Capítulo 49 - Um beijo arrependido

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GUSTAVO VASCONCELOS

— Dormiu. — Arabella diz, cobrindo a Mel com a colcha. Elas estão ocupando a cama de casal do quarto de hóspedes.

Olho para aquela garotinha de quatro anos, perdi tantas coisas da vida dela. As primeiras palavras, eu nem sei o que ela falou primeiro, perdi seus primeiros passos, a primeira ida na escola. Como eu queria poder voltar no tempo e viver tudo isso. Tomado pela curiosidade, pergunto:

— Ela acorda à noite?

Arabella olha para mim surpresa, suaviza o olhar, dá um beijo na testa da menina e responde:

— Não, agora só amanhã. Ela acordava muito quando era neném, mas depois que fez três anos, dorme direto. Sorte a minha. — sorri.

— Me arrependo de não ter feito parte da vida dela desde recém-nascida.

— Você não sabia.

— Mesmo assim, me culpo por isso e vou me culpar eternamente. Se pelo menos eu tivesse atendido alguma das suas ligações, isso não teria acontecido.

Nos encaramos em silêncio por alguns segundos...

— Tem razão. — ela concorda. — Se você tivesse atendido pelo menos uma das malditas ligações que eu fiz para você, isso não teria acontecido.

Passo as mãos no rosto com raiva. Raiva de mim mesmo por ter sido tão imbecil.

— Desculpa, me perdoe, eu não queria que isso acontecesse... — vejo seu semblante mudar, de séria para um sorriso sútil nos lábios. — Eu nunca escolheria de propósito ficar longe da minha filha. — o sorriso morre.

— E em relação a nós dois? Não se arrepende?

Ah, agora entendo o porquê do seu sorriso sumir. Ela achou que estava me referindo a nós dois.

— É cedo para dizer.

— Cedo? Quatro anos é cedo para você? Porque para mim durou uma eternidade. 

Melissa se mexe ao nosso lado, fico apreensivo de ela acordar, mesmo Arabella dizendo que só acordaria amanhã.

— Preciso tomar um banho. — a mãe da minha filha se levanta da cama apressada se afastando de mim. — Pode sair do quarto para eu tomar um banho, por favor? — diz seca, apontando para porta.

— Claro! E me desculpa se falei algo que não gostou.

— Não, tudo bem. Já estou acostumada com o novo "Gustavo". — olha para mim com desprezo. — Quando sair fecha a porta. — dá as costas para mim e entra no banheiro.

Obedeço e saio do quarto fechando a porta, logo após dar um beijo na testa da minha filha.

— Oi, meu filho. — minha avó aparece de repente no corredor. — As meninas já foram dormir?

— Sim.

— Que cara é essa? — ela percebe meu olhar perdido e minha cara fechada.

— Nada. Bom, vou para o meu quarto também. — dou um beijo na testa dela. — Boa noite, vovó.

— Durma bem, querido.

Vou para o meu quarto, entro no banheiro já arrancando minhas roupas e tomo um banho demorado. Minutos depois estou sob os lençóis, virando-me de um lado para o outro completamente inquieto e sem sono.

Minha cabeça começa a voltar na conversa que tive com Arabella assim que colocamos a Melissa para dormir. A tristeza que tomou seu rosto quando disse que era cedo para dizer se eu tinha arrependimentos em relação a nós dois. A questão é que não sei o que fazer, estou perdido. Não quero voltar atrás e retomar com Arabella, mas também não sinto vontade de ficar longe dela.

Só quero você (nova versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora