Família

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CONNOR



Já faziam dois meses desde a partida de Elisa, eu não consegui raciocinar direito na hora, ela apenas pegou a mala e foi.

Entendi depois de uns dias, que ela simplesmente tinha a cabeça como a da Naomi. O campo não era suficiente, a simplicidade não bastava. E claro, uma garota que veio de uma família rica, nunca estaria satisfeita com um caipira feito eu ou com um lugar desses.

Abraham e Jos perguntaram, eu simplesmente disse que o governo a tirou do programa de proteção a testemunhas, tendo em vista que ela já não corria mais riscos. A decisão final dela, foi ir embora pois sentia saudade da família.

Tentaram tocar no assunto outras vezes e eu apenas o encerrava. Não queria ouvir o nome dela por aqui. Foi uma ordem para todos continuarem com seus empregos.

Se ela não fez a porra da mínima questão, não seria lembrada, nem por mim, nem por ninguém desse lugar, ela não merecia, e eu não estava sentindo nenhum pouco a sua falta.



Me levantei cedo como sempre e fui cuidar de tudo.

A primavera chegou nos últimos dias e os peões já tinham voltado ao trabalho também.
Encontrei todos no celeiro e determinei cada tarefa, fui por minha vez olhar como estava Fúria.

O veterinário havia feito o exame de sangue e realmente, o potro era fruto de cruza entre ela e Corvo. O tempo de prenha já era de entre dez e doze meses, o tempo de parir.

A égua estava bem triste ultimamente, comia quando Corvo estava por perto e deitava para de descansar, mesmo prenha e cansada, não era normal ficar o tempo todo assim.

Ela sentia falta da Elisa, mas estava arisca outra vez, vinha sendo complicado cuidar dela nessas condições. Mesmo chamando um comprador, assim como da primeira vez, não tive coragem de vendê-la.

Dei comida e a escovei assim como o restante dos outros cavalos, ou pelo menos tentei. Esse era um daqueles dias que nem se podia passar perto, ela já guinchava e se levantava para afastar qualquer ameaça. Só queria mostrar pra ela que eu não era ameaça e muito pelo contrário, me preocupava com seu bem estar.

Cuidei dos outros afazeres, iria receber alguns gados e tinha que ficar tudo pronto o quanto antes.

Logo mais a tarde, ao fim de todo o trabalho, voltei pra casa acompanhado de Abraham. Jos havia avisado no horário de almoço que o esperaria hoje.

Ele foi o primeiro a abrir a porta e logo gritou o nome da esposa. Olhei para dentro e a vi caída no chão, ela não respondeu aos chamados dele então tive que intervir.

— Abraham, vamos levá-la para o hospital ! —

— A cidade fica longe, ela vai morrer até lá. Temos que chamar um médico —

— Até acharmos o primo de Devon, perderemos tempo, vamos logo —

Abraham vivia se queixando de dores nas costas e juntas. Até fazia piada com tal fato, dizia que: "podíamos juntar tudo e jogar fora". Mas, naquele momento foi diferente, ele esqueceu das dores e pegou a esposa nos braços, andou até minha caminhonete e entrou com ela nos bancos de trás.

Eu por outro lado, entrei na frente e dei partida pra fora dali o mais rápido que pude.

Andava tão depressa que mal via ou ouvia os raios e trovões nos céus. Essa era a última coisa de que precisava.

Meus pais sempre disseram que chuva lavava a terra, era bom para os animais, e quando controlada, em algumas épocas regavam as plantações. Porém, tempestades, traziam perda de colheita e de gente, a tempestade avisava tristeza e tormenta. Sei que podia ser apenas superstição de gente do interior, mas num momento como aquele, eu acreditei, então, daria minha vida para que Jos chegasse o mais rápido possível no hospital.

InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora