Capítulo III

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Atena

Mais um dia começando na padaria e hoje não estava muito movimentado, então resolvi ir um pouco para fora a fim de respirar. Depois de alguns minutos, escuto o sininho da porta e vou conferir, assim que chego na bancada vejo - nada mais nada menos - a mulher mais famosa da cidade, Luísa Salvatore ou a viúva fodona... não me olhem espantados, pois é o povo que a chama assim. O apelido foi graças a uma vez que ela estava visitando o festival - depois de um ano que o marido havia falecido - e uma comerciante começou a falar merda... ela simplesmente pegou uma jarra de cerveja e jogou na mulher. Acreditem, foi demais! Por isso: Viúva fodona.

- Ciao, boa tarde, como vai?? - digo com um pouco de nervosismo, afinal é a viúva fodona, quer dizer, Dona Luísa.

- Dio mio, como você cresceu raposinha! Está cada dia mais parecida com a sua mãe e essa padaria está maravilhosa, não sei como consegui ficar tanto tempo sem vir aqui. - fala com o sorriso mais branco que já vi na vida.

A mulher é um exemplo de beleza, seus cabelos soltos têm tons de preto e branco graças a idade e seus olhos são lindos. As roupas demonstram classe juntamente com sua postura e ainda há o marcante sorriso que me arrisco a dizer que vi meu reflexo.

- Dona Luísa, é muito bom vê-la! E obrigada, meu pai diz que dele eu só tenho o branco dos olhos. - comento rindo e dona Luísa me acompanha.

- Bom, eu gostaria de vários sabores de muffins e um pequeno cappuccino. Ah Atena, eu fiquei sabendo que se formou em veterinária. - diz com cara de certeza.

- Sim, formei, mas é difícil encontrar um trabalho, então até eu conseguir um emprego vou trabalhar aqui com minha família, afinal a família é tudo. - digo sincera.

- Uau, me admira uma menina com a sua idade já ter essa mentalidade, meus parabéns, querida! Falando em trabalho, acho que tenho a solução. -diz ela com os olhos brilhando. - Meu filho tem um cavalo que está doente e precisa de acompanhamento diário, então é aí que você entra.

- Está falando sério? - digo animada, e dona Luísa concorda com a cabeça. Na mesma hora eu atravesso o balcão e sem pensar a abraço. - Muito obrigada, a senhora não tem noção do quanto vai me ajudar.

- Que isso, meu bem, espero você amanhã às oito na fazenda e pare de me chamar de Dona, porque assim eu pareço uma velha, me chame de Luísa ou Madrinha. - fala pegando a embalagem com os muffins e deixando uma generosa gorjeta.

Perdemos o contato com a família Salvatore, logo depois que Hades foi estudar fora, porque dona Luísa ficou sobrecarregada com o trabalho e o marido passou por uma fase complicada na fazenda. Assim toda vez que íamos lá era apenas para ouvi-los brigar e por isso meu pai achou melhor nos afastarmos.

Papai sempre foi muito amigo de Santhiago - marido de dona Luísa - e quando o mesmo morreu, papai sentiu muito a sua falta, porque o considerava como um irmão. Não temos contato com eles faz pelo menos uns dezesseis anos... Hades foi para a faculdade com dezoito e eu tinha oito, hoje tenho vinte e quatro, então o rapaz deve ter trinta e quatro anos. Afastei até de Perséfone que era minha melhor amiga e isso é uma das coisas que mais sinto falta.

Hoje é dia de ir ao cemitério, ver minha mãe. Arrumo-me rapidamente na hora do almoço, corro para o cemitério, chego em frente ao túmulo e me sento. Minha mãe morreu nova, nunca a conheci, mas meu pai apresentou tudo sobre ela, então sempre converso com a mesma, pois acredito que, independentemente de onde esteja, acho que ela me ouve.

- Oi mamãe, você não sabe a melhor, sabe aquela sua amiga, a Luísa? Ela me ofereceu um trabalho de veterinária na sua fazenda, será para cuidar do cavalo de seu filho. Eu estou muito ansiosa, acho que finalmente encontrei meu lugar. - digo tocando em sua lápide.

- Queria que estivesse aqui, mas o papai tem me ajudado em tudo e sei que você estaria orgulhosa. Mãe... eu me sinto sozinha sabe, mas quando estou com você tudo muda, eu queria tê-la conhecido... mas chega de tristeza, agora tenho que ir, te amo. - coloco as rosas que trouxe no vaso e volto correndo para a padaria.

Nunca vou te deixarOnde histórias criam vida. Descubra agora