Precisamos conversar...

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- Você me fez perder a hora – Marilia murmurou, beijando meu pescoço repetidamente até que abri os olhos. Ela sorriu e me beijou com delicadeza sobre o tapete onde havíamos passado a noite. – Não posso me atrasar hoje. Vamos ter uma teleconferência com os australianos. Finalmente vamos fechar negocio. Por favor, Maiara, seja rápida hoje. – disse ela, dando um tapinha em minha bunda e se levantando apressada, completamente nua.

Respirei fundo, e a consciência me atingiu como um meteoro flamejante.

- Não vou trabalhar hoje – sussurrei, me embrulhando na toalha que a Marilia havia deixado ali.

- Não vai? – ela perguntou, vestindo a calcinha que ela encontrou jogada sobre o sofá, junto com a camiseta, e se agachou ao meu lado, então colocou a mão em minha testa – Não está se sentindo bem?

- Na verdade, não. Nada está bem. Mas tenho que fazer o que é preciso – desviei os olhos para seus pés descalços com as unhas perfeitamente pintadas de vermelho.

- Não estou entendendo

- Precisamos nos separar por um tempo – murmurei

- O que você disse?

- Preciso do divórcio, Marilia. Vai ser só uma formalidade. Nada precisa mudar...

- Do que você está falando? É uma das suas brincadeiras? – ela interrompeu, levantando meu queixo para encara-la. seu rosto estava mais branco do que de costume.

- Não estou brincando – engoli em seco – Preciso que você assine os papéis da separação o mais rápido possível.

Ela ficou calada por um momento.

- Você está magoada porque acha que te traí com a Camila. É isso, não é? Você não acreditou em mim. Eu não traí você, Maiara, eu juro! – sussurrou, com os olhos marejados.

- Não é isso – sacudi a cabeça, desamparada – É muito mais complexo que isso. Ontem você disse que confiava em mim. Por favor, confie em mim agora. Vai ficar tudo bem.

- Você está pedindo que eu simplesmente entenda que você não me ama mais sem me dar explicação?

- Eu não disse isso! – tentei alcançar seu pescoço, mas ela recuou. Doeu. – Eu nunca disse que deixei de te amar. Eu amo você! Amo demais! Só não posso ficar casada com você nesse momento.

- Você me ama? – ela perguntou, séria, os olhos indecifráveis.

- Você sabe que sim.

- Então por que está me abandonando? – sua voz falhou.

Suspirei fechando os olhos, tentando me livrar da dor que sua mágoa causava. Foi inútil. Então decidi abrir o jogo. E, pela primeira vez na vida, ao me deparar com algo difícil, eu disse a verdade.

- Porque a Sheron exigiu. Ela tem provas de que o nosso casamento é uma farsa e entregou para o Simon. – seus olhos brilharam perigosamente, quase loucos. Continuei, mas minha voz estava fraca e trêmula, mal passava de um murmúrio. – A Sheron encontrou o jornal com o anúncio e, assim como você, ligou uma coisa a outra. Ela encontrou a fatura do meu cartão de crédito, só Deus sabe como... Eu fui uma idiota, eu sei, mas já está feito. Não se preocupa. Eu tenho um pl...

- Eu entendo – ela interrompeu, se endireitando. – Você não pode perder seu precioso dinheiro. Entre sua fortuna e eu, você escolheu a fortuna.

- O quê? Marilia, espera aí... – me levantei depressa, apertando a toalha ao redor do corpo, e a puxei pelo braço, já que ela ameaçou seguir para o quarto. – O dinheiro é a ultima coi....

- E você já tinha decidido ontem a noite, não é? – ela disse bruscamente, me encarando com olhos hostis, tão frios que me causaram arrepios. – E mesmo assim fizemos amor, como se tudo estivesse bem. Como se você fizesse um favor. Foi muito gentil da sua parte.

- Não é nada disso! Eu ainda não terminei d...

- Terminou sim. Você acabou de terminar tudo, Maiara – ela deu de ombros, com os olhos marejados. M- Não há mais nada a ser dito.

- Quer me ouvir, por favor?! Eu tenho um plano. Não podemos continuar casadas, mas podemos nos encontrar escondidas e....

- Ah, claro! – ela cuspiu, se afastando das minhas mãos. – E você vai deixar dinheiro sobre a minha cama quando for embora?

- Marilia, por favor, pare com isso. Você sempre foi racional, se escutar tudo você vai entender e me ajudar a resolver isso. Você está me condenando sem me ouvir, droga!

- Estou? Você me trocou por dinheiro. O que mais quer que eu escute, Maiara? – ela começou a andar de um lado para o outro na pequena sala. – Eu sempre soube que você queria sua fortuna, mas por um momento, por um ridículo momento, cheguei a pensar que você pudesse ser feliz apenas sendo minha.... Argh! Que estupida! – e chutou a cadeira da sala de jantar á sua frente, que caiu com um estrondo ecoante.

Paralisei, assustada, ferida com suas conclusões precipitadas. Se ela ao menos me deixasse terminar....

- Por favor, me ouça! – implorei, tentando alcança-la, mas ela recuou novamente.

- Acho que você já disse tudo que importa. Não tem mais nada que você possa dizer que eu tenha interesse em ouvir. – ela retrucou e foi para o quarto, com os braços  cerrados ao lado do corpo, e fechou a porta com força.

Comecei a bater na porta do quarto, desesperada. Aquilo não podia estar acontecendo. Marilia não podia estar pensando que eu a trocaria por grana. Simplesmente não podia.

- Marilia, abre a porta. Por favor, me deixa explicar! Estou dizendo a verdade, você tem que ouvir tudo.

A porta se abriu e por um instante me enchi de esperança, mas assim que olhei em seu rosto, os olhos vazios como um cemitério, entendi que ela não estava disposta a me ouvir. Ou a olhar para mim. Uma dor excruciante me tirou o fôlego.

Eu a perdi.

- Você prometeu ficar ao meu lado, não importa o que acontecesse. Você prometeu! – sussurrei como uma menina assustada.

- Parece que você me transformou em uma especialista em quebrar promessas – ela pegou seu blazer, jogou sobre o braço de qualquer jeito, sem jamais olhar pra mim, e marchou em direção á saída.

- Não faz isso! Olha pra mim. Fala comigo, caramba!

- Eu não fiz nada, Maiara – ela parou, se virou lentamente e me encarou. Seus olhos cintilaram, úmidos, desesperados. Ela também estava sofrendo. – Você fez.

Ela me encarou por mais um segundo ou dois antes de sair, batendo a porta da sala com tanta força que as paredes tremeram.

Despenquei no chão, sem conseguir respirar. Um soluço violento irrompeu em minha garganta, liberando meu desespero em forma de lágrimas.

Eu a perdi! Eu a perdi! Repeti incoerente e incessantemente para mim mesma. Como era que aquilo acontecera? Eu tinha dito a verdade, pelo menos parte dela, já que ela não quis me ouvir. Dizer a verdade deveria contar para alguma coisa. Dizer a verdade deveria mantê-la por perto. O que dera errado?

Eu havia imaginado que talvez precisássemos ficar separadas por um tempo, mas ela ainda me amaria. Talvez nos encontrássemos ás escondidas, como amantes, três ou sete vezes por semana, quem sabe. Mas eu a perdera. Eu a perdera por simplesmente dizer a verdade.

Naquele instante, aquele cheiro de flor invadiu o apartamento. Aos soluços, procurei em volta, tentando entender, mas não era capaz de pensar em nada além do fato de que Marilia havia me chutado. Enterrei a cabeça entre os joelhos, derramando um oceano de lágrimas. Um formigamento delicado se espalhou por minha mão direita e, por um momento louco, imaginei que vovó estava ali, segurando minha mão. Foi o suficiente para me dar forças para levantar. A raiva começou a se infiltrar sorrateiramente, e dessa vez direcionada á pessoa certa. Sequei os olhos com as costas das mãos e marchei para o quarto, disposta a tudo para recuperar o controle da minha vida.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora