04: provocações

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Lennon 📍

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Lennon 📍

Passei o fuzil para as costas escutando o barulho da corda raspar na minha corrente. Bagulho irritante pra caralho. Pra jogar a real na roda, tudo tem me irritado até coisas que não são irritantes. Turco ficou com o ego lá nas alturas, nem parece ter entendido o que aconteceu na sala. No momento que ele disse que o corpo do moleque não ia descer intacto significava que a guerra ia começar.

Soares não ia descer a favela de bom grado sem derramar sangue. E com isso dois menor foi morto. Um inocente que tava subindo a favela depois de trampar a noite inteira, teve uma bala cravada nas costas. A mídia vai dizer que foi confundido ou que foi bala perdida, tudo papo furado, a mesma história de sempre pra não mostrar a realidade da porta pra fora.

Favela chorando e a mídia sorrindo.

Abri a porta de casa vendo a Amanda sentada no sofá com as pernas cruzadas tomando um sorvete bem tranquila, enquanto assistia um programa que passava na televisão. Fique parado alguns segundos indignado que enquanto o mundo tava caindo lá fora, ela tá aqui dando risada do povo falando putaria. Em uma das gargalhadas ela quase derrubou o copo com o sorvete, só assim ela me viu parado na porta.

—Achei que tinha morrido em algum lugar, mas tu tá vivo. —Ela levantou as sobrancelhas e soltou uma risada leve. —Esse programa é muito legal, como eu não tinha visto antes...

—Por que eu taria morto? —Tirei o fuzil e o colete colocando dentro do armário. —Tá se sentindo bem à vontade.

—Já posso ir embora? —Joguei a cabeça pra trás sentindo meu pescoço travado.

—Quer comer alguma coisa? —Me levantei indo pra cozinha e me virei vendo ela vindo atrás com os olhos semicerrados.

—Não posso? —Ela cruzou os braços se escorando no balcão.

Sinceramente, eu podia tacar o foda-se e deixar ela descer, mas ainda sim tô aqui pensando se ela vê o corpo do cara lá em baixo esparramado. Não é uma parada daora, principalmente pra ela que é ex do menor. Imagina ver o corpo do cara todo estraçalhado, parada que mexe com a cabeça de qualquer um.

—Teve notícias do Carioca e da Lara? —Agradeci mentalmente por ela ter mudado de assunto.

—Não tive tempo pra ver. Pega meu celular aí e vê se ele mandou alguma coisa. —Apontei pro celular na mesa.

Peguei a frigideira pra fritar um ovo, minha larica tava alta e queria fazer algo rápido. Não sou muito de cozinhar, tô sempre na casa da mãe do Carioca que vive fazendo uma comida de tirar o fôlego. Estranhei o silêncio e olhei pra Amanda que continuou parada no mesmo lugar me encarando.

PERDIÇÃO (MORRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora