Capítulo 7

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GUSTAVO ABREU

— Ela me tira do sério! — murmuro para mim mesmo, quando estou perto de chegar em casa.

Nunca imaginei que a mulher que esbarrei na balada pudesse ser tão linda e tão insuportável ao mesmo tempo. E tenho quase certeza que é a mesma garota que dançou na mesa do DJ só de lingerie no meu primeiro dia na boate.

Naquele dia que derrubei seu celular sem querer, me encantei por ela, até que abriu a boca e esse encanto morreu.

Tudo piorou depois da tragédia no bar quando ela derramou o drink que eu tinha feito em cima de mim e ainda disse que estava horrível. Essas patricinhas riquinhas são as piores, acham que podem fazer tudo que querem, na hora que querem. Nesse dia, meu chefe estava de olho em mim, viu o que aconteceu e me demitiu. Ainda teve coragem de dizer que se ela disse que o drink era horrível, é porque era. Já pensou?

E para piorar, ainda esbarrei com ela outra vez depois que fui demitido. Ou o destino queria nos juntar, ou estava de sacanagem, duas vezes no mesmo dia é demais. Não vou mentir que a encarei com todo ódio que havia dentro de mim, e olhe que não costumo odiar ou não gostar de pessoas, mas dela, eu simplesmente não me simpatizei. Deixei bem claro que não queria vê-la de novo, parece que onde ela está sempre acontece algo de ruim.

Quando dona Luiza precisou dos serviços do meu avô, dizendo que a casa onde morava atualmente tinha um jardim destruído e precisando de cuidados, eu me ofereci, já que seu Pedro estava se recuperando de um mal-estar.

Na minha vizinhança, me chamam de "faz tudo" porque eu sei de tudo um pouco, e me orgulho disso. Achei engraçado quando a Arabella — inclusive, que nome lindo — me chamou de Barbie, por ter várias profissões. Bem, a minha preferida é a de barman na boate, mas foi por causa da mesma Arabella que fez o favor e me despediram.

— Cheguei. — digo, assim que entro em casa depois que arrumei a primeira parte do jardim da casa dos Manccini. Ainda falta muita coisa, o trabalho é pesado, e ainda bem que não permiti que meu avô fosse, porque sei que ele não aguentaria.

— Oi, meu filho. — minha avó me cumprimenta assim que piso os pés em casa. Moramos numa casa humilde no bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro. A boate e a mansão dos Manccini ficam na Barra da Tijuca, então tenho que pegar ônibus até aqui quando decido não ir de moto. — Já comeu? — pergunta minha velhinha com sua preocupação de sempre.

— Sim, dona Rute, já estou alimentado. Dona Luiza é muito gentil e me serviu almoço.

— Dona Maria estive aqui, e precisa dos seus serviços. Ela comprou um guarda-roupa e precisa da sua ajuda para montá-lo.

— Ótimo, vou tomar um banho e ajudá-la.

Meus avós me criam desde os meus dez anos, quando perdi minha mãe. Ela engravidou ainda jovem, não conheço meu pai biológico, eu e minha mãe sempre moramos com meus avós até que o câncer decidiu levá-la tão precocemente. Eu dou a vida por esses dois, os amo mais do que tudo no mundo, faço de tudo para terem uma boa vida, sem tantas preocupações e dores de cabeça.

Depois do banho, passo para ver meu avô, que está no quarto. Lhe dou um beijo e pergunto como está. Graças a Deus, ele está bem melhor, mas ainda assim, assumirei todos os serviços que ele tem até que se recupere cem por cento.  Ele é aposentado, mas não consegue se livrar do trabalho.

Vou para casa da dona Maria em seguida.

***

Quando estava saindo da casa da dona Maria, que fica no final da rua, recebo uma ligação. Olho na tela do celular e fico surpresa ao ver que era meu ex-chefe, o da boate. Atendo imediatamente, vai que é ele querendo me recontratar.

Só quero você (nova versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora