Capítulo XLV

1.6K 71 0
                                    

Perséfone

Cresci rodeada de muito carinho de uma grande família de cinco pessoas, meus pais e dois irmãos. Mas quando meu pai morreu, tudo se desestabilizou: Hades se envolveu com álcool e só isso o acalmava; Ares começou a mexer com drogas, tendo que ir para a França realizar um tratamento. E eu, bem... desenvolvi ansiedade, uma forte ansiedade.

Sempre sonhei em ter um relacionamento saudável e duradouro como presenciei em minha casa. Meus pais foram muito apaixonados e viver esse tipo de amor era um sonho. Era uma menina sonhadora e apaixonada pela vida, sempre amando acordar cedo e ir ao estábulo para cavalgar e cuidar dos cavalos.

Quando meu pai morreu, minha vida tinha perdido o sentido, não havia vontade de fazer nada, tudo se baseada em ficar na cama e rejeitar qualquer um que quisesse entrar. Até que um dia Mamma entrou no quarto e me disse que Ares iria morar na França para se recuperar de seu vício. Essa notícia foi um choque gigantesco para apenas uma menina que havia acabado de perder o pai e agora perderia seu irmão mais próximo.

Flashback on:

- Querida...- mamma empurra a porta e entra no quarto com uma bandeja de café da manhã. –Trouxe café da manhã e preciso conversar com você. – senta na cama e coloca a bandeja em meu colo.

- Mãe... não podemos fazer isso depois? Quero ficar sozinha... por favor! – olho implorando.

- Meu bem... o assunto é muito sério! Eu sei que foi e é muito difícil perder seu pai, acredite querida, eu sei. Mas você já é uma mocinha de quase 15 anos e preciso de sua ajuda para aguentar tudo isso, porque sozinha eu não consigo e só você pode me ajudar, já que seus irmãos nem me ouvem... – começa a chorar e a acompanho. – O assunto é sobre o Ares, ele... vai se mudar para a França para se recuperar e isso foi pensado umas 300 vezes! Percebemos que é o melhor para ele e para nós. Preciso do seu apoio comigo quando vierem buscá-lo.

Não acredito que vão levá-lo, ele... é a única pessoa que consigo conversarsem toda hora pensar em papai.

- Como assim, Mamma? Não é possível, não pode ser... ele é o único que me entende... – choro por tudo e por Ares, por Papai, por minha vida se tornar um inferno.

- Meu bem, eu sei que é difícil, mas é para o bem dele. Ares está muito mal, não consegue se cuidar e na clínica terão pessoas especializadas para cuidar somente dele. – me abraça e me conforta depois de dizer essa chocante notícia.

- Tudo bem, eu vou descer e apoiar vocês, quero me despedir dele. – mamma beija minha testa dando um sorriso triste o qual eu já estava acostumada depois da morte de papai e sai do meu quarto.

Observo minha janela e me sinto incompleta, antes essa casa era rodeada de felicidade e nossa família sempre estava unida e agora tudo acabou, simplesmente se foi...

Quando chego na sala, vejo Mamma sentada na antiga poltrona de papai pensativa. Sento ao seu lado e a abraço.

- Ele sabe? – não a olho, mesmo já sabendo a resposta prefiro não acreditar.

- Não... ele não aceitaria, mas infelizmente terá que ser desse jeito, é o melhor... – me puxa para sentar em seu colo e por um momento me permito voltar a ser um bebê.

- Mamma... eu vou sentir saudades dele, ele é a única pessoa que me entende, ele não pode me abandonar... – Ares, mesmo ruim, sempre esteve ao meu lado e me afastar do meu irmão será um pesadelo.

Depois de muito chorar no colo de Mamma os homens da clínica entraram, subiram a escada, pegaram Ares. Ouço seu grito e choro questionando o porquê daquilo e meu coração se despedaça. Mamma me acolhe em seus braços, mas sinto sua dor e sei que a mesma tenta disfarçar, porém não conseguimos. Para ela não deve ser nada fácil, ao mesmo tempo que perdeu o marido vai perder os filhos para vícios e doenças...

Vou para o lado de Ares e consegui sentir seu medo, sinto sua angústia, não quero que ele se vá, preciso dele.

- Vai ficar tudo bem, eu te prometo... Eu te amo Ares, você sempre vai ser meu querido irmão, meu protetor e minha melhor companhia.

Apesar de ser a irmã mais nova, sempre apoiei muito Ares, mas quando ele se envolveu com as drogas não pude ficar de seu lado. Quando ele estava drogado, ficava irreconhecível e ninguém podia se aproximar, mas sabia que por trás da máscara que ele criou, existia um menino machucado, e o melhor era ele se tratar. Sempre fomos muito unidos, graças a pequena diferença de idade e vê-lo assim me machuca demais.

- Eu também te amo, amorinha. Prometo voltar, maninha. Cuide da Mamma por mim, ok? E cuide de Hades também, ele é um cabeça dura.

Logo depois, os enfermeiros o levaram e daí sim tudo desmoronou... meu irmão, meu confidente, meu apoio havia ido embora e sem data para a sua volta.

Flashback off.

Com o tempo, minha ansiedade foi agravando e nada me fazia melhorar, não sorria mais, tudo era cinza para mim. A casa se transformou em um velório, as risadas que antes eram muito presentes, simplesmente desapareceram, nós não éramos mais os mesmos. Até que ele apareceu depois de dois longos anos, sempre andando ao lado do meu irmão e com umas calças justas que marcavam seu lindo monumento central.

Daniel, esse era o nome do homem que roubou todos meus pensamentos. Ele tem cabelos loiros curtos e macios... imagino olhos azuis como um lago, rosto másculo com uma barba rala e um tom levemente ruivo. Seu corpo era musculoso e grande, o cara era quase um poste e eu ao seu lado parecia uma tampinha de tão baixa...

Porém havia um pequeno problema, ele era o melhor amigo do meu irmão e quando nos conhecemos eu só tinha 16 anos e ele... bom, ele tinha 25 anos, nove aninhos mais velho, quase nada.

Nos conhecemos depois de dois anos que Ares havia se mudado para a França, não me sentia bem, mas quando o vi tudo mudou.

Flashback on:

Depois de enjoar de ficar em meu quarto, decidi sair para tomar ar e poder pensar um pouco na vida. Resolvo caminhar pelo campo da fazenda, então vejo dois cavalos virem em minha direção e de longe percebo ser meu irmão.

- Perséfone, o que faz aqui? Daqui a pouco é a hora do almoço e você está longe de casa. Vamos eu te levo. – Hades desce de seu cavalo e para em minha frente, mas só reparo em seu amigo, lindo de morrer.

- Ah Hades, me deixa!!! Eu saí porque queria respirar e andar pela fazenda, ou agora eu não posso? Pelo que eu saiba essa fazenda também é minha. – me irrito, pois ele quer ocupar um lugar que não é dele, meu pai. – Quem é esse belo homem que está te acompanhando? – pergunto olhando diretamente para o loiro desconhecido e sorrio, sendo retribuída.

- Tudo bem, mas da próxima vez, nos avise que vai sair, posso te acompanhar ou mandar alguém vir junto. Esse é o Daniel, um amigo da faculdade e meu novo sócio, ele ficará boa parte da semana na fazenda e espero que o trate bem. – o homem desce do cavalo e vem me cumprimentar.

- Olá, sou Perséfone, irmã desse chato. – ouço sua risada enquanto olha para Hades que tem uma carranca no rosto, digamos que não é novidade. – É muito bem-vindo, Daniel.

- Fico feliz em conhecê-la, seu irmão fala muito de você.

Flashback off.

Depois desse episódio sempre o observava, até que era divertido deixá-lo sem graça, mas a diferença de idade atrapalhava, pois ele não correspondia minhas investidas. Isso não me abalava, nunca... com o tempo ele caiu em meus encantos. Consegui conquistar aquele loiro gostoso.

Nunca vou te deixarOnde histórias criam vida. Descubra agora