com duas portas"... o que? Ah, vou ter que desligar. Temos uma seção de fotos daqui a pouco.

- Ah - meu semblante murcha - Tudo bem, beijo amor da minha vida, você é tão lindo quanto uma geladeira com duas portas.

- Tchau amor, se cuida. Pense na pronunciacão em. Beijo - ele desliga.

Pensei, ontem, enquanto o sono não chegava, em o que eu falaria, caso fizesse um pronunciamento. As pessoas seriam livres para escolher em quem acreditar. Meu discurso tem que ser impactante e profundo.
Dobro as roupas jogadas no chão. Um cartão cai do meu casaco. "CLUBE DE LEITURA. Venha compartilhar suas fantasias e sonhos. Todos os sábados e quintas às 16:00 horas até às 17:00 horas, no pavilhão da cidade."
Já tinha esquecido desse cartão que Anthony me deu. Guardo no bolso da minha calça, pensando em comparecer.

- Astrid, você pode gravar um vídeo meu? - pergunto à minha irmã, que está cortando cebolas na cozinha.

- Desculpa, agora não posso - vejo seus olhos vermelhos.

- Não é por causa da cebola que você está chorando, é? - me aproximo da mesma, que funga em resposta - É por causa de Bill?

- S-sim - ela desaba em meus braços - Queria ser forte como você, eu estou morrendo de saudades dele e não faz nem dia que ele foi embora.

- Tudo bem, é compreensível - passo minha mão em seus cabelos - E eu não sou forte. Apenas aconteceu algumas coisas, que me distraem do fato de eu estar a milhas de distância de Tom.

- Desculpa irmã, não estou muito bem para te ajudar hoje - ela se afasta dos meus braços - Vou ao meu quarto.

Fico olhando Astrid subindo, ela está arrasada. Esse é o lado ruim do amor, você se apega demais e a pessoa simplesmente vai embora. Procuro mamãe pela casa. A vejo regando as flores.

- Mãe, já não choveu ontem? Por que você está molhado-as novamente? - pergunto a mulher em minha frente.

- Não estou de bom humor hoje, a quenga da vizinha disse que as minhas flores estão mais murchas que bunda de velha - mamãe murmura. Seguro a vontade de rir - Quer alguma coisa?

- Queria saber se você poderia me gravar, para mim falar sobre o que realmente aconteceu no parque - olho para mamãe, esperançosa em ela aceitar.

- Sinto muito filha, mas não estou com cabeça para isso, pede para usa irmã - a mais velha volta ao seu trabalho.

Mas eu já pedi para Astrid... Vou até meu quarto e tento gravar o vídeo sozinha. Meu celular cai no chão de repente, fazendo um barulho enorme. Pego o aparelho preocupada, vendo a tela toda trincada. Uma vontade de chorar me atinge. Está dando tudo errado ultimamente. Não conheço ninguém que tenha uma câmera e que queira me ajudar... espera, Anthony tem uma câmera. Vi em sua casa aquele dia. Ligo para ele.

- Amelie? - escuto um tom de surpresa em sua voz - O que devo o prazer de sua ligação?

- Sua câmera está funcionando? - vou direto ao assunto.

- Sim, por que?

- Estou indo aí - desligo, pegando as chaves do meu carro.

Anthony me espera na varanda de sua casa, com um olhar curioso.

- O que você quer com a câmera? - ele pergunta ao me ver entrar em sua casa sem pedir.

- Preciso da sua ajuda - pego a câmera de cima da lareira e o entrego - pode gravar o que direi?

- Ah...

- Obrigada, vem - puxo seu braço até um lugar com mais claridade - Já pode começar a gravar.

- Tá legal - ele levanta as sobrancelhas - gravando em 3, 2, 1 agora.

- Olá. Muitos de vocês já devem me conhecer e se não me conhecem, chamo-me Amelie Zimmer. A menina dos pratos e agora, do vídeo do parque. Gostaria de contar o meu lado da história, já que vocês preferem acreditar em uma menina mimada...

- Corta - Anthony me interrompe.

- Porra, eu estava indo tão bem - suspiro irritada - O que foi?

- Você não pode xingar ninguém, isso destrói sua postura confiante. Você tem que fazer as pessoas sentirem pena de você, fazê-las pensar no que fariam se estivessem no seu lugar - o garoto sugere.

- Tem certeza? - murmuro.

- Sim - ele sorri - isso é fato. As pessoas terão empatia, fazendo com que as chances de sua história ser real, sejam mais altas.

- Tudo bem - respiro fundo, pensando no que falar - Beleza, pode começar.

- Ok, gravando em 3, 2, 1 e agora.

- O que vocês fariam? Se alguém ofendesse seu pai já falecido? Um pai que sempre foi atencioso, gentil, carinhososo e amoroso? Um pai que te amava a cima de tudo?... Sei que minha atitude com a garota do parque não foi a mais correta, mas não consegui me conter. Eu relevei quando ela começou a passar a mão em Tom, ele ajudou a me conter. Porém, quando ela falou sobre meu pai, senti meu mundo desmoronar - lágrimas de raiva se formam em meus olhos - Chamá-lo de defunto? Ok, sim, realmente ele é um defunto, mas a forma em que foi falado, como se tivesse sido um insulto, me fez perder a consciência. Peço perdão desde já, para a garota do parque. Bate-lá não foi a melhor opção. Sei que alguns de vocês pensaria o mesmo que pensei, quando ela usou tal palavra contra meu pai. O ódio me consumiu e, quando me consome, nada o impede de crescer ainda mais.

- Bravo!!! - Anthony bate palmas, enxugando os olhos - Foi profundo e lindo.

- Obrigada - sorrio - Quero ver em quem acreditarão agora...

Kiss Me - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora