ARABBELA MANCCINI
— Está doendo, tira, tira, tira... por favor. — grito de dor ao ter meu mamilo sugado pela boca pequena da neném. A dor é grande, e juro que pensei no começo que não ia sentir nada.
— Eu sei que dói, Bella, mas com o tempo vai passar. — minha madrasta tenta amenizar a situação.
— Não vou aguentar esperar. — digo de olhos fechados segurando Melissa nos braços. Faz quinze dias desde que eu dei à luz, e se eu consegui amamentar dez dias foi muito.
Na primeira consulta da Melissa, a pediatra disse que ela está abaixo do peso, contei para ela a minha dificuldade para amamentar e ela passou fórmula.
— Eu seria uma péssima mãe se dissesse que não quero continuar amamentando? — pergunto a Luiza e ela me encara sem saber o que dizer. — Pode ser sincera, as pessoas vão me julgar por isso?
— Arabella, nós mães não somos perfeitas. Umas aguentam mais que outras...
— Mas eu vou ser recriminada por isso? Quem está sentindo dor ao amamentar sou eu e não eles. Não quero continuar nesse sofrimento, meus seios estão sangrando, Luiza.
— Tudo bem. — ela toca meu cabelo. — Vamos perguntar a pediatra o que podemos fazer, ok?
— Ela vai me odiar?
— Quem? A pediatra?
— Não, a minha filha. — olho para ela que está deitada dormindo nos meus braços com o pouco de leite que conseguiu tomar.
— Claro que não. Você é a mãe dela, ela nunca te odiaria.
— Espero que não. Sei o que é conviver com o ódio de alguém, e não estou disposta a continuar convivendo.
— Me dá a minha netinha aqui. — pega a bebê dos meus braços para colocar no berço. — Mandei uma foto dela para o André... — diz acomodando-a no bercinho. — Ele te desejou parabéns.
Não respondo, o que eu diria? "Obrigada, ex-namorado, que eu deixei bem claro na época que nunca me casaria e seria mãe".
— Ele disse que a Melzinha é linda e se parece como você.
Viro de lado na cama sem dizer uma palavra e fecho os olhos para tentar dormir. Desde que Melissa nasceu, Luiza passa a maior parte do tempo aqui em casa, incluindo dormir comigo. Meu pai está possesso com isso, mas está mansinho porque sabe que a qualquer momento ela pode pedir o divórcio outra vez.
Falando nele, seu Fernando não veio visitar a neta uma única vez. Aliás, neta não, não sou sua filha verdadeira, então...
— Vai dormir?
— Estou cansada. — digo de olhos fechados. É o que mais tenho dito nesses últimos dias.
— Já que a Mel dormiu também, vou deixar as duas descansando e dar um pulinho em casa, tudo bem?
— Tudo ótimo. Não quero prendê-la.
— Sabe que é um prazer cuidar das duas. Faço de coração. Bom, estou indo, qualquer coisa me liga. Beijos, querida.
— Tchau.
Depois que Luiza foi embora, consigo cochilar alguns minutos ou horas, não sei dizer ao certo. Acordo com o choro estridente da bebê, levanto-me assustada e a pego do berço. Ela não para de chorar, o que me deixa angustiada. Imediatamente sei que é fome. Arrisco colocá-la uma última vez no peito, mas não aguento na primeira sugada. A tiro do meu seio porque está muito machucado, e ela volta a chorar. Tento acalmá-la enquanto vou para a cozinha, preparar a fórmula que vou dar a ela.
— Calma, bebê. Vai ficar tudo bem, eu sou sua mãe e estou aqui.
Mas ela grita ainda mais.
Olho sua fralda e está totalmente seca.
— Sei que você está está com fome, porque eu também estou.
Meu seio começa molhar o sutiã enquanto estou preparando a mamadeira para Melissa. Não vai dar tempo de tirar com a bomba e dar para ela como a doutora me ensinou também. Por isso vai de fórmula mesmo. Depois que termino, volto para o quarto e pego a almofada de amamentação, sento-me na cama tentando equilibrar, uma bebê, mamadeira e almofada. Mas depois que faço isso, imediatamente dou a mamadeira para ela que é instantâneo, para de chorar.
Mas aí quem começa a chorar sou eu.
De frustração. De me sentir insuficiente para esse serzinho que saiu de mim. De mesmo com toda ajuda e apoio de Luiza e Fabiana, eu ainda me sentir sozinha. Odeio o Gustavo por isso, por mesmo tentando procurá-lo como uma louca, o teimoso está incomunicável. O odeio por me deixar sozinha criando um bebê que não é só meu, mesmo que ele não saiba de sua existência. E eu o odeio ainda mais porque mesmo depois de todo esse tempo, eu não deixei nenhum segundo de amá-lo. Ódio e amor vivem lado a lado na minha vida.
Será que um dia vou esquecê-lo como ele me esqueceu? Será que um dia conseguirei seguir em frente com a Melissa e deixar todo passado e frustração para trás?
— Prometo, minha filha, que seremos eu e você contra o mundo. Perdão se não sinto que sou o suficiente para você ou que não cuido de você como uma mãe deveria, eu juro... juro que estou me esforçando. — fungo, deixando uma lágrima cair em sua roupinha. — Perdão por estar chorando agora, juro que estou tentando me controlar, mas está sendo difícil. Eu nunca quis ser mãe, Melissa, mas te dou a minha palavra que tentarei ser a melhor mãe do mundo para você. Você é a única coisa que tenho nessa vida e não posso te perder. — respiro fundo, tentando controlar o choro, cheiro sua cabecinha e o cheiro é tão bom de sabonete de neném que me acalma.
Assim que Melissa dorme depois de mamar todo o leite da fórmula. Pego a bomba para tirar leite do meu peito e armazenar. Depois sinto um alívio descomunal. Tomo um banho e espero Luiza voltar, ela me mandou mensagem dizendo que volta depois do jantar e que trará uma marmita para mim.
Deixo um riso escapar, sei nem cozinhar direito e agora sou mãe, como a vida é cheia de ironias. Desligo o chuveiro, me enrolo no roupão e pego uma toalha para secar o cabelo que fazia um tempo que não lavava.Entro no quarto e graças ao bom pai, Melissa segue dormindo. Olho para escrivaninha que tem no quarto e vejo um caderno que uso para fazer anotações aleatórias de livros que costumo ler e imediatamente tenho uma ideia. Sempre converso com minha terapeuta e ela me aconselhou a escrever no diário como forma de desabafo, mas sempre achei uma ideia super idiota.
Mas não agora.
Pego o caderno, procuro uma caneta e sento na cama, tentando fazer o máximo de silêncio para não acordar minha filha que está dormindo no berço ao lado da minha cama.
Eu fiz um quarto para ela com suas coisinhas, mas ela vai dormir comigo até quando quiser dormir. Depois eu me viro para tirar esse costume dela.— Bom, o que eu vou escrever? — cochicho para mim mesma. — Já sei, vou escrever para você Gustavo, para que saiba o que está acontecendo nesse tempo que você decidiu fugir de mim.
"Nosso diário
Não sei por onde começar a escrever, Gustavo. Se começo pela situação atual ou se volto para o dia que descobri que estava grávida e corri até sua casa para te contar e você não estava. No fatídico dia que descobrir que você fugiu de mim como um convarde. Por que, Gustavo? Será que seu ódio por mim era tão grande que não suportou mais viver na mesma cidade que eu? Bom, não quero escrever neste caderno só lamentações. Vamos para o que importa. Eu tive uma filha. Uma filha sua e ela se chama Melissa. Achei um nome doce e ao mesmo tempo forte, mas na maior parte do tempo a chamamos de Mel. Ela é uma boa bebezinha. No começo fiquei apavorada. Você sabe que eu não queria ser mãe, e quando vi aquele teste positivo me desesperei. Até o nascimento eu não a queria cem por cento, mas agora, olhando para aqueles cabelinhos ralos castanhos, suas bochechas gorduchas e seus olhos verdes... Sim, ela tem os seus olhos, o que é incrível pois eu acho a cor azul uma cor dominante se tratando de olhos. Mas enfim, ainda está um azul esverdeado, mas creio que ficará verde iguais aos seus. Uma lembrança eterna de você na minha vida. Espero de coração que um dia volte para nós, por favor!"Fecho o caderno e guardo no fundo da gaveta da escrivaninha, é quando Melissa acorda mais graças a Deus, foi a hora que minha madrasta retorna toda empolgada e com o meu jantar.
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Só quero você (nova versão)
Roman d'amourArabella Manccini perdeu a mãe muito cedo, seu pai sempre a culpou pelo ocorrido, por isso, se tornou uma jovem cheia de traumas. Tudo muda quando conhece Gustavo, um jovem trabalhador e de bem com a vida, então Arabella tem uma ideia, casar com Gu...