Capítulo 1

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ARABELLA MANCCINI

— Você a matou!

Encaro meu pai sem saber o que dizer, eu não fiz de propósito.

— VOCÊ A MATOU! — brada. — Você matou sua mãe e irmão. — Então ele se vira para mim, segurando-me pelos ombros. — Sua maldita, maldita, maldita. — Papai chora de uma forma que eu nunca o vi chorar, nem sabia que meu pai tinha capacidade para isso. O aperto em meu ombro piora, além de estar chorando devido à situação, começo a chorar porque meus ombros queimam de dor pelo seu aperto.

— Me solta, papai, está me machucando. — digo em meio às lágrimas. — Eu sinto muito... Eu... — soluço, respirando fundo. — Sinto muito...

— Você sente? — grita. — Você sente muito? — balança meus ombros para frente e para trás.

O aperto se intensifica, estamos chorando, ofegantes e quase enlouquecidos, quando ele me solta bruscamente, fazendo-me cair no chão e bater a cabeça na quina da mesa de centro. Sinto uma dor aguda na cabeça e imediatamente fico tonta; com doze anos, meu corpo ainda é franzino. Passo a mão na cabeça perto do pescoço onde bati e percebo que há sangue. Olho chocada para a minha mão sem saber o que fazer, meu pai sorri quando vê o vermelho na minha mão, encarando mais uma vez o jardim da mamãe, ele diz:

— Do fundo do meu coração, espero que você também morra. Ninguém sentirá sua falta, a única que se importava com você era a sua mãe, e ela não está mais aqui.

Dias atrás...

— Dá para mudar essa cara, Arabella? — pergunta mamãe, dirigindo o carro até o teatro.

— Eu só tenho essa, mãezinha. — respondo mal-humorada.

— Não faça isso, Bella, a Verônica é nossa convidada, ela tem o direito de escolher para onde iremos.

Mamãe me chamou para sair com a sua melhor amiga e sua filha, que tem a mesma idade que eu. Cristina, minha mãe, e dona Laura Sanches, esposa do acionista da empresa do meu pai, ficaram amigas desde que se conheceram em uma reunião de negócios dada pelo meu pai. Mas aí que está, elas eram amigas, eu e Verônica, sua filha, não. Não sei por quê, só não nos gostávamos, não havia um motivo exato para que isso acontecesse.

— Se quiser, Cris, podemos ir ao cinema como a Bella quer. — diz a dona Laura, mãe da Verônica, do banco de trás do carro.

— Não, Laura. A Arabella tem que aprender que nem tudo é como ela quer. Eu pedi que a Verônica escolhesse para onde iríamos, e é para o teatro que vamos. — Mamãe diz, fazendo-me revirar os olhos.

A verdade é que eu nunca gostei da Verônica, estudamos no mesmo colégio e o grupinho dela não se dá bem com o meu, enfim, coisas de adolescentes. No colégio, eu posso ficar longe dela, mas como nossas mães são amigas,  não tenho opção a não ser estar num carro trancado com as três indo para o teatro.

— Eu te amo, mamãe, mas às vezes a senhora é muito chata.

— Chata por querer educá-la? Por que os filhos só dão valor aos pais quando morremos? — Minha mãe murmura, sendo dramática.

— Quanto drama, mãe.

— Drama? — ela diz, desviando rapidamente o olhar da pista para mim. — Acha que estou fazendo drama? Arabella, você tem tudo, eu e seu pai te damos absolutamente tudo e você só reclama, meu amor. — Ao mesmo tempo que mamãe é dura, ela é doce. — Ainda bem que você vai ter um irmão, vamos ver se assim deixa de ser tão rebelde.

Só quero você (nova versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora