05: não abaixar a cabeça

9K 588 111
                                    

Amanda Salles 🍫

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Amanda Salles 🍫

Lennon ficou olhando de um lado para o outro durante alguns minutos, esperando que aqueles policiais saíssem ou qualquer outra coisa. Eu ainda observava lá em baixo vendo um saco preto cobrindo 3 corpos. Meu estômago não pode deixar de embrulhar. Realmente duas pessoas inocentes tiveram a vida arrancada sem nem entender. Virei meu rosto olhando para o céu piscando algumas vezes tentando manter as lágrimas nos olhos ouvindo o grito de uma mãe assim que viu o filho lá.

—Me deixa aqui, vou descendo sozinha. —Segurei o ombro do Lennon pra descer da moto. —Valeu por me trazer.

—Tem certeza que vai descer suave? Vai ser difícil pegar uber. —E eu vou fazer o quê? Passar de moto com ele instigando os policiais a meter uma bala na gente também?

—Pego um busão. Relaxa que eu me viro. —Ele balançou a cabeça concordando e pegando meu capacete.

Comecei a descer a rua, estava longe deles, mas ainda sim chamei a atenção. Talvez pela roupa mostrando que eu tava no baile. De longe vi Márcio Soares encostado atrás do camburão, tentei quase me enfiar dentro de um buraco, mas como uma águia ele bateu o olho em mim. Seu olhar me fuzilou, senti cravando na minha pele. Rapidamente ele se aproximou agarrando meu braço e me jogando pro lado onde ninguém tinha visão.

—Tá descendo só agora? —Seus olhos estava vermelhos, provavelmente cocaína rodando solta no sangue. —Meu filho tá parecendo uma peneira e tu descendo toda bonitinha. Qual foi? Por que te deixaram descer?

—Tá falando do quê? —Virei o rosto pro outro lado procurando por alguém. De repente ele agarrou meu queixo me fazendo virar pra ele, apertando fortemente. —Me solta, Soares!

—Tu sabe do que eu tô falando, Amanda. Teu pai me disse que tu tava com o Gabriel. Te pagaram quanto pra entregar ele e tu sair livre? —Segurei seu pulso empurrando seu braço pra longe de mim.

—Tá maluco de ficar encostando em mim? —Tal filho, tal pai. —E eu não tava com teu filho, foi só ironia a gente se encontrar aqui.

—Ironia? Tá de sacanagem sua filha da puta? —Soltei uma risada no mesmo instante. Que cara louco. —Acha que eu não vi tu em cima da moto daquele traficante?

—E isso é da tua conta, porra? Vai arrumar o funeral do teu filho e me deixa em paz. —Tentei sair, mas ele me agarrou me imprensando ainda mais contra o camburão. —É melhor tu me soltar, Soares... Ou eu faço um escândalo aqui.

Não abaixei meu olhar nem por um segundo sequer, encarei ele com a mesma intensidade. Da mesma forma quando Gabriel cresceu pra cima de mim, mesmo apanhando não abaixei a cabeça. E nunca abaixaria. Nunca na minha vida tomei um tapa de alguém antes do Gabriel e de repente ele tava tentando me sufocar e me calar. Tive que tirar forças do além pra sair viva daquele dia e nem pensei que iria sair. Mas por sorte acertei sua cabeça contra a mesa, consegui correr e passei quase 1 mês afastada do Rio de Janeiro inventando uma viagem para o meu pai.

PERDIÇÃO (MORRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora