Capítulo 48 - Velhos tempos

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ARABELLA MANCCINI

Entro no carro luxuoso do Gustavo, mal acreditando que há um tempo andávamos para cima e para baixo naquela moto dele. O Gustavo jardineiro, o Barbie profissões foi embora, dando lugar a um homem rico e com um carro enorme.

— Onde está sua moto? — pergunto, colocando o cinto de segurança, tentando puxar assunto.

— Está na garagem de casa. Uso às vezes, quando quero tomar um ar e pensar um pouco.

— Hum. — limito-me a responder.

— Qual é o endereço da escola da Mel? — ele pergunta.

— Vou deixar o endereço aqui no painel, e avisar a professora e diretora que você é o pai, caso queira buscá-la algum dia, só é falar comigo.

— Tudo bem.

Mais silêncio...

É irônico como um casal que costumava conversar sobre tudo agora mal sabe o que dizer um ao outro.

Mais silêncio...

Só que dessa vez, decido rompê-lo.

— Estranho, não? — digo de repente.

— O que é estranho?

— Já fomos casados, temos uma filha e agora não sabemos conversar. O que aconteceu conosco, Gustavo?

— Quer mesmo que eu diga? — ele para no semáforo e olha para mim, com aqueles olhos verdes inquisidores, me deixando sem jeito.

— Não, não precisa. — respiro fundo e encosto a cabeça na janela. — Só não estou acostumada a estar assim com você, tão distante.

— Apesar de tudo que está acontecendo entre nós, não quero magoar você.

— Você já magoou. Mas não se preocupe, estou tentando recolher meus pedaços, me tornarei inteira outra vez. Isso é fato! Eu sempre consigo.

Mais silêncio...

Decido ficar calada de verdade desta vez. Não posso lutar por algo sozinha. Foi assim que nosso casamento acabou: eu não poderia lutar por algo que já estava destruído. Assim como uma folha de papal amassada, que nunca será a mesma, mesmo que seja passada a ferro, um relacionamento machucado nunca será inteiro novamente. Sempre haverá desconfiança.

Finamente chegamos à escola da Melissa. Saio do carro com Gustavo, apresento-o à diretora e à professora da Mel. Digo que vamos revezar buscá-la. E quando minha filha vê o pai, corre direção dele.

— Papai! — o abraça pelas pernas, e ele a pega no colo.

— Oi, princesa. — dá um beijo em sua bochecha. — Como foi na escola hoje?

— Muito legal! — responde animada, dando um beijo no rosto do Gustavo.

Sempre sonhei com essa cena. Ver o Gustavo aqui com a gente, sendo o pai que Melissa merece. Mas em meus sonhos, eu também era feliz. Participava disso como sua esposa, não apenas como mãe de sua filha.

Respiro fundo, resignada.

— Vamos? — pergunto.

— Para onde vamos? — pergunta Melissa.

— Para a minha casa, princesa, você vai jantar lá hoje.

— A mamãe também vai? — ela pergunta.

Fico feliz por minha menina não querer me largar. Também temi que, com a presença do pai, ela me deixasse de lado. Sim, senti ciúmes antes da hora, especialmente porque ela disse "papai" antes de "mamãe". Mas somos unidas, eu e ela, desde sempre...

Só quero você (nova versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora