ARABELLA MANCCINI
Anos depois...
— Esta é a Arabella Manccini... — Papai pigarreia e volta a falar, apresentando-me a uma mulher de meia-idade muito bonita, com cabelos castanhos claros e olhos azuis, um azul hipnotizante. — Minha filha. — termina de dizer, como se estivesse sendo um sacrifício para ele falar que sou sua filha.
— Muito prazer, Bella, posso chamá-la assim? — ela sorri com um semblante tão gentil que me dá agonia. Quero muito dizer a ela que não pode me chamar de Bella, que esse apelido é para os íntimos, mas apenas dou um sorriso disfarçando a confusão que está minha mente por saber que meu pai trouxe uma mulher para jantar, papai não traz mulheres para jantar.
Essa moça me puxa para um abraço apertado, abraços que não costumo receber, mas até que gostei. Sorrio porque ela não me parece uma pessoa horrível, até que meu pai abre a boca.
— Esta é a Luiza Mazza, minha namorada.
Meu sorrio morre, e ela percebe. Não é que eu esteja com ciúme do meu pai nem nada, até que demorou para que isso acontecesse, mas saber que definitivamente ele esqueceu a minha mãe e está começando a viver sua vida depois de tantos anos, mexeu comigo de um jeito que não sei explicar. E sei também que ele não está pedindo minha opinião, só está me comunicando.
Involuntariamente, meus olhos se enchem de lágrimas porque lembro da mamãe, e a culpa ordinária volta a me corroer.
Cresci com o peso da morte de três pessoas, principalmente da mamãe e do meu irmão. Me odiei por muito tempo por ser a única que saiu ilesa da situação, porque até a Verônica precisou ficar internada por algum tempo. Para piorar, o ódio que meu pai sentia por mim multiplicou. Ele me desprezou ainda mais, depois disso, passei a me virar sozinha, ele vivia para o trabalho, bebendo todos os dias, voltando bêbado, ele estava destruído. Eu o destruí quando matei o amor de sua vida, juntamente com o filho que ele sempre sonhou em ter. Já deu para perceber que eu nunca fui a filha preferida, deveria ser, já que sou a única.
Depois da sua morte, a casa ficou muito vazia. Minha mãe era a luz que iluminava esta casa, por isso uma escuridão tomou conta de tudo, inclusive das nossas vidas. Eu e meu pai continuamos a morar na mesma casa, mesmo eu implorando para nos mudarmos, porque para onde olhava eu a via, e isso me machucava demais — o jardim continua destruído — ele disse que esse era o preço que eu tinha que pagar, afinal, ele também estava pagando o dele.
Viramos duas almas vazias perambulando por aquela mansão, malmente nos falávamos e nos víamos. Foi quando ele decidiu que me colocaria no internato. Fiquei dos 13 aos 18 anos num colégio interno de janeiro à janeiro, até nas férias eu não voltava para casa. Se não fosse obrigatório retornar para casa depois que concluísse os estudos, eu ainda estaria no internato.
Ele passou a dar o sangue pela empresa, nossa rede de Hotéis Manccini, patrimônio que ele e minha mãe dirigiam. A rede de hotéis Manccini é a mais famosa do país, tínhamos hotéis espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Patrimônio que deveria ser meu um dia, mas meu pai nunca deixaria que eu herdasse, primeiro pelo rancor que sente por mim e segundo porque ele me acha desequilibrada o bastante para destruir tudo que coloco as minhas lindas mãozinhas.
Ainda mais depois que larguei a faculdade de administração. Sempre chegava atrasada nas aulas, isso quando não chegava caindo de tão bêbada. Acabei sendo expulsa da universidade depois que briguei com uma aluna — sim, eu sei, não me orgulho disso, mas ela me provocou dizendo que, se minha mãe voltasse a viver, morreria de novo, só que de desgosto.
O único jeito de herdar a rede de hotéis será me casando — de preferência com alguém escolhido por ele. Meu pai já tentou me juntar com todos os seus sócios, e o que mais me dá raiva é que todos eram mais velhos que eu. Mas velho do tipo vinte anos a mais, e eu só tenho 23 anos. O que meu pai tem na cabeça? Por acaso ele me despreza tanto que não se importa em me ver infeliz casada com alguém com o dobro da minha idade? Sim, ele me despreza nesse nível.
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Só quero você (nova versão)
RomanceArabella Manccini perdeu a mãe muito cedo, seu pai sempre a culpou pelo ocorrido, por isso, se tornou uma jovem cheia de traumas. Tudo muda quando conhece Gustavo, um jovem trabalhador e de bem com a vida, então Arabella tem uma ideia, casar com Gu...