Marilia Mendonça

517 62 33
                                    

        Halsey continuou habilmente me torrando a paciência, e ninguém falava comigo além do necessário. Até o planeta de olhos Castanhos ( pelo menos ao que parecia) e grosseira, cujo nome não me dei ao trabalho de perguntar, se manteve distante depois de duas ou três tentativas de me abordar. Eu fugia dela assim como do relógio de ponto. O mesmo acontecia em casa, eu me esquentava pela mansão, tentando evitar qualquer encontro com a dupla dinâmica e acabei conseguindo, graça a Isa que me convidava para dormir em sua casa quase todas as noites. Magda e Saimon não me preocupavam mais.

      Duas semanas depois de começar meu martírio na M&C, Saimon deu o ar da graça durante o almoço para perguntar como eu estava se saindo.

     - Eu mal vejo você, parece que nem moramos na mesmo casa. - O que pra mim, era um alívio. - Como estão as coisas por aqui, Maiara?

     - Hmmm... - Resmunguei enquanto mordia uma batata mal cozida. - Olha em volta, Saimon todo mundo me adora, isso é o céu.

    Ela observou os rostos curiosos que nos analisavam. Halsey no outro canto do salão, parecia prestes a explodir  sem saber do que falávamos.

     - Eles podem estar com medo de você. - Ele sugeriu. - Afinal, isso tudo um dia será seu.

    - Medo. - Zombei. - Da herdeira falida? Sou mesmo assustadora.

    - Tenho uma coisa para você. - Ele colocou a mão no bolso interno do paletó.

     Meu coração disparou.

    - Uma carta?

     Ele sacudiu a cabeça.

      - É uma coisa que sua avó queria que ficasse com você. Isso está fora da herança. - Ele me entregou um saquinho de veludo azul. - Sei que não tem valor comercial, mas acho que você vai gostar.

     Arfei quando vi o relógio que a vovó nunca tirava do pulso. A pulseira delicada e um pouco desgastada.

     - Foi o primeiro bem que vovó comprou com seu próprio dinheiro. - Apontei.

       - Eu sei ela me contou. Mas não vale nada hoje em dia, sinto muito. - Ele deu de ombros.

      Pra mim valia mais que um diamante do tamanho da cabeça do Saimon, o que não era pouca coisa. Não pude evitar as lágrimas.

      - Obrigado, Saimon. - Pulei da cadeira para abraçá-lo.

      Ele pareceu sem jeito com a minha demonstração de gratidão, e deu uns tapinhas desajeitados nas minhas costas.

     - Eu só cumpro ordens, Maiara. Mas você entendeu o recado?

      Sorri.

       - Entendi! Claro que entendi. A vovó queria que alguma coisa dela ficasse comigo, para que pudesse sentir sua presen.... - Me Interrompi. Sacudi a cabeça e sorri, sentando-me novamente. - Ela quer dizer não se atrase, não é?

      Saimon assentiu.

     - Ah Halsey disse que você se atrasou todos os dias desde quando começou a trabalhar.

     - Não é bem assim. Hoje cheguei so quinze minutos atrasada, é quase o mesmo que chegar no horário. - Me defendi.

      Ela riu e sacudiu a cabeça.

     - Para os seus patrões, creio que seja mesmo. Bom, preciso ir.

      - Tá bom, obrigado por me entregar isso. - Apontei para o relógio. - E.... desculpa se tenho sido um pouco agressiva, mas é que tem tanta coisa acontecendo e..... Sei lá, não estou conseguindo lidar direito com tudo isso.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora