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- Isso é o que sabemos sobre esse vendedor - o sr McBride joga alguns papéis na mesa, papéis em branco - Nada.

- Deve ser bem esperto, ou esperta... - penso, olhando para as minhas mãos, que estão surradas de tanto treinar - Seu filho não sabe de nada? Ele e Karina já frequentam esse local à muito tempo.

- Por isso, eles são suspeitos - o delegado diz, andando de um lado para o outro.

- Você suspeita do seu próprio filho? - meu queixo cai - Vocês, ao menos, conversam?

- Ele mora sozinho, mas ao lado da mãe e o padrasto - seus punhos estão cerrados - Mal vem me visitar, mesmo sendo no mesmo bairro...

- Talvez porque você seja um velho babaca - brinco, cruzando os braços.

- Talvez - ele sorri - Bom, então... o resto da tarde você está liberada. Pode ir para casa e fazer o que quiser. Amanhã já é o grande dia.

- Por incrível que pareça, hoje prefiro não ir. Minha irmã e minha mãe irão ficar me fazendo perguntas, não quero ficar mentindo, de novo.

- E aquele seu namorado? - o sr McBride pergunta.

- Ah, a gente... brigou - suspiro, lembrando das nossas conversas - Mas tudo bem, é melhor ele ficar afastado do que eu ficar mentindo. Acho que irei as compras, até mais.

- Até - o pai de Anthony se despede.

Então é amanhã. Espero que dê tudo certo, porém, é meio ruim sem ter pista alguma. O senhor McBride me aconselhou prestar atenção até nós mínimos detalhes. Cochicho, sinais, olhares... Precisarei apenas encontrar o vendedor, o resto os policias fazem.

No mercado, encontro ninguém menos que Anthony na sessão de conservas. Seu carinho está cheio. Penso se já comeu todas que comprou semana passada. O observo de longe, até seu olhar cair em mim.

- Amelie? - seu semblante muda, de uma cara fechada a uma toda sorridente - Quanto tempo faz que não nos vemos, não?

- Sim... - semicerro os olhos - o chefe do restaurante deixou você sair hoje também, na quinta?

- Ah, bem... eu pedi demissão - seu sorriso se alarga - Sábado de manhã irei embora.

- Para onde?

- Nova York, receberei uma grana pelo trabalho que fiz recentemente... e ainda há o último salário do restaurante - ele reponde - Aliás, você tem passado bastante tempo com meu pai, não é?

- Mais do que eu queria - zombo, o fitando - Trabalhar com ele não é muito agradável.

- E posso saber o que você faz lá? - Anthony pede, seus olhos me analisam.

- Cuido das papeladas e essas coisas, sou tipo uma assistente...

- Meu pai não tem assistente - seus olhos perdem o brilho. E então, sinto um arrepio parecido com o que eu senti na praia. Tem algo de errado no olhar de Anthony, mas, como um passe de mágica, simplesmente, some - Mas ele deve ter mudado desde a última vez que o vi, além daquele dia é claro. Obrigada, por ter me defendido.

- Tudo bem, amigos são para essas coisas - minha voz sai tremula, torço para que ele não perceba.

- Bom, vou indo - ele pega mais um pote de conserva - Te vejo amanhã na festa?

- Talvez - respondo, vendo-o se afastar. Tem alguma coisa estranha...

Chego em casa com algumas sacolas de comida. Vejo Astrid e mamãe sentadas na cozinha, me olhando.

- Precisamos conversar, filha - a mais velha é a primeira a falar.

- Vocês não querem assistir um filme? Comprei pipoca e salgadinh... - tento mudar de assunto, não quero conversar sobre isso.

- Tem algo de errado com você - Astrid me interrompe - Estamos preocupadas.

- Eu sei - cerro o punho, onde elas não possam ver - Mas estou bem.

- Não, não está - mamãe murmura - Você chega em casa, todo santo dia, com uma cara acabada e cansada. Mal fala com a gente e vai direto para a cama.

- Você parou de falar as coisas para mim, de novo - minha irmã comenta. Uma dor atinge o meu peito - Nos responda, Amelie, você está realmente bem?

As analiso. O semblante calmo e acolhedor. Prontas para me ajudar, caso eu precise. Mas não posso contar. Não arriscaria a vida delas, não aguentaria ver alguém da minha família indo embora novamente. Mas, sem que eu possa controlar, lágrimas descem pelo meu rosto.

- Não - respondo, soluçando - Não estou bem.

Mamãe e Astrid se dirigem até mim, me abraçando. Elas não perguntam mais nada, apenas me fazem carinho até eu me acalmar. Sinto o calor e amor que elas emanam. Me sinto bem, me sinto em casa...

Então é hoje. 14/04/10. Tento prestar atenção no que o senhor McBride diz, mas minha mente dispersa do nada. Há várias ligações e mensagens de Tom, mas não posso ver agora. Preciso focar nisso, só mais um dia e acabou. Estarei livre.

- Bom, é isso... te desejo boa sorte. E toma, falsifiquei um atestado para justificar sua ausência na faculdade - o delegado me entrega um aparelho - É uma escuta, coloca em um lugar onde ninguém veja, tá legal?

- Ok, obrigada - o olho, pensando que talvez seja minha última vez aqui, trocando informações e ideias com esse homem que se tornou alguém significativo para mim - Adeus.

- Adeus Amelie - ele acena.

São 18:30 quando chego em casa, falta poucos minutos para a festa começar. Há um carro estacionamento na frente de minha casa.

Não pode ser.

Tom vem ao meu encontro, seus olhos sem brilho. Noto como seu rosto afinou mais, desde a última vez que nos vimos. Meu coração palpita de alegria e de dor ao vê-lo aqui. Apesar de me conter, não consigo. Corro em sua direção e o abraço. Seus braços se envolvem pela minha cintura. Sinto seu cheiro, o seu toque, o seu hálito. Lágrimas descem agressivamente pelo meu rosto. Eu estava esperando tanto por esse momento, mas agora não dá. Não posso. Me afasto. Evito o olhar, sei que choraria ainda mais.

- Amelie, olhe para mim - sua mão levanta o meu queixo, me obrigando a olhá-lo. Eu tinha esquecido o quanto Tom é lindo, sua pequena pinta na bochecha, trás um aspecto ainda mais belo. Seus olhos cor de caju... sua boca... Quando sua voz sai, está calma e controlada - O que esta acontecendo? Pode me dizer.

- Eu não posso...

Kiss Me - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora