ALMOÇO

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     Depois daquela note reveladora ( da minha parte pelo menos) decidi que Marilia e eu poderíamos ser amigas, afinal estávamos nos ajudando, era natural que nós entendemos melhor. Não que eu a quisesse louca de amores por mim ou algo do tipo, mas que mal faria se derepente nos tornassemos tão íntimas que ela não pudesse mais viver sem mim?

       Naquela manhã,  Marilia foi chamada para uma reunião com a diretoria. Parecia tensa ao subir até o nosso andar. Camila, a garota do decote, que hoje usava outro modelito nada discreto, aproveitou para se aproximar da minha mesa.

       - Estão decidindo quem vai ser o diretor da Comex. - Comentou ela. - A Marilia tem boas chances.

     - Ela é muito competente. - Eu disse desinteressada. Continuei trabalhando numa planilha super complicada e esperava não cometer erros dessa vez. O cancelamento do imenso pedido dos argentinos ainda fazia Halsey estremecer.

     - Será que ser esposa da futura herdeira desse imperio não tem nada haver com isso? - Ela sugeriu.

     Levantei os olhos, um sorriso venenoso brincava em seus lábios cheios.

     - Entendi mal ou você está insinuando que a Marilia pode ser promovida por ter se casado comigo e não pela capacidade dela?

    - E você que está dizendo... - Ela levantou as mãos, com as palmas viradas para frente, exatamente como faz um jogador de futebol depois de uma entrada maldosa que quebra a perna do adversário em dezoito pedaços.

    Levantei bruscamente. Ela recuou um passo, assustada.

      Bom!

     - Escuta só. - Comecei com a voz baixa e contida. - Caso você não tenha notado, eu sou uma simples secretária, com um salário certamente menor que o de qualquer um desse andar. Se a Marilia fosse esperta, teria ficado longe de mim.

    - Convenientemente, depois de alguns meses de casada. Você vai receber a sua fortuna e assumir os negócios da sua avó, não é? E não foi eu que inventou essa história, e o que todo mundo anda dizendo. - Ela deu de ombros. - Que Marilia deu o golpe do baú.

     Apoiei as mãos na beirada da mesa e me endireitei ligeiramente em sua direção.

    - Você está indo longe de mais, Camila. Estou avisando.

     - Eu andei observando vocês. Pra mim não existe nenhum tipo de relacionamento entre vocês duas. Não me conveseram. Na verdade, acho que esse casamento não passa de uma grande piada. Mas não se preocupe, a verdade sempre aparece. Mais cedo ou mais tarde. - Ela sorriu enquanto voltava para sua mesa.

     Claro que não consegui me concentrar em mais nada depois disso. Refleti por um bom tempo, na tentativa de descobrir quem poderia ter iniciado o boato, e me perguntei se Marilia já tinha ouvido.

    Eu a esperei no corredor, impaciente. Levou séculos para que ela aparecesse. A intecipitei assim que ela saiu do elevador.

     - Precisamos conversar. - E a peguei pelo braço, a arrastando até as escadas que ninguém nunca usava.

      - Aconteceu alguma coisa? - Ela perguntou.

     - Como foi a reunião?

     Ela sorriu, animada.

     - Os diretores marcaram um jantar para sexta-feira. Eles vão decidir quem vai ocupar a vaga de um jeito mais formal. Do jeito que sua avó costumava fazer. Estou no pareo.

     - Isso é ótimo. - Olhei ao redor para me certificar de que estávamos sozinhas. Puxei Marilia mais alguns passos, parando atrás de um pilar largo.  Não havia como sermos vistas ali. A Camila me disse uma coisa agora a pouco.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora