Prólogo

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Olho para a mesa de centro onde está a flor que ele me deu, mesmo eu falando que não tinha talento algum para cuidar de flores. Mesmo assim, ele me presentou e disse: "Se você deixar essa flor morrer, o nosso amor morrerá também". Óbvio que ele disse isso brincando, não levando a sério suas próprias palavras, porém, eu fiquei assustada. Palavras têm poder, e é por causa desse poder que  estou encarando a flor de crisântemos, com suas pétalas totalmente secas. Ela está morta, assim como o nosso amor.

— Eu não acredito! Uma pessoa que tem coragem de fazer isso com outra não tem coração. Você, Arabella Manccini, não tem coração. — Ele diz, olhando no fundo dos meus olhos. Suas pupilas estão tão dilatadas, mostrando a dor e a raiva em sua alma, que eu me encolho com suas palavras. Abraço meu próprio corpo enquanto ele se afasta completamente de mim.

Após dizer essas coisas que me machucam demais, ele vai para o quarto, o nosso quarto, o quarto em que fizemos amor pela primeira vez, o quarto onde ele está agora arrumando suas coisas, jogando tudo em sacolas de plástico. Eu sabia que isso ia acontecer, só não queria acreditar. Eu sabia que estragaria tudo. Tenho medo de perguntar o que  está fazendo, mesmo sendo óbvio: ele está indo embora.

— Para onde você vai? — tomo coragem e pergunto. Percebo que ele só havia pegado algumas roupas do armário.

— Vou embora daqui. — diz frio e seco, de costas para mim, saindo do nosso quarto e indo para a sala, segurando as sacolas, uma de cada lado.

Vou atrás dele, puxo-o pela camisa, o que faz com que pare de andar, mas ainda assim ele não se atreve a virar e me encarar. Eu preciso olhá-lo pela última vez, mesmo que seus olhos mostrem o mais puro rancor por mim da sua forma mais crua. Eu preciso olhar aqueles olhos verdes pelos quais eu aprendi a amar e a me perder todos os dias, pela última vez.

— Você não acha que está indo longe demais? Se quis me dar um susto, parabéns, conseguiu. — Tentei soar tranquila, mas, no fundo, estou totalmente apavorada.

— Você que foi longe demais. — é só o que ele responde, indo até a porta da sala e abrindo-a. Eu não quero me descontrolar, não quero me humilhar pedindo que fique, porque sei que tenho culpa nessa história. A única culpada por tudo sou eu. Mas só quero conversar, queria explicar tudo melhor, abrir meu coração de verdade.

Espero por uma resposta que não veio. Ele simplesmente abre a porta e vai embora sem olhar para trás.

E foi assim que perdi o meu marido, o homem que eu amo, o único e verdadeiro amor da minha vida. Mas para entender melhor essa história e como cheguei até aqui, precisamos voltar ao início de tudo. Não me orgulho nem um pouco do que fiz, mas todo mundo merece uma segunda chance, não é?

Só quero você (nova versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora