Acordo

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ELISA

Me levantei exausta como sempre enquanto ouvia a porta ser esmurrada pelo lado externo. 

— Já vai !...— Prendi meu cabelo e destranquei a fechadura. A porta foi aberta e eu empurrada.

— Você vai descer ou vai querer apanhar ? Estão todos lá embaixo te esperando !! — Brandon apertou meu rosto.

— Não tô afim —

— Você vai se casar comigo em sete dias, então faz o favor de colocar a porra do único vestido que desfaçou sua gordura e descer, torne esse segundo noivado mais agradável. E também tome um banho, porque você fede, parece que o cheiro de esterco ainda não saiu totalmente —

— Pode sair ? — Tentei normalizar a voz.

— Te dou mais meia hora —

— Estarei pronta em vinte —

— Isso aí, assim que eu gosto — Sorriu satisfeito dando tapas no meu rosto e logo saiu.

Fechei a porta novamente e suspirei. Eu queria me enterrar no buraco mais profundo que existisse.

Iria realmente me casar com Brandon na próxima semana. A todo momento me achava extremamente burra por um dia ter achado que nunca mais iria ver esse monstro, quem dirá casar e passar uma vida com ele.

Mas, eu não ligava, desde que Connor estivesse bem, eu não ligaria pra nada. A única coisa que machucava mais que Brandon, era a saudade e a solidão que sentia sem aquele peão do meu lado. Eu tentava não me entregar à tristeza, mas estava sendo doloroso cada dia sem ele.

No início eu via nossas fotos e me trazia algum conforto, mas Brandon me pegou fazendo isso e tomou o celular, disse que eu não o veria por um bom tempo. E o que me sobrou é a tristeza de tentar esquecer Connor de vez. Ou apenas, acabar com tudo.

O que passa pela minha cabeça, fará eu me libertar de uma vez por todas, sabendo que Brandon não teria mais motivos para ir atrás dele.

Nesses últimos dias, eu tentei até ser como minha sogra, fingir que nada acontecia ao meu redor. Tentei enxergar um homem além de sua toxidade e amá-lo, ou pelo menos suportar, mas era inegável que o meu nível de desprezo por ele já estava mais que elevado, seus toques me davam náuseas e sua violência me fazia pensar em maneiras de matá-lo.

Bufei afastando meus pensamentos e fui para o banheiro. Quando voltei, coloquei um dos vestidos mais bonitos que havia trazido da fazenda, o mesmo que David amava. Se meu futuro marido tentasse qualquer coisa, hoje mesmo, eu executaria meu plano.

Calcei o par de botas que ganhei há um tempo atrás e depois de maquiada, penteei meu cabelo e peguei o único chapéu que havia trazido da fazenda.

Sorri me lembrando de quando dormi com Connor pela primeira vez, eu estava exatamente como naquela noite.

— Ah, Cowboy...que falta eu sinto de você — Fechei os olhos suspirando e fui até a porta enquanto colocava meu chapéu.

Ao puxar a maçaneta, vi Aiden parado com o braço levantado, ele com certeza havia vindo me chamar.


— Senhora ? — Me olhou de cima para baixo.

— O'Que ? Está feio ? — Coloquei a mão na cintura.

— Não, pelo contrário, está linda. Mas, não acha que ele vai acabar te machucando ? —

— Hoje, essa é a intenção — Sorri.

— A senhora não anda bem, tome cuidado, pode acabar se arrependendo disso —

— Como eu já disse, a minha intenção hoje, não é acabar bem — Abracei ele rapidamente. — Agradeço muito a você e as meninas, são muito gentis — Passei por ele e desci as escadas.

Fui tranquilamente até o jardim e atraí olhares, muitos eram de surpresa e outros de reprovação.

Sorri cumprimentando quem se aproximou e logo minha sogra se aproximou com um sorriso tão falso quanto a honestidade de sua família.

— Que roupa é essa ? — Perguntou entre dentes. — Cadê o vestido que escolhemos ? —

— Cala a boca, megera — Apertei um abraço rápido e me afastei dela.

Ia pegar uma taça da bandeja que um dos garçons contratados serviam, mas, fui impedida.

— Que porra é essa ? — Brandon segurava meu pulso com força.

— Cuidado, vai estragar sua imagem — Sorri debochada.

— O que pensa que está fazendo, sua vagabunda ? —

— Eu disse que não facilitaria pra você, não disse ? —

— O nosso trato acaba hoje, entendeu ? Quando isso aqui terminar, você vai subir e me esperar na porra do meu quarto, se prepare, por que eu não vou deixar nada melhor ou prazeroso —

— Nada nunca foi prazeroso com você ! Nunca nem me fez gozar... — Sorri me soltando dele e fui cumprimentar mais algumas pessoas.

O trato a que ele se referia era de não fazermos nada até o casamento. Eu havia inventado que estava com um sério problema transmissível e ele iria pegar aquilo.

Continuei sendo tratada como lixo, mas ele me deu até o casamento para terminar o "tratamento" que eu também inventei que já estava fazendo e precisava dar continuidade num hospital daqui.

Eu dei graças a Deus, dele não ter inventado de ir comigo a qualquer lugar que fosse. Então, sempre que dizia estar indo ao hospital, eu realmente entrava, esperava algum tempo e saía. Já deviam me achar problemática naquele hospital, mas eu sabia que Brandon havia colocado gente para me vigiar. Ele não correria riscos.

No dia que soltei a mentira, ele já estava em cima do meu corpo, pronto pra fazer oque bem entendesse, essa foi a única coisa plausível no momento pra ele não fazer aquilo, e agradeci aos céus pelo homem ser tão burro de nem ter pensado em camisinha no momento.

Quando ele me olhou com nojo e se levantou pronto para tomar um banho só por ter me tocado, eu tive a ideia do trato e o lancei pra continuar distante, ele aceitou e desde então tenho escapado até de seus beijos asquerosos.

E não seria agora que ele teria o prazer de me tocar, não mesmo. Hoje eu acabarei com tudo.

Tentei beber um pouco, mas, por querer estar sóbria, nada me desceu. Gostaria de deixar claro que não fiz nada por vícios ou abstinência, Nova York tinha que saber quem era Brandon, e eu iria fazer isso de uma vez por todas.




Meu futuro marido já tinha me pedido em casamento na frente de todos e tínhamos trocado alianças. As peças eram bonitas e muito caras, com toda certeza. Mas, eu não as via com bons olhos.

Alguns convidados já começavam a ir embora, então esse era o momento perfeito.

Entrei na luxuosa casa e passei no escritório de Brandon, peguei papel e caneta tratando logo de subir para o meu quarto.
Tranquei a porta e mais que depressa me sentei procurando as palavras certas para uma despedida que esclarecesse meus reais motivos.

InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora