Capítulo XLIII

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Ares

Depois do jantar, corro para meu quarto e decido ligar para Sophie, tenho seu telefone, pois quando saí da clínica ela me disse para ligar a fim de mantermos contato e ficarmos a par das notícias. Não aguento mais guardar esse sentimento dentro do meu peito.

Na clínica minha única felicidade era todos os dias vê-la entrar com um grande sorriso e o melhor humor possível para a manhã. Quando a vi pela primeira vez, meu mundo pareceu andar mais devagar, graças a sua surpreendente beleza. Era um moleque com poucas relações amorosos, mas quando a vi tudo em mim se acendeu e estar naquele lugar não era mais um problema. Antes era atendido por um senhor, que não era ruim, mas não queria estar ali, estava em negação, sem ofensas, Doutor Almeida, mas Sophie dá de mil a zero no senhor.

Eu me encantava com seus longos cabelos loiros enrolados que refletiam no sol que entrava pela janela do quarto. Antes de Sophie, nunca tinha me apaixonado e debochava de quem se entregava para o amor, mas depois que a vi, percebi que havia sido fisgado.

No começo me fiz de durão para não cair em seus encantos. Quando a vi meu olho brilhou, mas não podia me entregar tão fácil, porém com o tempo, não resisti e acabei ficando doidinho pela loirinha, ela conquistou tudo que podia de mim com apenas olhares e seu jeito amável.

Quando morava na fazenda, acordava na base das 13h, mas quando fui para a clínica, acordava cedo e odiava, porém Sophie chegou e passei a amar acordar cedo só para ver seu sorriso e seus diferentes jalecos. Segunda, verde; terça, amarelo; quarta, azul; quinta, rosa; sexta, roxo; sábado, marrom, além dos mais diversos penteados.

Muitas vezes ficava triste por estar na clínica e não na fazenda, mas ela entrava e tudo mudava, era como se eu fosse do inferno ao paraíso em segundos. Esse era o efeito que Sophie tinha sobre mim.

Depois de uma significante melhora, ela conseguiu a permissão para eu sair ao jardim, isso me ajudava muito, principalmente, em meu convívio social, que era bem limitado. Quando falam de uma clínica de reabilitação, só pensam em loucos ou pessoas ruins, entretanto existem muitas histórias... por trás dessa capa de pessoas loucas, atribuída pela sociedade de modo geral, existem pessoas boas que se meteram em lugares errados. No jardim, podia ver as flores e as árvores e me sentir vivo. A primavera era o melhor momento, tudo ficava cheio de flores e as árvores maravilhosas e algumas ainda possuíam frutos.

A clínica se localizava longe do centro da cidade e a torre Eiffel – conhecida como uma das melhores atrações francesas - era no centro. Porém do meu quarto podia ver uma pontinha do grande monumento, era muito bom saber que só estava a alguns quilômetros dela e quem sabe um dia poderia vê-la por inteiro... eu abriria os braços e sentiria o vento bater em meu rosto com liberdade.

Depois de longos nove anos, finalmente estava recuperado e podia voltar para fazenda e finalmente viver minha vida adulta. Nessa nova vida teria que abandonar Sophie, mas não queria, não podia...

Entro no quarto, alcanço meu celular em cima da escrivaninha carregando. Disco o número da minha loirinha e depois de longos quatro toques, escuto sua doce voz:

- Alô, quem fala?

- Sou eu, doutora. – espero muito que ela reconheça minha voz.

- Ares? É você? – pergunta eufórica.

- Eu mesmo, como está doutora? Sentiu minha falta? – deito na cama e fico sorrindo olhando para o teto.

- A sua doutora... está muito bem e eu senti muito a sua falta. – sento na cama rapidamente ao ouvi-la dizer ser minha.

- Não brinque com fogo, minha doutora, pois você pode se queimar... – falo com um sorriso malicioso. – O que está fazendo nesse momento, além de conversar comigo?

- Ai ai Ares, estou doidinha para te ver e nesse momento estou sentada em minha cama usando um robe vermelho e em uma das mãos seguro uma taça de vinho branco.

- Você está muito atrevida, querida! Preciso te ensinar a ser uma boa menina. - solto uma risada rouca e volto a me deitar na cama.

- Chega, senhor Ares! Temos que nos encontrar! Quando podemos fazer isso? – questiona calma.

- Você poderia vir passar as férias aqui na fazenda, o que acha?

- Então ficamos combinado! Segunda libera minhas férias, pois adiantei e te encontro no aeroporto.

- Nossa, que rápido! Tudo bem! Nos vemos na segunda, doutora. – sorrio para o celular.

- Nos vemos logo, meu lindo paciente!

Quebra do tempo

Finalmente chegou segunda-feira e o meu final de semana foi baseado em preparar a fazenda para a chegada de Sophie, envolvendo a explicação para a família que não tínhamos nada e ela só viria para passar as férias aqui. Que o que o que sentíamos era um enorme carinho somente, para eles era só carinho, mas na verdade era amor. Arrumei um quarto de hóspede com tudo de melhor incluindo flores amarelas e azuis as quais ela mais gostava.

Levanto da cama animado e vou ao banheiro fazer minha higiene e me arrumar para receber a loirinha. Saio do quarto em direção a cozinha e vejo Hades e Beatrice conversando e tomando café da manhã.

- Bom dia!! Como estão? Eu estou bem e tenho que falar com Ramón para buscar Sophie no aeroporto. – o aeroporto fica na cidade vizinha, cerca de 30 minutos. – E Beatrice, por favor, prepare um bolo para recebe-la, eu agradeço. –dou um beijo em sua cabeça e um aperto no ombro de Hades.

Saio da cozinha e corro para a casa dos funcionários para conversar com Ramón e irmos buscar Sophie e trazê-la finalmente para meu lado.

- Ramón!! Sou eu, Ares. Posso entrar? - fico na porta até ser atendido por Janette, a mulher de Ramón.

- Olá querido, o Ramón está no campo, hoje ele sai mais cedo. Gostaria de entrar? – diz ela com um sorriso encantador.

- Não precisa, o. Vou procurá-lo. Tchau, Janette, tenha um bom dia!!

Encontro Ramón no celeiro.

-Bom dia, Ramón, como vai? – dou duas batidas em seu ombro.

- Olá meu filho, vou bem e você? O que lhe traz aqui?

- Vou bem também, bom... eu queria que me levasse para o aeroporto para buscar uma amiga que está vindo passar umas férias na fazenda. –como fui para a França com 17 anos, não deu tempo de fazer minha carteira e antes não tinha interesse, pois meu pai me levava e o meu único carro era o cavalo.

- Claro, só vou avisar o Paco e podemos ir! Te encontro na entrada da casa principal daqui 10 minutos.

- Ok Ramón.

No caminho para o aeroporto minha ansiedade aumenta, quero ver Sophie, senti-la em meus braços, não vejo a hora de reencontrá-la.

Nunca vou te deixarOnde histórias criam vida. Descubra agora