Advogada...

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Naquele dia, foi a Marilia que pegou carona comigo para o trabalho. Ela parecia muito satisfeita ao me ver feliz atrás do volante, apesar do constrangimento que nos dominara aquela manhã. Acordamos simultaneamente, emboladas como fio de lã. Minha cabeça estava aninhada na curva de seu pescoço, seu braço estava em meus ombros, me mantendo colada ao seu peito, e a outra mão se prendia em minha coxa, que descansava preguiçosamente sobre seus quadris.

- Bom dia – ela dissera com um longo suspiro, apertando minha coxa com vontade.

- Oi – murmurei, enroscando os dedos em seus cabelos, tocando seu pescoço com os lábios.

Um som rouco escapou da sua garganta enquanto eu me virava para envolvê-la num abraço quente e apaixonado. Meus lábios encontraram com os dela, ainda sonolenta, correspondeu com ímpeto. Quando minha língua tocou a sua, ela enrijeceu.

Marilia abriu os olhos, me soltando tão rápido como se  segurasse um ferro em brasa.

- Hã... eu... ééé – ela se sentou na cama apressada abaixando seu baby-doll  - Desculpa.

- Marilia, eu...

- Vou preparar o café. Quer um pouco? – ela se levantou sem me encarar.

- Nunca  vamos falar sobre o que realmente está... – seu corpo enrijeceu novamente. Desisti. – Tá, eu quero café.

E, claro, ela evitou contato visual por quase o dia todo, mas algo havia mudado. Eu não sabia dizer o quê nem precisar o momento, mas algo em nosso relacionamento mudara, se tornara mais denso, sólido. A Marilia também tinha percebido. Havia algo em seus olhos, uma mudança, ainda que sutil. Aquela inevitabilidade nos espreitava, e eu sabia que não poderíamos fugir por muito mais tempo. Ela também.

No almoço, me sentei com Alessia, de quem eu gostava cada vez mais, e mais algumas garotas do escritório, mas não ouvi muita coisa do que conversaram. Eu fitava Marilia do outro lado do escritório, que falava com Paulo e outras pessoas. Nossos olhares se encontraram. Ela não sorriu, mas me senti ruborizar dos pés a cabeça antes de voltar a atenção a Alessia, que me perguntara alguma coisa.

Quando voltei para minha sala, estranhei ao ver Camila á minha mesa mexendo em meu computador.

- O que você está fazendo aí? – grunhi

- O computador é da empresa Maiara. O da minha mesa travou, precisava enviar um arquivo, mas já enviei – ela se levantou rapidamente – Animada com a festa de amanhã? Sua esposa parece meio distraída...

- Camila, na boa, não estou num dos meus melhores dias e agradeceria se você não me obrigasse a chutar sua bunda hoje.

- Seus dias ainda vão piorar e muito. – ela disse sorrindo, antes de se afastar.

Bem que eu queria arrancar aquele sorriso cínico da cara dela, mas Camila já me causara muita dor de cabeça, então deixei minha fúria assassina de lado. Por culpa dela, eu vivia em estado de alerta quando via um jornal, com medo de que ela tivesse cumprido a ameaça que fizera a Marilia. O fato de eu ainda não ter encontrado nada nos jornais não significava que jamais encontraria.

Marilia havia combinado com Paulo de terminar umas pendências então pegaria carona com ele. O que foi o arranjo perfeito, já que a Isa havia marcado um jantar com sua amiga advogada para aquela noite de sexta, e eu não queria que a Marilia soubesse. Não contei a ela sobre o jantar com a Karen, pois teria que explicar tudo desde o começo e... Ok, eu não dissera toda a verdade na noite anterior, mas falara um pouco e já era um começo. Ela reagira muito bem, e me peguei pensando que, se eu lhe contasse aos poucos, com jeitinho, ela entenderia e não me odiaria por ter melado sua promoção e colocado sua carreira em risco. Ao menos não odiaria muito.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora