Capítulo 53 - Diário encontrado

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GUSTAVO VASCONCELOS

— O que está fazendo no quarto em que a Bella dorme quando está aqui? — pergunta dona Rute da porta do quarto de hóspedes. Estou pensativo e quis vir aqui dá uma espairecida.

Tudo bem, a quem estou querendo enganar?
Estou pensando na Arabella e, estando aqui onde ela dorme, me sinto mais próximo dela.

— Já estou saindo. — digo, sem encarar minha avó.

— A quem está querendo enganar, Gustavo?

— Por favor, vovó, não comece, não agora que estou me sentindo tão... tão estranho.

— Está bem, não está mais aqui quem falou. Só não estrague tudo, filho. Todo mundo merece uma segunda chance.

Vovó sai do quarto, fechando a porta, e eu me jogo na cama. Ainda consigo sentir o cheiro dela aqui. A sensação de querer Arabella neste quarto, nesta cama e em meus braços se tornou real. Mas como? Vacilei com ela, quis dar uma de superado e mostrar que não me importava mais, e acabei me lascando. Estraguei tudo.

"Você vai ter que implorar, e de joelhos"

Ainda escuto sua voz murmurando no meu ouvido, no dia da piscina.

— Mas nunca que farei isso, nunca. — falo para mim mesmo.

Mas a quem estou querendo enganar? Se ela me pedisse para me ajoelhar aos seus pés , eu faria na mesma hora.

Não caia em tentação, Gustavo.

Minha mente clama.

Eu sei que não contei a Arabella que ela seria a madrinha de casamento do meu amigo, porque, se eu dissesse, ela nunca aceitaria. Por isso, omiti essa parte e a convidei apenas para o jantar. Eu sabia que, se contasse na frente de Cristóvão e Lorena, ela não seria capaz de negar.

E falando em casamento, preciso arrumar minhas malas. Eu e Arabella temos uma voo amanhã às 10h da manhã, e o casamento será às 17h. Ofereci a opção de ir de carro até São Paulo, mas ela disse que não aguentaria ficar horas dentro de um carro comigo sem surtar, mesmo que a viagem do Rio até São Paulo fosse curta.

Sorrio sozinho ao lembrar da sua reação, ela se faz de durona na minha frente, indiferente, mas sei que ainda me quer.

Estou deitado na cama dela, sobre os travesseiros. Minhas mãos escapam para debaixo dele quando sinto algo duro. Pego e vejo o que é.

— Um caderno?

Não sei do que se trata, mas deve ser da Arabella.
Folheio alguma folhas e vejo que é um diário. Não quero invadir a privacidade dela, mas a curiosidade é tanta que acabo abrindo a primeira folha.

— Desculpa, Arabella. Não consegui me conter.

"Nosso diário
Não sei por onde começar a escrever, Gustavo. Se começo pela situação atual ou se volto para o dia que descobri que estava grávida e corri até sua casa para te contar e você não estava. No fatídico dia que descobri que você fugiu de mim como um convarde. Por que, Gustavo? Será que seu ódio por mim era tão grande que não suportou mais viver na mesma cidade que eu? Bom, não quero escrever neste caderno só lamentações. Vamos para o que importa. Eu tive uma filha. Uma filha sua e ela se chama Melissa. Achei um nome doce e ao mesmo tempo forte, mas na maior parte  do tempo a chamamos de Mel. Ela é uma boa bebezinha. No começo fiquei apavorada. Você sabe que eu não queria ser mãe, e quando vi aquele teste positivo me desesperei. Até o nascimento eu não a queria cem por cento, mas agora, olhando para aqueles cabelinhos ralos castanhos, suas bochechas gorduchas e seus olhos verdes... Sim, ela tem os seus olhos, o que é incrível pois eu acho a cor azul uma cor dominante se tratando de olhos. Mas enfim, ainda está um azul esverdeado, mas creio que ficará verde iguais aos seus. Uma lembrança eterna de você na minha vida. Espero de coração que um dia volte para nós, por favor!"

Só quero você (nova versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora