O verdadeiro Testamento

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Pensa! Pensa! Pensa!, comandei a mim mesma. Quem quer que fosse atrás daquela porta, certamente não ficaria muito satisfeito em encontrar duas intrusas na mansão. E eu tinha a irritante sensação de saber exatamente quem estava ali. Pensei na possibilidade de uma fuga pela janela, mas era impossível. Todas as janelas da mansão, com exceção daquela da dispensa. A única saída era pela porta da frente. Droga!

- Eu disse que não é necessário, Simon. – ouvir a voz de Sharon, alta e ressonante, me fez pular – Podemos resolver isso amanhã.

- Vou pedir para a cozinheira preparar um café. Volto num minuto, amados – Magda falou.

- Preciso lhe mostrar o relatório que recebi do escritório de Abu Dhabi – respondeu a voz entediada de Simon. – Você não pode enviar a Marilia para o outro lado do mundo sem que ela veja os relatórios. Na verdade, acho essa viagem um desperdício de tempo e dinheiro. Está no meu escritório. Só vai levar um minuto.

Quase voei porta a fora para estrangulá-lo quando o ouvi se referir ao escritório de vovó. Quase. Eu tinha problemas maiores naquele momento. Simon estava prestes a entrar no escritório e nos flagrar, e eu tinha certeza de que ele saberia exatamente o que estávamos fazendo ali.

Sharon começou a argumentar, tentando convencer Simon a tratar daquele assunto em outro momento, me dando um pouco mais de tempo. Num rompante desesperado, alcancei meu celular e comecei a fotografar os documentos, tentando captar o melhor ângulo com a pouca luminosidade que a lanterna fornecida, enquanto ainda ouvia os dois discutindo o assunto.

Onde diabos estava a Marilia?, me perguntei apavorada.

Tirei várias fotografias e agradeci por Simon ter mantido o mesmo servidor e a rede wi-fi que vovó usava. Digitei o e-mail da diretoria da M&C e apertei entrar. A mensagem ficou pesada, e a lentidão da conexão wi-fi começou a me deixar nervosa. Mais nervosa, devo dizer. Levou séculos para que o aparelho cumprisse sua função e enviasse todas as fotos, mas por fim acabou concluindo a operação com sucesso. Dobrei os documentos com pressa e enfiei o bolso fundo do meu jeans, enquanto, a Isa se mantinha imóvel como um cadáver. Agarrei a mão dela e nos posicionamos ao lado da porta. Meu coração estava na boca. Simon ficaria louco se nos visse ali. Quanto exatamente, eu  não fazia ideia. Louco o bastante para, digamos chamar a policia? Eu não estava muito a fim de descobrir.

Assim que a maçaneta girou, parei de respirar, cerrei o punho e esperei que Magda não tivesse mudado de ideia e seguido o marido. Quando a pequena fresta de luz invadiu a biblioteca, só pude ver a mão procurando o interruptor. Aproveitei minha chance. Esperei Simon enfiar a cabeça pela porta, afastei o braço e acertei a cara dele com tanta força que quase perdi o equilíbrio. Ele caiu gemendo, as luzes estavam apagadas, pulei Simon e, na pressa de fugir, por pouco não atropelei Sheron. Ela ficou tensa. O alarme começou a tocar, alto e insistente.

- Droga! – resmunguei. Eu havia do botão da biblioteca, que alertava a companhia de segurança, que por acaso também pertencia ao Conglomerado Pereira, em caso de problemas.

- Corre! – ouvi a voz grave e familiar vinda do outro lado da sala.

Meu coração disparado quase entrou em colapso ao vê-la ali, no meio daquela confusão.

- Marilia! Por que você....

- Vai, vai, vai! – ela gritou, visivelmente preocupada, me empurrando em direção á saída.

Tentei alcançar a porta da frente, para assim escapar pelo portão. Tudo bem, eu tinha que admitir, não foi meu plano mais brilhante, mas naquela hora, com aquele zumbido irritante do alarme e a surpresa de ver Marilia ali, foi tudo que me ocorreu.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora