Procura-se Uma Esposa

Eu te amo, Marilia Mendonça

Lá estava ela, linda como sempre rodeada de homens e mulheres, com Sharon ao seu lado gesticulando sem parar. Sharon  andava muito empolgada e sempre que tinha  chance narrava como “ vira a morte de perto”. Pela cara entediada da Marilia, ela repetia a história toda mais uma vez.

Marilia me flagrou observando-a, ou talvez estivesse comendo com os olhos, o que era bem mais provável. E sorriu sedutora, vindo em minha direção, mas poucos passos depois foi detida por um dos diretores árabes. Aquele que a ajudara a provar as falcatruas de Simon. Quase pude ouvir seu suspiro de frustração, mesmo estando a vários metros de distância.

Voltei-me para João.

- Mas me conta João, como tá seu pé? Sua irmã me disse que você anda sentindo umas pontadas.

O garoto abriu um sorriso enorme.

- Tá doendo pra cacete! A dr. Maria pediu alguns exames, mas ela acha que o inchaço entre as vértebras diminuiu e que os nervos estão se religando. Talvez em dois ou três anos eu já esteja andando por aí, então se quiser adiar o casamento pra ter mais opções.... – e deu uma piscadela.

- Cara você é um pé no saco! – ri.

- Eu sei – ele ajeitou a gola da camisa. – Todas dizem a mesma coisa.

- Maiara, o pessoal de Abdu Dhabi quer falar com você – anuncio Alessia, se desculpando com um sorriso com a família da Marilia pela interrupção.

Os olhos do João a estudaram de cima a baixo. Duas vezes.

- Nem pense nisso!

Despedi-me da família de... Da minha família e segui Alessia, tentando chegar até a Marilia. Mas, antes que eu pudesse encontra-la, para em seguida falar com os diretores árabes, minha melhor amiga no mundo apareceu bem na minha frente.

- Ah, Maih! – Isa passou os braços em minha cintura. – Você estava tão linda! Estou tão orgulhosa de você! Nem uma gota de vômito na plateia. Arrasou, garota! – e riu.

- Foi bacana? De verdade?

Ela ficou séria abruptamente.

- Foi lindo, Maih. Você não faz ideia de como estou orgulhosa. Acho que você... – seus olhos brilharam úmidos – Você cresceu.

- Já era hora, não era?

- Era sim – ela me abraçou com tanta que quase não pude respirar.

Eu também estava orgulhosa de mim e de tudo que havia conseguido, porém não conseguira sozinha. Marilia enviara á policia uma série de relatórios que comprovavam que muito dinheiro havia sido desviado para um banco na Suiça em nome de sua esposa, que aparentemente não tinha conhecimento dos negócios ruins do marido. Ela fora convidada pela policia a dar algumas explicações, mas Marilia achava que ela não teria complicações grave, já que era apenas laranja.

Camila também ficara bastante encrencada com a colaboração que dera ao plano de Simon. Ela também teria que dar explicações á policia e, principalmente, á diretoria da C&M, que estava descontente com o ocorrido e considerava demiti-la. Não me opus. Qual é? Eu ainda tinha que acertar as contas com aquela garota. Foi por isso que sugeri, sem maldade alguma, quer ela fosse remanejada para o sexto andar, sala treze, até que os diretores decidissem o que seria feito dela. O horror estampado em seu rosto enquanto deixava a sala da diretoria e se encaminhava ao sexto andar quase me  deu pena. Quase.

Já Simon estava bastante enrascado. Além de ameaça, desvio de dinheiro e supressão de documentos, havia agora a tentativa de homicídio para completar as acusações. Sharon decidiu visita-lo, grande mulher, a Sharon ficou um pouco triste ao ver o antigo amigo se comportando de maneira atípica. Simon exigia um padre para confessar seus pecados, balbuciava sem parar “ o fim está próximo” e pediu perdão para Sharon uma dúzia de vezes. Louco, foi a palavra que Sharon usou para descrevê-lo, mas eu tinha minhas duvidas. Talvez Simon tivesse mesmo enlouquecido, mas eu desconfiava de que tudo não passava de encenação, de um golpe muito inteligente para não ir para a cadeia. Sabe como é, não da para confiar em advogado.